Diretor de Relações Institucionais da L’Oréal Brasil, Patrick Sabatier, celebra 20 anos de vida no Rio: 'O povo daqui é único'

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Era fevereiro de 1987, carnaval. Ano em que a Mangueira levou o título com um enredo em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade, e o Flamengo garantiu o tetracampeonato brasileiro — logo, foi fácil adotar os dois como escola de samba e time. Primeiro movido a negócios, depois às paixões, Patrick Sabatier, executivo do Grupo L’Oréal, fez da cidade sua casa e palco de grandes empreendimentos. Ele apostou na região do Porto Maravilha antes da revitalização, criou projetos sociais e se tornou embaixador do turismo carioca. Agora, em vias de se aposentar, celebra 20 anos de vida no Rio e garante:
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— Não sei se escolhi o Rio ou se o Rio me escolheu. É uma química. A beleza natural é única, mas o que faz a diferença são as pessoas. O francês geralmente vê o copo meio vazio. O carioca não, tem astral, positividade, resiliência. Lugar bonito tem muitos no mundo, mas o povo é único. Não tem um dia que eu não abra a janela, veja o Corcovado e não sinta uma emoção boa. Moro na Gávea, e do oitavo andar vejo macacos, pássaros, micos nos fios elétricos. Isso é Rio.
Ele nasceu em Mônaco. Mas foi de um dos lugares mais ricos do mundo para um dos mais pobres. Não que isso signifique escassez. Aos 10 anos foi morar no Haiti com os pais, que foram empreender com uma rede de hotéis no país. Ficou lá até os 18, quando viajou à França para estudar Direito, em Bordeaux, onde nasceu a paixão por vinho.
Patrick Sabatier começou a carreira profissional no Brasil, em 1987
Camila Araújo / Agência Extra
Deu sorte, segundo ele mesmo, de começar a carreira profissional no Brasil, em 1987. Foi advogado internacional para o grupo Danone, em São Paulo, e para o escritório de advocacia Machado Meira. Mas o país já ocupava seu imaginário há muito tempo.
— Meu primeiro contato foi através do futebol. Ouvia jogos na rádio, via Pelé na televisão. Conheci muitos nomes do futebol brasileiro assim. O nosso Fla-Flu era Nice contra Marseille, que recrutou Paulo Cézar Caju e Jairzinho em 1974. Eles foram os primeiros campeões do mundo a jogar na França — relembra Sabatier.
Ele brinca que a primeira experiência no Brasil só não foi perfeita porque, apesar das viagens constantes ao Rio, morava em São Paulo. Depois, voltou para a França, onde começou a trabalhar na L’Oréal, em Paris, com responsabilidade internacional, atuando principalmente com a América Latina. Ainda assim, não perdia um carnaval — carioca, é claro.
— E lá se foram 40 anos que eu desfilo com a Mangueira. Desde essa época, não perdi um carnaval em 40 anos. Mesmo morando fora, ou em São Paulo, sempre viajava de volta para o Rio. Foram muitos domingos à tarde no Maracanã e sábados à noite na quadra da Mangueira — lembra o empresário.
A mudança para a Cidade Maravilhosa aconteceu em 2006, e veio com uma transição de carreira. Ele saiu do setor jurídico e assumiu funções de relações corporativas, reputação, comunicação, sustentabilidade, diversidade e relações governamentais da L’Oréal Brasil. No caminho, nasceram os dois filhos, cariocas, com a italiana Arianna Sabatier.
— Desenvolvi toda uma agenda profissional, institucional e relacional com a cidade. Passei a participar do conselho municipal a convite do prefeito Eduardo Paes, sou presidente de honra da Câmara de Comércio França-Brasil e presidente da Sociedade de Gestão do Liceu Francês, o Lycée Molière — conta.
Porto: ‘força histórica’
Isso aconteceu, segundo ele, de forma orgânica e natural. A empresa já tinha chegado ao Rio cerca de 40 anos antes, mas foi Sabatier que começou a pesquisar um endereço para a nova sede. A escolha foi a Zona Portuária, que começava a passar pelo processo de revitalização, ainda com a Perimetral e sem VLT.
— A L’Oréal acreditou e acredita no Rio. Montamos nossa sede quando o Porto Maravilha ainda era um projeto. Fomos a primeira multinacional a apostar na região. A gente sabia que poderia ter o VLT, e buscamos saber onde ele ia parar para escolher um terreno que fosse perto de uma parada para os colaboradores — relembra ele.
Ele fala com vividez sobre o motivo de ter escolhido o Rio para a sede da multinacional:
— O Rio dá uma dimensão diferenciada para quem trabalha com consumidor, com pessoas, e com pesquisa e inovação. Dos oito tipos de cabelos que existem no mundo, você encontra todos no Rio de Janeiro. Dos 66 tipos de pele do mundo, 55 você encontra no Brasil. São riquezas muito fortes.
Cercada pela região da Pequena África, a empresa se viu, segundo ele, numa obrigação com a história que o lugar carrega. À frente da agenda de responsabilidade social da companhia, o executivo também deu início a projetos de diversidade e inclusão na região, onde desembarcaram milhares de pessoas negras escravizadas no século XIX.
— Aqui tem um símbolo muito forte. Quando descobrimos a força histórica dessa região, a L’Oréal sentiu uma responsabilidade, e começamos a investir em projetos sociais em comunidades — diz ele.
Entre os projetos estão o curso profissionalizante em estética Maré de Belezas, na ONG Casa das Mulheres da Maré, na Zona Norte do Rio, e o patrocínio ao Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, no Cais do Valongo. A empresa também apoia o projeto Redes Para Elas e a Campanha Rio Contra o Assédio, em parceria com a Prefeitura do Rio.
Na economia, ele avalia que apesar do desafio histórico da segurança, a cidade tem espaço para crescer mais em áreas estratégicas.
— O Rio tem potenciais muito fortes em muitos setores: energia, tecnologia, data centers, potencial portuário, turismo, eventos. Fora a cultura e a diversidade. O grande desafio é a segurança. Mas a cidade é uma marca poderosa, que desperta desejo no mundo — defende.
‘Quero escrever muito’
As experiências e ideias de “um alto executivo gringo que virou cidadão carioca” ficaram registradas em páginas de vários livros coletivos para os quais Sabatier foi convidado. Em “Pandemia e retomada: pessoas e empresas”, organizado por Bayard Do Coutto Boitteux, ele fala sobre o momento em que o Rio parou. Já em “Memórias do Carnaval”, organizado por Matheus da Silva Oliveira, conta sobre sua relação com a Verde e Rosa da Zona Norte. Fora outros.
Às vésperas da aposentadoria, Sabatier agora quer aproveitar o tempo livre. O destino das “férias prolongadas”?
— Vou ficar aqui. Ganhei a coisa mais preciosa do mundo: a liberdade. Agora é hora de viver sem vergonha de ser feliz. Quero escrever muito. Mas essa nova fase, essa página em branco, também é fascinante.



Com informações da fonte
https://extra.globo.com/rio/noticia/2025/11/diretor-de-relacoes-institucionais-da-loreal-brasil-patrick-sabatier-celebra-20-anos-de-vida-no-rio-o-povo-daqui-e-unico.ghtml

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