Investigação da Polícia Federal mostra que o agora ex-deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, era mais do que um braço político do Comando Vermelho. Ele aparece como integrante do “Núcleo de Liderança” da facção, além de ser acusado de intermediar a compra e a venda de armamento e de ser um dos operadores financeiros da quadrilha. De acordo com o documento em que as prisões são decretadas pela Justiça Federal, TH participou de “múltiplas operações de câmbio” feitas com dinheiro do tráfico de drogas.
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A PF apurou que, em abril do ano passado, TH Jóias foi chamado por Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, apontado como traficante, para fazer o câmbio de R$ 5 milhões para dólares. Imagem obtida pelos agentes mostra o acusado deitado numa cama coberta pelas notas. Os diálogos interceptados confirmam, segundo os agentes, que o dinheiro pertencia ao chefe do CV no Complexo do Alemão, Luciano Martiniano da Silva, o Pezão. Assessor do deputado, Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, pegou R$ 1,02 milhão para trocar numa casa de câmbio em Copacabana, Zona Sul do Rio. O restante ficou com TH, que levou para sua casa na Barra da Tijuca. É o que diz a investigação.
TH teria devolvido o dinheiro em três encontros com os traficantes, totalizando US$ 1 milhão, valor compatível com a conversão na época. Segundo a PF, pela operação, ele lucrou R$ 50 mil. Na época, TH ainda não era deputado — ele assumiu uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio em junho e perdeu o cargo na quarta, logo após ser preso.
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Um mês depois, TH teria participado de outra operação de câmbio para o tráfico, mas o serviço gerou um conflito com a facção. A PF afirma que o ex-deputado recebeu mais R$ 4 milhões para trocar por dólares, mas ele não teria devolvido o valor total. Parte do dinheiro foi usada por TH e seu assessor Luiz Eduardo para custear um chá revelação organizado pelo ourives.
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“Foi possível identificar indícios de lavagem de dinheiro, essencial para a manutenção e a expansão da organização criminosa. Os investigados, rotineiramente, transacionam centenas de milhares e até milhões de reais em dinheiro vivo para evitar o sistema de controle financeiro e branquear os proventos do crime”, diz trecho do relatório.
TH e Luiz Eduardo foram presos na última quarta-feira, mas Pezão não foi localizado pelos agentes federais. Além deles, a operação prendeu o delegado federal Gustavo Stteel, acusado de fornecer informações sigilosas aos traficantes. Os agentes tiveram acesso a uma troca de mensagens de 17 de fevereiro do ano passado em que TH reenvia para Índio as seguintes mensagens: “me leva para a Sapucaí” e “leva seu irmão”. Questionado sobre a quem se referia, TH respondeu que o “irmão” seria um delegado federal. Para a PF, o ingresso seria para Gustavo Stteel.
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De acordo com a investigação, Stteel se utilizava do cargo para ajudar os criminosos, aproveitando a facilidade de acesso aos sistemas internos da corporação. Ele teria acessado indevidamente a base de dados da PF para obter informações sobre inquéritos envolvendo Dudu e Índio. A conduta foi confirmada por meio de auditoria interna.
Mas, para os investigadores, Stteel não era o único informante que TH Jóias tinha para a obter informações sigilosas das polícias. O ex-subsecretário de Defesa do Consumidor Alessandro Pitombeira Carracena, apontado como integrante do núcleo político da facção, também teria vazado informações e atuado em em favor dos traficantes.
Os investigadores afirmam que, em 31 de janeiro do ano passado, Carracena avisou ao grupo de uma operação policial que aconteceria naquele dia. Em uma conversa interceptada pela PF entre Índio e TH, o primeiro tranquiliza o comparsa informando que está “tudo na paz aqui”. O ourives então responde: “Carracena me ligou cedo. Bateu tudo que ele falou”.
A investigação aponta também que, em uma das operações vazadas por Carracena, Pezão — um dos traficantes mais procurados do Rio — e Índio conseguiram fugir da ação policial.
“Carracena simboliza a célula jurídica da agremiação criminosa e, em determinadas ocasiões, desempenha a função de relações-públicas, devido à sua infiltração no poder público. Sua função no Comando Vermelho é atuar como braço político ao lado de TH Jóias. Convém assinalar que Carracena recebeu vantagens indevidas de forma habitual para fornecer informações sobre operações policiais em áreas comandadas pelo Comando Vermelho”, diz trecho do relatório da PF.
Articulador político do grupo, Carracena ainda teria buscado interferir, a pedido do Comando Vermelho, para retirar a unidade do Batalhão de Choque (BPCHQ) instalada dentro da Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio. A companhia destacada durou um ano e um mês. Em junho de 2024, a unidade passou para o comando do 18º BPM (Jacarepaguá). Em nota, a Polícia Militar informa que a transferência da companhia do Batalhão de Choque para o 18º BPM “baseou-se, única e exclusivamente, em questões de ordem técnica e administrativa”.
A Polícia Federal também encontrou durante a investigação um vídeo em que TH Jóias mostra diversos sacos de maconha. Em seguida, ele diz que são 200 quilos. Mas do outro lado estava Índio que não gostou do produto: “Isso não é bom de vender”.
A quadrilha ainda tinha como apoio um grupo de policiais militares que atuavam como seguranças do tráfico. O PM Rodrigo da Costa Oliveira é apontado como o “chefe da segurança”, responsável por missões de escolta, transporte e segurança pessoal.
Procuradas, as defesas dos investigados não deram retorno ou não foram localizadas. Na quinta-feira, o Tribunal de Justiça do Rio manteve a prisão de TH Jóias e os outros 14 presos na operação.
2025-09-06 06:30:00