Entenda a prisão de TH Joias, ex-deputado acusado de conexão com o crime organizado e com a compra e venda de drogas e armamentos

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A Polícia Federal deflagrou ontem operação para desarticular um esquema criminoso complexo: a investigação aponta conexões entre a cúpula do Comando Vermelho, políticos e agentes públicos. Um dos presos é o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva (MDB), o TH Jóias, conhecido por ter suas peças de ouro exibidas por jogadores de futebol e cantores famosos. Ele é acusado de usar o mandato para favorecer a facção, inclusive nomeando cúmplices para cargos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Também foram detidos o ex-subsecretário estadual de Defesa do Consumidor Alessandro Pitombeira Carracena, o policial federal Gustavo Stteel, que estava de plantão no Aeroporto Internacional Tom Jobim, e quatro PMs da ativa, sendo um do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
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Deputado TH Jóias é preso em Operação por ligação com facção Comando Vermelho
Dos 18 mandados de prisão, 15 foram cumpridos ontem. Agentes federais estiveram no início da manhã na casa de TH num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, mas não encontraram o deputado, o que levantou a suspeita de vazamento da operação. O político foi localizado em outro endereço. O deputado — que já tinha sido preso em 2017 sob suspeita de ligação com o tráfico — é acusado agora de favorecer o crime organizado e intermediar a compra e a venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones. Segundo o Ministério Público, ele chegou a indicar a esposa de um traficante para um cargo na Alerj. A PF não revelou detalhes das provas contra os acusados.
— O TH lucrou muito com a importação de antidrones, adquiridos em grande quantidade para o CV, o Terceiro Comando Puro e a facção Amigos dos Amigos (ADA). Quem comandava essas negociações era o Índio do Lixão (Gabriel Dias de Oliveira), mas, como não podia aparecer por ser um dos principais integrantes do CV, usava o Dudu (Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, assessor parlamentar de TH) para intermediar. Além dele, outros dois assessores na Alerj estão sendo investigados, e um terceiro já foi preso por envolvimento no tráfico de drones — informou o superintendente da PF no Rio, Fábio Galvão.
Tráfico de influência
Para o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, a investigação comprova a infiltração direta do crime organizado no parlamento fluminense:
— O deputado, eleito para representar a sociedade, colocou seu mandato a serviço da maior facção criminosa do Rio. A operação é mais uma demonstração de que não haverá blindagem para criminosos: seja o traficante armado na favela ou de terno na Assembleia, a resposta do estado será a mesma. Precisamos tirar essas pessoas de circulação porque são extremamente perigosas. Usam o cargo e o tráfico de influência para se fortalecer dentro da facção criminosa.
O procurador-geral de Justiça, Antônio José Campos Moreira, demostrou preocupação com as eleições. Ele observa que não é possível dizer que o tráfico elegeu TH Jóias, mas afirma que o parlamentar foi eleito para atender aos interesses do CV:
— As facções estão ampliando o controle sobre bairros até então tradicionais. Esse poder econômico, obtido a partir do domínio territorial, acaba revertendo, como neste caso, em poder político. É preciso frear essa expansão do poderio econômico, que é usado para comprar agentes públicos, e assim impedir que pessoas ligadas a elas cheguem ao poder.
TH também é investigado por lavagem de dinheiro. Ele seria o dono oculto de uma loja de produtos esportivos em Mato Grosso do Sul usada para movimentar o dinheiro de negócios ilegais. O deputado foi denunciado por associação para o tráfico e comércio ilegal de armas.
Braço do CV na Alerj
A mulher indicada para o cargo parlamentar e citada na investigação é a esposa de Índio do Lixão, que foi preso. Ele é apontado pelas autoridades como uma espécie de tesoureiro do CV e braço direito de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, integrante da cúpula da facção, alvo da operação de ontem, mas que não foi preso. De acordo com a PF, Índio movimentou R$ 120 milhões em cinco anos.
Já o ex-subsecretário Carracena é suspeito de receber dinheiro para vazar informações sigilosas e atender a interesses da facção por meio de seus contatos no governo. Segundo Fábio Galvão, ficou evidente a participação dele em ações para auxiliar o CV:
— Há um episódio da investigação que mostra quando uma unidade do Batalhão de Choque foi instalada na Gardênia Azul, comunidade da Zona Oeste do Rio. Essa base atrapalhava o CV. O subsecretário recebeu uma ligação do TH, depois que ele havia falado com o Índio, e fez uma ingerência para retirar o batalhão de lá. Os criminosos conseguiram se infiltrar na polícia e na Assembleia Legislativa. Isso é muito perigoso.
Carracena já teve muitos cargos na administração pública. Foi secretário de Ordem Pública da capital, na gestão de Marcelo Crivella na Prefeitura do Rio, em 2020, e secretário estadual de Esporte e Lazer do Rio, no governo de Cláudio Castro, em 2022. Titular da Secretaria estadual de Defesa do Consumidor, Gutemberg Fonseca esclareceu que Carracena ficou um ano a seu lado na pasta, e que ele pediu exoneração em janeiro para se dedicar à carreira de advogado.
— Jamais imaginei que tivesse ligação com B, C ou D. É muito técnico, profissional, estava sempre com a família. Para a gente, isso (a prisão) é uma grande surpresa.
De acordo com a PF, o tráfico também tinha o apoio de quatro policiais militares da ativa, um da reserva e um agente do Degase.
— A função deles era vazar informações. Constatamos que o policial da reserva ainda tinha acesso a bancos de dados (do governo) e repassava dados de interesse da facção. São policiais fazendo o leva e traz de interesse da facção e a escolta de traficantes e de dinheiro, de drogas e de armas — afirmou Galvão.
Cadeira na Alerj perdida
A operação de ontem reuniu duas investigações convergentes: uma cumpriu mandados expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (já que envolvia um deputado com foro), e a outra, pelo Tribunal de Justiça do Rio. A Justiça Federal também determinou o cumprimento de mandado de busca e apreensão na Alerj e o sequestro de bens e valores dos investigados, no total de R$ 40 milhões, além do afastamento dos agentes públicos de seus cargos.
Ontem mesmo TH foi expulso do MDB e, como era suplente, sua vaga na Alerj voltou a ser ocupada pelo titular, Rafael Picciani, que estava cedido para a Secretaria estadual de Esporte e Lazer. Com isso, o designer de joias deixou de ser deputado. Funcionários do gabinete de TH informaram que a defesa dele não se pronunciaria. O GLOBO não localizou a defesa dos outros citados.



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