Um flagrante revoltante reacendeu o debate sobre a impunidade nos casos de maus-tratos a animais. Câmeras de segurança registraram o momento em que uma mulher abandona uma cadela com a pata quebrada em plena calçada da Rua Atali Aguiar, na Taquara, Zona Oeste do Rio, na última terça-feira (14).
A cena, que viralizou nas redes sociais, gerou comoção e indignação entre moradores e protetores de animais, mas até agora, nenhuma punição foi aplicada à responsável. (clique para ver o vídeo)
Nas imagens, a mulher estaciona o carro, observa o entorno, retira a cadela do banco do carona e a deixa sozinha na calçada, ao lado de um muro. Em seguida, parte como se nada tivesse acontecido. A cadela, visivelmente debilitada, apresentava fratura exposta em uma das patas e infestação por carrapatos.
A protetora Sanzia Delgado, que acolheu o animal, desabafou: “Isso aqui é abandono, é maus-tratos. Essa pessoa tem que pagar. A gente quer justiça.” A cadela foi levada a uma clínica veterinária, onde passou por avaliação. Há risco de amputação da pata dianteira, e uma nova análise está marcada para esta sexta-feira (17).
Na prática, punição raramente é aplicada
Apesar da comoção pública, o caso escancara a fragilidade na aplicação da lei. O crime de maus-tratos a animais, previsto no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais, pode resultar em até cinco anos de prisão, multa e proibição da guarda de animais. No entanto, na prática, a punição raramente é aplicada com rigor.
Milhares de denúncias de maus-tratos
Segundo dados do Linha Verde, canal do Disque Denúncia voltado a crimes ambientais, foram registradas 6.896 denúncias de maus-tratos a animais no estado do Rio até outubro deste ano. Os bairros com maior número de ocorrências incluem Campo Grande, Centro, Jacarepaguá, Realengo, Guaratiba e Santa Cruz.
Casos como o da Taquara não são isolados — e a recorrência de denúncias sem desfecho judicial efetivo alimenta a sensação de impunidade. Enquanto isso, ativistas e cidadãos comuns seguem fazendo o papel que deveria ser do Estado: resgatar, cuidar e cobrar justiça.
Até quando a crueldade será ignorada? Até quando a impunidade será a regra? O abandono da cadela na Taquara é mais do que um ato isolado de crueldade — é um retrato de um sistema que ainda falha em proteger os mais vulneráveis.
