Delegado da PF preso por ligação com o CV ostentava luxo, viagens e joia confeccionada por TH nas redes

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O delegado da Polícia Federal (PF) Gustavo Stteel foi um dos presos na Operação Zargun, deflagrada pela PF nesta quarta-feira. A ação foi realizada em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Polícia Civil, com o objetivo de desarticular a facção Comando Vermelho (CV). Enquanto as investigações apontavam o professor de direito constitucional e pós-graduado como suspeito de repassar informações à organização criminosa, ele ostentava uma vida de luxo nas redes sociais.
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Há cerca de uma semana, Stteel utilizou sua página pessoal para compartilhar o pedido de casamento à sua companheira, Bruna Karoline, pós-graduada em Direito Penal Militar. Na postagem, a noiva exibe para a câmera um anel confeccionado pelo deputado estadual TH Jóias, suplente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), principal alvo da Operação Zargun e preso por suspeita de ligação com o Comando Vermelho.
Anel de noivado confeccionado pelo TH Jóias
Reprodução
Na legenda, o delegado escreveu “diamantes para sempre” e fez questão de marcar e agradecer ao parlamentar Thiago Raimundo dos Santos Silva: “Olha sua obra de arte!!! Obrigado”, publicou.
Na mesma viagem, o casal também postou o momento em que Bruna Karoline utiliza uma gargantilha com o nome do delegado gravado em dourado.
Gargantilha com o nome do delegado
Reprodução
Lotado na unidade da Polícia Federal no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, Stteel compartilhava com frequência uma rotina de viagens para destinos como Nova York, Bariloche e Angra dos Reis. Nas fotos, costumava ostentar relógios de alto padrão, como o Rolex GMT-Master II, avaliado em aproximadamente R$ 100 mil.
Outra marca de seu estilo era a paixão por óculos escuros. Seus modelos variavam entre Louis Vuitton, Gucci e Oakley. Sua coleção passava dos R$ 8 mil. Também fazia questão de exibir o consumo de bebidas alcoólicas de alto valor, como espumantes da Bottega e vinhos da Famille Perrin, cujos rótulos ultrapassam R$ 300.
Além do luxo e conforto, seu perfil também destacava a rotina de trabalho e condecorações recebidas em diferentes cidades fluminenses. Entre elas, uma moção de congratulações e aplausos da Câmara Municipal de Nilópolis, na Baixada Fluminense, e a medalha Getúlio Vargas, concedida em Volta Redonda, no Sul do Estado.
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Na homenagem de Nilópolis, datada de 24 de março de 2025, os vereadores parabenizaram o delegado “pelo excelente trabalho em reconhecimento ao seu compromisso e dedicação na condução das atividades de segurança, fiscalização e combate ao crime no âmbito aeroportuário”.
O texto da moção afirmava ainda que “a atuação do delegado tem sido fundamental para garantir a ordem, proteger os cidadãos e fortalecer o combate a ilícitos transnacionais, assegurando que o Aeroporto Internacional permaneça como um espaço seguro e eficiente para passageiros e trabalhadores”.
Dois anos antes, em 29 de junho de 2022, a Câmara Municipal de Volta Redonda e a Mesa Diretora concederam a medalha Getúlio Vargas ao delegado. A honraria foi criada como forma de reconhecer pessoas e instituições que contribuem para a “Cidade do Aço”.
Operação Zargun
O deputado estadual TH Jóias chega à sede da PF no Rio após ser preso
Fabiano Rocha/Agência O Globo
A operação conjunta foi realizada por meio da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Rio de Janeiro (FICCO/RJ). A Justiça expediu 18 mandados de prisão preventiva e outros 22 de busca e apreensão. Pelo menos 15 pessoas foram presas. Entre elas está o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva (ex-MDB), conhecido como TH Jóias.
As investigações apontam que TH Jóias utilizava o mandato para favorecer o crime organizado, intermediando a compra e a venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones destinados ao Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Também foi detido Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, apontado como traficante e responsável por movimentar, segundo a PF, R$ 120 milhões em cinco anos. Ele seria braço direito de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, líder do CV no Complexo do Alemão, atuando como uma espécie de tesoureiro da facção. Ainda de acordo com as autoridades, Índio do Lixão pagava policiais para garantir a proteção de integrantes da quadrilha.
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O procurador-geral de Justiça, Antônio José Campos Moreira, disse que não é possível afirmar que o tráfico elegeu TH Jóias, mas destacou que o parlamentar foi eleito para atender aos interesses da facção.
— O parlamentar foi eleito para, valendo-se do mandato, beneficiar a organização criminosa. Isso porque, antes de ser político, ele já integrava o Comando Vermelho, inclusive com condenação por envolvimento. O simples fato de exercer o mandato e nomear assessores com ligação direta mostra que o papel dele era o de favorecer a organização criminosa — disse.
O que diz o governador
Já o governador Cláudio Castro disse não acreditar que o crime organizado já tenha conseguido se infiltrar na política. O comentário foi feito na sede do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), em Laranjeiras, Zona Sul da capital, onde anunciou investimentos na corporação.
— Em primeiro lugar quero parabenizar a polícia civil, a polícia federal e os ministérios públicos do Estado e Federal que promoveram duas operações em uma. Isso demonstra o que vínhamos conversando: só através de integração, só através do trabalho conjunto, que vamos conseguir vencer a guerra contra a criminalidade. A operação é uma prova que não há fronteira do estado para combater o tráfico, a milicia ou quem quer que seja. Não temos escolha de que tipo de criminoso que a gente vai combater. Nessa, teve delegado da polícia federal, teve agente de policia, ex-secretário, deputado estadual. Isso mostra que nossa política de segurança, nossa justiça estão sendo isentos no combate —, disse o governador.



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