Os moradores do Jardim Bangu e de Catiri, na Zona Oeste do Rio, vivem há pelo menos dois anos sob tiroteios constantes. O cenário de conflitos, que se agravou desde setembro do ano passado, tem como pano de fundo a disputa pelo controle de territórios entre a milícia e o Comando Vermelho (CV). A guerra, que espalha pânico entre os moradores, faz parte de um movimento expansionista da facção, que tenta formar um “cinturão” ao redor do Complexo de Gericinó, conglomerado de 22 unidades prisionais também localizado na Zona Oeste da cidade.
- Violência: Mulher atingida por bala perdida em tiroteio entre milicianos e traficantes em Jardim Bangu tem estado de saúde estável
- Fim de jogo no Maracanã e madrugadas da Lapa: Ladrões de celular rondam o lazer do carioca
O Catiri se tornou um ponto estratégico para a formação do cinturão por ficar próxima dos presídios. No ano passado, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) produziu um relatório apontando o movimento do CV em se aproximar de onde estão custodiados chefes do grupo criminoso.
— Imagina você fugir de um presídio de Bangu e já cair dentro de uma favela dominada pelo CV. Ou como ficará mais fácil construir um túnel se você já domina uma comunidade colada ao presídio — explicou um policial que não quis se identificar.
No documento produzido pela Seap, a secretaria ainda pontua que os criminosos usam as áreas próximas do complexo para práticas ilícitas, como arremesso de drogas e de celulares para dentro das prisões.
O complexo de favelas que o CV tenta montar seria composto pelas comunidades de Jardim Bangu, Catiri e Vila Kennedy, local onde a facção já atua.
Utilizando a Vila Kennedy como base para as investidas, os traficantes deixam um piloto de drone de plantão para monitorar o Catiri e identificar possíveis “brechas” nas ações da milícia. Quando surge uma oportunidade de ataque, ele aciona as equipes, e os “bondes” partem para realizar as invasões. Foi justamente durante esse monitoramento que um drone da facção flagrou um comboio de milicianos passando por uma viatura da PM, no sábado.
A filmagem mostra o momento em que ao menos sete veículos passam por uma viatura da PM, em uma esquina da comunidade. Com o uso do zoom, é possível ver quatro policiais fora do carro, observando o movimento. Ninguém foi abordado. Os carros dos suspeitos seguem e são filmados pelo drone até uma rua interna da comunidade, onde vários homens armados descem dos veículos. No domingo, o GLOBO mostrou que as facções do Rio passaram a utilizar equipamentos modernos como drones militares e armamentos pesados em disputas territoriais.
Segundo a polícia, os homens do comboio eram milicianos que atuam na região e realizavam uma “varredura” no local. Mais tarde, eles entraram em confronto com traficantes e uma moradora acabou ferida.
Tatiane Werneck, de 43 anos, foi atingida por uma bala perdida enquanto participava de uma festa julina no Jardim Bangu. No início do ano, o auxiliar de serviços gerais Francisco de Assis Ricardo de Almeida, de 40 anos, foi morto após ser confundido com um miliciano por estar vestindo uma camisa preta.
Drone flagra comboio de criminosos passando por viatura da PM no Catiri
Em nota, a PM afirmou que o coronel Marcelo Menezes tomou conhecimento do conteúdo das imagens que circulam nas redes sociais e “determinou que os policiais envolvidos na ocorrência sejam ouvidos imediatamente pela 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM)”.
A corporação também informou que o saldo operacional do batalhão nos bairros Jardim Bangu, Cancela Preta e Catiri, desde o início das disputas territoriais entre grupos rivais, “demonstra a complexidade da atuação do batalhão na região”. Segundo a PM, já foram realizadas 62 prisões e apreendidas 66 armas de fogo, sendo 23 fuzis, em menos de um ano.