Com informações de Veja. No início do mês, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) surgiu como uma das principais estrelas de um ato realizado em Brasília em favor da anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de Janeiro. O filho Zero Um do ex-presidente chegou mais cedo, permaneceu por um bom tempo fora da área reservada às autoridades tirando fotos e abraçando apoiadores e depois subiu em um carro de som de onde fez um contundente discurso.
O parlamentar se disse outorgado a falar em nome de Jair Bolsonaro, afirmou que não era o momento de abaixar a cabeça e que, apesar de estar desanimado e cansado, havia recebido do pai a energia para permanecer lutando. “A gente tem a convicção de que se este país continuar na mão dessa quadrilha, o Brasil acaba de vez. E a gente não vai admitir isso”, disse.
Conhecido por ser o mais moderado dos Bolsonaros e pela habilidade de fazer costuras políticas nos bastidores, Flávio desde então passou a se colocar como alternativa para a disputa presidencial em meio aos percalços enfrentados pelo restante do clã familiar. O movimento incomoda aliados, gera intrigas em cadeia e ameaça comprometer o projeto da oposição de se unir em torno de uma única candidatura para enfrentar o presidente Lula em 2026.
A ascensão de Flávio no cenário político
A inclusão de Flávio na lista de presidenciáveis acontece após outros nomes da família naufragarem. Jair Bolsonaro viu a aprovação de uma anistia subir no telhado. Com a publicação do acórdão do julgamento que o condenou a 27 anos de prisão por tentativa de golpe, o futuro imediato do ex-presidente parece previsível. O filho Eduardo Bolsonaro vive há sete meses num exílio voluntário nos Estados Unidos e implodiu canais até entre setores da direita ao defender sanções econômicas ao Brasil. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ainda é considerada como opção, mas o marido prefere que ela entre na política pelo Senado. Sobrou, então, o Zero Um.
Nas últimas semanas, o senador intensificou a autocampanha, teve conversas em que sustentou a viabilidade de seu nome como candidato, o que incomodou lideranças do seu próprio partido, e desagradou figuras importantes de outras legendas que trabalham para compor uma chapa presidencial com o apoio mas sem a presença de um Bolsonaro. Lideranças de partidos de centro afirmam que o senador não tem condições de se eleger presidente e, caso insista na ideia, pode acabar favorecendo a reeleição de Lula. Aliados do governo, a propósito, torcem para a pretensão do Zero Um prosperar. Segundo eles, um possível embate entre ele e Lula seria altamente favorável ao presidente, com a exploração de temas como as denúncias de rachadinha.
Resistência dentro e fora do PL
As críticas são amparadas em dados de pesquisas que apontam um alto índice de rejeição aos filhos do ex-capitão. Um levantamento feito pelo Ipespe em setembro perguntou aos entrevistados se consideravam que os atuais candidatos ao Planalto seriam bons chefes de Estado. Flávio foi o que obteve a pior avaliação, ficando atrás do próprio irmão Eduardo e dos governadores Ronaldo Caiado (Goiás) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) — 74% opinaram que ele não seria um bom presidente.
A má performance foi confirmada inclusive pelos eleitores que se dizem de direita — 47% deles classificaram como negativa uma eventual ascensão dele ao Planalto. O Zero Um teve um desempenho ainda pior em sondagens “caseiras”. Uma pesquisa realizada pelo PL testou o nome de alguns políticos do partido, contando com o apoio declarado de Bolsonaro, num hipotético segundo turno contra Lula. O resultado é mantido em sigilo, mas sabe-se que Flávio não só perderia, como também registrou a maior rejeição.
Conflitos familiares e estratégia política
Na última semana, Flávio visitou o irmão Eduardo nos Estados Unidos com a missão de pacificar as disputas internas da família. O Zero Três vinha intensificando as críticas a aliados que pressionam para que haja logo uma definição sobre o nome que herdará o espólio do ex-presidente e ameaça ele próprio ingressar no pleito. As armas baixaram, mas não se sabe por quanto tempo. Em meio à confusão, o Centrão avisou que, se um dos irmãos insistir em compor a chapa presidencial, seja como cabeça ou mesmo como vice, seguirá sem o apoio do grupo.
O PL, por sua vez, não descarta lançar um voo solo na corrida à Presidência. A teoria é que Lula tem baixíssima chance de alcançar uma vitória no primeiro turno e que a unificação de candidaturas poderia acontecer na segunda rodada. De acordo com um importante cacique da sigla, o partido não pode abrir mão de ter um candidato e não estaria preocupado em ter o apoio das outras siglas de centro num primeiro momento. “É totalmente possível fazer uma campanha sem eles. E, aliás, prefiro que o Centrão tenha um candidato próprio”, diz esse influente parlamentar da sigla.
Tarcísio e o impasse na escolha da direita
O cenário da oposição ficou ainda mais incerto após o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), passar a dizer que será candidato à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes depois de ser alvejado pelos filhos do ex-presidente. O governador paulista é o nome de preferência do Centrão, mas os bolsonaristas ainda o veem com ressalvas e cobram gestos de mais lealdade para garantir que, se for o escolhido e eventualmente eleito presidente, não esquecerá de compromissos como um indulto ao capitão.
A insistência da família em ter alguém do clã na disputa produz variados cenários e diversas incertezas. Uma das soluções aventadas para buscar algum tipo de consenso seria uma chapa formada entre Tarcísio e um representante da família Bolsonaro como vice — mas nem essa construção é unanimidade. Além disso, outros nomes cotados na raia da direita, como os governadores Ratinho Junior (PSD), do Paraná, e Ronaldo Caiado (União Brasil), garantem que não vão abrir mão das já anunciadas intenções de concorrer ao Planalto. “Lançar um candidato da família é prerrogativa dele (Bolsonaro). Não cabe a nós discutir”, diz o governador de Goiás.
Flávio busca protagonismo e reforça imagem no Senado
Indiferente a isso, Flávio Bolsonaro montou uma agenda com apelo popular para divulgar seu nome em nível nacional. Presidente da Comissão de Segurança Pública, ele conseguiu aprovar no Senado um pacote que aumenta as penas para crimes violentos e cria mecanismos mais rígidos para o combate ao crime organizado. O senador conta com outros pequenos trunfos. Por ser filho, ele tem livre acesso a Jair Bolsonaro, que cumpre pena em regime domiciliar em sua casa em Brasília, e, por isso, atua como interlocutor e portador de mensagens do ex-presidente.
Esse privilégio ganhou uma importância maior após o STF nos últimos dias incluir Valdemar Costa Neto, o presidente do PL, em um dos inquéritos que apuram a trama golpista. Agora investigado no mesmo caso que envolve o ex-presidente, o dirigente está impedido de se encontrar ou mesmo conversar com Bolsonaro. Flávio, assim, consolida a função de porta-voz do pai, participando e negociando em nome dele a definição de quem vai representar o bolsonarismo em 2026. É uma posição de poder. Há quem aposte que é só isso que o senador pretende ao se incluir na lista de candidatos ao Planalto. A iniciativa, por enquanto, serviu apenas para provocar fissuras entre aliados, sabotar os planos dos “presidenciáveis” e gerar desentendimentos.
Com informações da fonte
https://www.a3noticias.com.br/flavio-bolsonaro-candidatura-2026/
