O passeio no calçadão e o chope gelado nos quiosques na badalada Praia da Bica, na Ilha do Governador, vão ficar mais animados a partir de 2026 e virão acompanhados de uma atividade que, há décadas, o insulano não praticava: um mergulho em águas limpas. Depois da Praia do Flamengo e da enseada de Botafogo, na Zona Sul, chegou a vez da Ilha, na Zona Norte, receber obras do programa de despoluição da Baía de Guanabara, com expectativa de conclusão em junho de 2026.
“As obras serão concluídas no próximo ano e acreditamos que, com a interceptação do esgoto que era lançado no mar, a natureza iniciará um processo gradual de regeneração. Esperamos observar os primeiros resultados já em 2026. Esse processo evolui progressivamente, como vimos nas praias da Zona Sul e de Paquetá”, explica Sinval Andrade, diretor institucional da Águas do Rio.
Por conta de diversos fatores, como posição geográfica, as praias da Ilha do Governador que devem apresentar resultados mais rápidos são as da Bica, Guanabara e Engenhoca.
Sinval explica que, nesses pontos, há uma melhor circulação das corrente marítima, o que faz com que a regeneração seja mais rápida. O mesmo não acontece do outro lado da ilha, na Praia da Rosa, onde há o Corredor Esportivo, outro ponto importante de lazer do bairro.
“Ali vai ter que ter um pouco mais de paciência. Também vai regenerar, mas é uma região de água mais parada, mais de mangue. Inclusive faremos ali um trabalho de recuperação dos manguezais, como fizemos na Lagoa Rodrigo de Freitas”, explica o diretor. O local também foi afetado por todas as obras feitas ao longo de muitas décadas, como a criação do campus do Fundão, da UFRJ, originalmente oito ilhas que foram planificadas e aterradas nos anos 1950, transformando-se em uma só o que gerou, segundo ele, uma alteração completa das correntes.
Ilha do Governador terá cinco novos pontos de coleta e limpeza chegará a 12 praias
O projeto prevê que a Ilha do Governador tenha cinco novos pontos de coleta, localizados na Praia de São Bento e nos bairros Portuguesa, Corredor Esportivo e Jardim Guanabara, para reter o esgoto que hoje é lançado “in natura” na Baía de Guanabara. Após a conclusão dos trabalhos, cerca de 4,9 milhões de litros de água contaminada deixarão de ser despejados no mar, o equivalente a duas piscinas olímpicas todos os dias. A expectativa é que, no segundo semestre de 2026, os resultados já sejam sentidos.
Segundo Sinval, a Ilha já possui uma boa malha de tratamento de esgoto. Até o fim do ano, serão concluídas as obras de modernização da estação de tratamento, que também terá sua capacidade duplicada para receber todo o volume novo que será coletado.
“Não adianta mandar o esgoto para quem não tem capacidade de receber”, afirma o executivo. Ele diz que também foram instaladas novas grades, para barrar o lixo que chega junto com o esgoto.
“Nós tratamos esgoto, mas chega muito lixo. Vamos fazer um trabalho de conscientização das pessoas, porque a natureza nos dá o que nós damos a ela. Se damos lixo, ela devolve lixo. No Flamengo, por exemplo, já notamos uma mudança na postura, com os frequentadores tratando melhor a praia. Porque, quando veem limpa, tomam mais cuidado”, diz.
As ações da Ilha do Governador não começaram agora, mas em 2024, com uma força-tarefa para eliminar os pontos clandestinos de lançamento de esgoto. Desde então, 249 pontos irregulares de despejo foram desativados e mais de duas mil desobstruções foram feitas em tubulações comprometidas pela falta de manutenção. O investimento no bairro já soma R$ 11,4 milhões.
Rios desviados e desobstrução de túnel foram fundamentais no processo da Zona Sul
Na Zona Sul, a primeira praia a apresentar bons resultados de limpeza foi a do Flamengo, com seu filhote, agora badalado, a Prainha da Glória. Há pouco tempo, a enseada de Botafogo também começou a registrar melhora na qualidade da água. Dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Botafogo registrou redução de 90% nos níveis de coliformes fecais e 26,3% de balneabilidade em 2024. Este ano, nos últimos quatro meses, chegou a 50% dos dias balneáveis. O resultado é fruto de uma limpeza geral no túnel chamado de Interceptor Oceânico, a primeira desde que foi construído, há 52 anos. Com nove quilômetros de extensão, ele é responsável por captar a maior parte do esgoto da Zona Sul e levá-lo até o Emissário Submarino de Ipanema.
Do túnel, que estava completamente obstruído, foram retirados três mil toneladas de resíduos que impediam o fluxo do esgoto que, invariavelmente, ia parar no mar de Botafogo. Rios que despejavam esgoto na enseada, como o Banana Podre e o Berquó, foram desviados para o Interceptor e também seguem para o destino correto.
Recentemente, a praia do Flamengo comemorou o fato de bater 100% de balneabilidade e ter ficado à frente do Leblon e de trechos da Barra. Os trabalhos avançam e a meta é ter toda a baía despoluída com a universalização do tratamento de esgoto até 2033, com investimentos na ordem de R$ 19 bilhões.
Tocado pela concessionária Águas do Rio, o projeto de despoluição da Baía segue um extenso cronograma, que tem fases e metas a serem batidas até 2033, quando todo o esgoto da capital deverá estar conectado à rede de coleta e tratamento.
