Problema comum pode limitar movimentos, mas diagnóstico precoce e tratamentos atuais mantêm a vida ativa
A artrose no joelho é uma das condições ortopédicas mais comuns e uma das principais causas de dor e incapacidade em pessoas com mais de 50 anos. Mas ela não é exclusividade da população idosa: pode afetar adultos mais jovens, especialmente aqueles que sofreram lesões esportivas, traumas repetitivos ou que apresentam sobrepeso. A doença ocorre quando a cartilagem que recobre as extremidades ósseas começa a se desgastar, tornando os movimentos dolorosos, rígidos e limitados.
A cartilagem é uma superfície lisa e indolor que recobre os ossos nas articulações, um protetor natural que resguarda estruturas menos tolerantes ao impacto. Na sua ausência, a energia do movimento passa a ser transmitida ao osso, o que é extremamente doloroso, gerando inflamação e perda progressiva da mobilidade. No Brasil, estima-se que mais de 15 milhões de pessoas convivam com a artrose em alguma articulação, sendo o joelho o local mais frequentemente acometido.
Do diagnóstico à mudança de estilo de vida
Os sintomas variam conforme a fase da doença. Nos estágios iniciais, é comum que a dor apareça após esforço físico, como caminhadas longas ou subir escadas, desaparecendo com o repouso. Com a evolução, os ciclos inflamatórios tendem a encurtar, de modo que a dor surge em esforços cada vez menores e, nos casos
mais avançados, até mesmo em repouso.
Inchaço, travamentos, estalos e até deformidades visíveis na articulação são outros sinais que podem surgir. Essa diferença é crucial, porque quanto mais cedo a artrose é identificada, maiores são as chances de adotar estratégias que retardem sua progressão. O diagnóstico é feito por meio de avaliação clínica, exames de imagem como radiografias e, em alguns casos, ressonância magnética para avaliar o grau de comprometimento da cartilagem.
O tratamento da artrose envolve mudanças no estilo de vida. O exercício físico sistemático, com estratégias específicas e direcionadas, aliado ao controle ponderal e da composição corporal, tende a ser uma das medidas iniciais mais impactantes. Nesse cenário, já em ambiente terapêutico, a fisioterapia enfoca a melhora da força muscular — especialmente de coxa e quadril, estabilizadores do joelho —, além de alongamentos que preservam a amplitude de movimento. O controle do peso corporal merece destaque: estudos mostram que cada quilo extra sobrecarrega em até quatro vezes a articulação do joelho durante atividades simples, como subir um degrau. Ou seja, perder 5 kg pode reduzir em até 20 kg a carga sobre a articulação.
O futuro da ortopedia no tratamento da artrose
Nos últimos anos, a ortopedia tem avançado em opções que vão além dos medicamentos tradicionais. Infiltrações com ácido hialurônico, conhecidas como viscosuplementação, ajudam a lubrificar a articulação e reduzir a dor, proporcionando alívio por meses. Outro recurso em estudo são as infiltrações com plasma rico em plaquetas (PRP), que utilizam componentes do próprio sangue do paciente para estimular a reparação dos tecidos. Pesquisas também investigam o uso de células-tronco mesenquimais, que têm potencial de regenerar a cartilagem, embora esse ainda seja um campo experimental.
Nos casos excepcionalmente graves, quando o desgaste é extenso e compromete significativamente a qualidade de vida, a cirurgia de prótese de joelho é a solução ideal. No Brasil, são realizadas mais de 70 mil cirurgias de substituição da articulação por ano, com altas taxas de sucesso. A prótese devolve mobilidade, alivia a dor e permite que o paciente retome atividades antes impossíveis. Apesar disso, deve ser utilizada em casos de exceção, na falha de todas as medidas conservadoras, em pacientes bem selecionados.
Mais do que simplesmente tratar, o grande desafio da medicina atual é preservar a qualidade de vida em longo prazo. Isso envolve direcionar o paciente a hábitos mais saudáveis, atividade física regular, controle do peso corporal e, paralelamente, investir em terapias capazes de retardar a progressão do desgaste articular.
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A artrose do joelho não deve ser encarada como uma sentença de incapacidade. Com diagnóstico precoce, estratégias preventivas bem aplicadas e acesso às novas tecnologias de tratamento, é possível conviver com a doença de forma ativa e manter a autonomia funcional por muitos anos. Sempre é possível melhorar.
Dr. Pedro Debieux Vargas Silva – CRM/SP 121.778 | RQE 73.908
Ortopedista
Fellow com enfoque em artroplastia do joelho na Universidade Claude Bernard, Lyon, FR (2011).
Membro da Brazil Health
