Em meio à era digital e ao avanço do trabalho remoto, o Itaú Unibanco se tornou protagonista de uma polêmica que escancara os limites entre produtividade e vigilância. Nesta segunda-feira (8), o maior banco privado da América Latina demitiu cerca de mil funcionários que atuavam em regime híbrido ou remoto, alegando “incompatibilidades” entre o ponto registrado e a atividade real nos sistemas corporativos.
Monitoramento milimétrico: cada clique conta
Embora o Itaú não revele quais softwares utiliza, investigações apontam que o banco monitora seus colaboradores com precisão cirúrgica: número de cliques, tempo de inatividade, abertura de abas, uso de memória, criação de tarefas e chamados são alguns dos parâmetros analisados. A prática, legal segundo a LGPD, exige transparência sobre os dados coletados — algo que, segundo demitidos, não foi cumprido.
Softwares como XOne, Teramind, Time Doctor e Hubstaff são amplamente usados por grandes corporações para medir produtividade. O XOne, por exemplo, atribui uma “nota de comportamento digital” ao funcionário, com base em critérios como aderência à jornada, uso da internet e desvio de navegação. A empresa afirma que 80% dos clientes veem resultados imediatos, com até 30% de aumento na produtividade e redução de 25% nos custos operacionais.
Inteligência artificial e vigilância total
A americana Teramind vai além: usa IA para detectar padrões e até fraudes, alegando que 7% dos funcionários simulam atividades de trabalho com softwares ou dispositivos externos. Já o Time Doctor grava a tela do usuário e promete identificar tentativas de burlar o sistema — tudo em nome da eficiência.
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Demissões sem aviso e sem defesa
Segundo o Sindicato dos Bancários, os desligamentos ocorreram sem advertência prévia, feedback ou chance de correção. Funcionários alegam que não tiveram acesso às métricas que justificaram as demissões e que muitos tinham avaliações positivas e até promoções recentes.
O Itaú, por sua vez, afirma que os desligamentos são fruto de uma “revisão criteriosa” e que foram identificados “padrões incompatíveis com os princípios de confiança” do banco. “Essas decisões fazem parte de um processo de gestão responsável”, declarou em nota.
Produtividade ou paranoia corporativa?
A polêmica reacende o debate sobre os limites éticos do monitoramento digital. Em um cenário onde cada clique pode custar o emprego, a aposta no home office parece vir acompanhada de uma vigilância sem precedentes — e os impactos sobre a saúde mental, a confiança e a cultura corporativa ainda estão longe de serem mensurados.
2025-09-09 12:15:00