A expansão alarmante de facções criminosas pela Amazônia exige resposta rápida das autoridades. Quase metade (44,6%) dos 772 municípios da região conta com a presença de pelo menos uma facção, crescimento de 32% em relação a 2022, segundo o último levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Ao todo, são 17 grupos ativos. Algumas organizações têm base regional, como Amigos do Estado (ADE) ou Bonde dos 40. Outras são nacionais, como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC). Também há registro de facções internacionais (Tren de Aragua e Ex-Farc Acácio Medina). As características transnacionais e híbridas do crime na Amazônia tornam imprescindível a coordenação entre governo federal e governos estaduais para enfrentar tráfico de drogas, garimpo ilegal e outras atividades criminosas.
- Editorial: Combater facções é fator crítico para preservar Amazônia
O crime tem demonstrado alto grau de sofisticação. O CV mantém hegemonia nas rotas fluviais, em especial no eixo do Rio Solimões. Conectado aos cartéis de Colômbia e Peru, escoa droga até os portos localizados em Manaus, Belém, Macapá e nas cidades paraenses de Santarém e Barcarena. O PCC adota estratégia diferente. Investe predominantemente em rotas aéreas clandestinas, fazendo uso de pistas de pouso em garimpos ilegais e unidades de conservação. As disputas territoriais e a reconfiguração de alianças regionais alimentam os índices preocupantes de homicídio. Apesar da queda recente, o Amapá segue como estado com maior taxa de assassinatos do Brasil (45 por 100 mil habitantes). O resto da região não fica muito atrás.
- Editorial: Infiltração de organizações criminosas tornou a Amazônia um polo de drogas
Pelo tamanho do território e pelos desafios logísticos, o combate ao crime na Amazônia é caro e difícil. Só em combustível, uma lancha blindada da polícia gasta R$ 7 mil para percorrer 500 quilômetros num rio da região. Nos estados do Sudeste, uma viatura policial cobre a mesma distância com menos de R$ 300 de gasolina. Em condições assim, é fundamental garantir orçamentos que permitam o aumento da presença policial. Felizmente, há experiências com resultados positivos. Um dos pontos comuns entre elas é a parceria entre os Poderes federal e estadual. Tais projetos de cooperação comprovadamente eficazes precisam receber verbas e ganhar escala maior.
Criada pelo Ministério da Justiça, a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco) foi concebida para fomentar operações coordenadas pela Polícia Federal (PF) e implementadas em parceria com policiais civis e militares. Nos estados do Norte, o trabalho de inteligência da PF e contatos com autoridades da Colômbia e do Peru também têm obtido retorno satisfatório. No Amazonas, os policiais se concentraram na detecção de lideranças e na identificação de rotas. Um dos principais desafios para a manutenção e expansão de programas bem-sucedidos como esses é a necessidade de entendimento entre o governo federal e os governos estaduais. É preciso superar as diferenças políticas nos gabinetes para que o combate ao crime organizado funcione.

