Barra do Corda, município maranhense a 440 km de São Luís, vive dias de inquietação e revolta. Em apenas uma semana, sete igrejas — entre católicas e evangélicas — foram invadidas e furtadas durante a madrugada, em uma sequência de crimes que escancara o desprezo pelo sagrado e a crescente fé na impunidade que assola o país.
Missas e cultos são celebrados sob tensão, com portas reforçadas e vigilância improvisada. Os relatos são chocantes: arrombamentos, móveis destruídos, dinheiro levado dos cofres e equipamentos religiosos danificados. Os criminosos agem com precisão e repetem o mesmo padrão, como se soubessem que não serão punidos. A Polícia Civil investiga os casos, mas até agora nenhum suspeito foi identificado. Não há confirmação se os ataques foram cometidos por um mesmo grupo, mas o modus operandi é idêntico.
‘Venham solteiros’: rotina de violência em Recife leva padre a apelar para que fiéis escondam alianças nas missas
Para os fiéis, o sentimento é de dor e indignação. “Não é só um prédio que foi violado, é a nossa fé, o nosso refúgio espiritual”, lamenta Dona Maria do Socorro, frequentadora de uma das igrejas atingidas.
A comunidade religiosa se vê desamparada diante de uma legislação que, segundo especialistas, já não responde à altura da gravidade desses crimes. Furtos simples, mesmo quando cometidos em locais de culto, raramente resultam em prisão — e quando há detenção, a permanência atrás das grades é breve.
A fé na impunidade
O cenário se agrava diante da política de desencarceramento promovida pelo governo federal, que busca reduzir a população carcerária com medidas alternativas à prisão. Embora a proposta tenha como objetivo combater a superlotação e promover justiça restaurativa, críticos apontam que, na prática, ela tem deixado comunidades vulneráveis à reincidência criminal.
Barra do Corda não está sozinha. Em agosto, uma igreja em Aldeias Altas foi alvo de furto com características semelhantes, e em Bom Jardim, equipamentos religiosos foram levados por criminosos. A escalada de ataques a templos religiosos no Maranhão revela uma crise que ultrapassa os limites da segurança pública — é uma afronta à liberdade religiosa e à dignidade das comunidades de fé.
Solto após juiz alegar que prever reincidência é ‘futurologia’, ladrão é preso pela 88ª vez
Clamor por justiça
Líderes religiosos e moradores cobram respostas. Querem mais do que investigações: exigem ações concretas, revisão da legislação penal e proteção efetiva aos espaços de culto.
“Não podemos aceitar que o sagrado seja tratado como alvo fácil. Isso é mais do que crime, é um atentado à alma do povo”, afirma o pastor Elias Rocha, cuja igreja foi invadida na última terça-feira.
Enquanto isso, a cidade segue em alerta. A fé resiste, mas a esperança de justiça parece cada vez mais distante.
2025-09-02 07:00:00