A operação policial mais letal da história do país, que deixou 121 mortos no Rio, segue dividindo lideranças políticas em Brasília. Durante discussão na Câmara, o deputado federal Otoni de Paula (MDB) questionou a informação do governo estadual sobre as mortes na ação e afirmou que sabe de pessoas inocentes que foram mortas.
Otoni é pastor da igreja carioca Assembleia de Deus Ministério Missão e Vida. Segundo ele, filhos de fiéis estão entre os mortos classificados pelo governador Cláudio Castro (PL) como suspeitos. Nesta quarta (29), Castro disse que é “residual e irrisório” qualquer percentual de erro na classificação da maioria dos mortos como suspeitos.
“Só de filho de gente da igreja eu sei que morreram quatro. [Eram] meninos que nunca portaram fuzis, mas estão sendo contados no pacote como se fossem bandidos. E sabe quem é que vai saber se são bandidos ou se não são? Ninguém. Sabe por que não? Porque preto, correndo em dia de operação na favela, é bandido. Preto com chinelo havaiana sem camisa pode ser trabalhador, mas ‘correu, é bandido’”, afirmou Otoni de Paula.
O deputado questionou a posição de alguns dos colegas de Câmara que elogiaram a ação. “É fácil, senhoras e senhores, para quem está no asfalto e não conhece a realidade da favela, subir nesta tribuna e dizer: ‘Que bom, matou’. É porque o filho de vocês não está lá dentro, como meu filho está o tempo todo dentro de uma comunidade e meu pânico é que ele é preto”, disse Otoni.
Além de Otoni de Paula, operação dividiu outros parlamentares
Otoni, que está entre os nomes da direita na casa, teve uma postura diferente da maior parte da oposição do governo Lula (PT) na Câmara. O deputado General Pazuello (PL-RJ) classificou a operação policial como necessária. “Era inevitável que isso acontecesse. Ou nós vamos combater essas facções ou vamos virar um narcoestado dominado por terroristas”, disse.
Rodrigo Valadares (União-SE) também considerou a ação “importante”. “Esses criminosos não respeitam a lei, nem a vida. A polícia do Rio fez o que precisava ser feito para garantir a segurança da população de bem”, destacou.
Entre os parlamentares de esquerda, o elogio de Castro aos resultados da operação foi mal recebido. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Reimont (PT-RJ), disse que o grupo quer visitar as comunidades afetadas nesta quinta (30).
“O que aconteceu no Rio de Janeiro nós estamos caracterizando como uma chacina continuada, porque não é a primeira chacina. Pelo que observamos do governo de Cláudio Castro, sabemos que esta é só mais uma das muitas que aconteceram e de outras que virão”, disse.
A deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) chamou Castro de “incompetente” e acusou a polícia de falta de planejamento. “Nós estamos solidários com todas as famílias que foram devastadas pela operação policial, que na verdade é uma chacina. O que tem sido feito para enfrentar as organizações criminosas é um banho de sangue”, acusou.
