Com direção de Renato Carrera, “As Bruxas de Salém” estreou nesta quinta (04/09), no Teatro Casa Grande, no Leblon, com um elenco de 15 artistas, entre eles, Carmo Dalla Vecchia (reverendo Páris) e Vanessa Gerbelli (juíza Danforth). Nos bastidores, a energia já estava em 220 volts (vídeo abaixo); afinal, são 2h40 de espetáculo sem intervalo.
Para Carrera, as forças que movem a peça — dinheiro, poder político e religião — ligam 1692, ano da caça às bruxas em Salém (Massachusetts, EUA), a 1953, quando Arthur Miller escreveu o livro, e a 2025. “Hoje, num mundo marcado por tensões políticas, sociais e digitais, a trama mostra como o medo e a histeria coletiva podem ser usados para justificar perseguições, silenciar vozes e destruir reputações. É uma crítica atemporal aos mecanismos de repressão social e política, por mostrar como sociedades podem se voltar contra seus próprios cidadãos em momentos de crise e também uma reflexão sobre a coragem individual diante da opressão”, diz o diretor.
Inspirada em um episódio real de fanatismo religioso, boatos, medo e disputas sociais, a peça revisita os julgamentos que, no século XVII, acusaram 200 pessoas de feitiçaria e levaram 20 à morte. Nesta versão, o público é chamado a julgar.
Carmo Dalla Vecchia milita até em silêncio. Depois do espetáculo – teve espumante e canapés -, vestia uma camisa com a imagem da deputada Erika Hilton, que atua principalmente nos direitos das pessoas negras e LGBT+, causas que o ator também aprecia. “Através das mídias, é bizarro como isso pode acontecer ainda mais do que naquela época. Muitos crimes acontecem pelas fake news, informações distorcidas. E eu também acabei me tornando uma pessoa que dá voz à causa LGBT+”, diz ele, que é casado, há anos, com o autor João Emanuel Carneiro. Carmo se prepara para estrear o monólogo “Alma debruçada na janela”, criado a partir de histórias LGBT+, além de participar de seminários sobre o tema.
Em cena, os figurinos de Biza Viana e Dani Ornellas criam contraste entre acusadores e acusados. A encenação inclui projeções filmadas em tempo real, música ao vivo de Gustavo Benjão e um cenário subterrâneo que intensifica a sensação de clausura e tensão permanente.