É alarmante baixa adesão à segunda dose de vacina contra a dengue

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É preocupante que crianças e adolescentes que tomaram a primeira dose da vacina contra a dengue não estejam retornando aos postos para completar o esquema recomendado. Levantamento feito pelo GLOBO mostrou que, em 13 de 15 unidades da Federação (as outras não informaram os dados), mais da metade dos vacinados ainda não tomou a segunda dose, fundamental para assegurar proteção contra a doença. Apenas o Estado do Rio de Janeiro e o Distrito Federal tiveram taxas de retorno superiores a 50% (67% e 54%, respectivamente).

Os lotes da QDenga, fabricada pela farmacêutica japonesa Takeda, começaram a chegar em 2024, em meio à maior epidemia de dengue já registrada no país. Como a fabricante não tinha capacidade para entregar toda a quantidade de que o Brasil precisava, foi preciso limitar a vacinação a grupos específicos, com base no cenário epidemiológico. Ficou estabelecido que seriam priorizados crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos que vivem nas áreas com maior incidência.

A despeito da explosão de casos e da gravidade da doença, desde o início a adesão à vacina tem ficado abaixo do esperado. No Pará, um ano depois do início da campanha, foram imunizados apenas 59.179 de 477.732 crianças e adolescentes elegíveis, apenas 12% do público-alvo. Devido à baixa procura, alguns estados, como Goiás e Santa Catarina, ampliaram a faixa etária até os 16 anos. Mas o pouco interesse permanece. O Ministério da Saúde diz ter aplicado 5,7 milhões de doses, sendo 4 milhões da primeira e apenas 1,7 milhão da segunda. A estimativa é que 9 milhões de doses sejam oferecidas neste ano.

Os números assustadores da dengue justificariam um cenário diferente. No ano passado, o Brasil registrou cerca de 6,6 milhões de casos prováveis da doença e quase 6.300 mortes, recordes históricos. São Paulo, Minas Gerais e Paraná foram os estados com maior número absoluto de notificações. Em relação ao coeficiente de incidência, o Distrito Federal ocupou o topo do ranking, com quase 10 mil casos por 100 mil habitantes.

Ministério da Saúde, estados e prefeituras têm o dever de fazer campanhas e buscas ativas para elevar os níveis de cobertura da vacinação, tanto de quem não tomou nenhuma dose quanto de quem recebeu apenas a primeira. A prioridade dada a crianças e adolescentes não é aleatória, já que se trata de grupos mais suscetíveis às formas graves. É verdade que, ao contrário do que se previa, os casos de dengue arrefeceram em 2025 (nos dois primeiros meses do ano houve redução de quase 70% em relação ao ano passado), mas a doença continua a fazer vítimas. Segundo o Ministério da Saúde, neste ano já foram registrados 1,5 milhão de casos prováveis e pelo menos 1,5 mil mortes. Não faz nenhum sentido expor crianças e adolescentes a risco se está disponível no SUS uma vacina gratuita, que, se não for usada, pode acabar indo para o lixo.



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