A ideia de transformar a obra de Mauricio de Sousa em exposição ficou guardada por uma década. A intenção original era celebrar os oitenta anos do pai da Turma da Mônica, mas, à época, a proposta foi recusada pela MSP Estúdios, responsável pela marca que fez parte da infância de grande parte dos brasileiros. Apesar da decepção, o projeto se manteve vivo na mente do curador Marcelo Jackow, que ao longo do tempo fez alguns ajustes e modernizações. Finalmente ela sai do papel, em parceria com a MSP e Sidney Gusman, e a estreia nacional será no CCBB, nesta quarta (17). Viva Mauricio – Mauricio de Sousa, A Experiência Imersiva narra a jornada e a criação do mestre a partir de sua própria voz. “É um passeio junto ao homenageado, visitando os personagens e os lugares que conhecemos dos quadrinhos”, empolga-se Jackow. Em meio a cenários familiares, como o cemitério do Penadinho e a goiabeira do Chico Bento, cerca de 210 itens exclusivos e duzentas cópias de desenhos, fotos e vídeos se integram em 25 salas.
Parte do imaginário de quem cresceu lendo gibis, o bairro do Limoeiro foi posto de pé — com direito a um cheiro característico e a possibilidade de visitar a casa do Cebolinha, por exemplo. “Um desafio foi pensar em como falar para todos os públicos. Não existe um lugar do Brasil em que Mônica e companhia não sejam conhecidos”, crava o curador. Nas primeiras salas, a exposição apresenta a vida do artista paulista ao característico estilo dos quadrinhos. Nascido na cidade de Santa Isabel, em 1935, ele passou a maior parte da infância em Mogi das Cruzes. A casa em que morava com o pai, barbeiro, poeta e pintor, e a mãe, poetisa, costumava receber saraus e rodas de choro. Não demorou muito para se apaixonar pelo desenho e se mudar para a capital do estado em busca de oportunidades. Em 1959, enquanto trabalhava na Folha de S. Paulo, publicou a primeira historinha, protagonizada pelo cachorro Bidu. A partir dali, a turma tomou forma. A inspiração principal do cartunista sempre foi a família, e os dez filhos viraram personagens. “Sou privilegiado de tê-lo por perto. Essa homenagem é uma retribuição por tudo que ele fez por mim e pelos brasileiros”, define o filho Mauro Sousa, diretor-executivo da MSP Estúdios.
Um trunfo da empresa responsável pelos direitos e o legado da obra foi saber se adaptar aos novos tempos e costumes. Nos últimos anos, além das séries animadas, foram produzidos longas live action de sucesso como Turma da Mônica: Laços e Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa — que já tem sequência confirmada. A história do dinossauro Horácio também deve ganhar as telonas, pela lente de Carlos Saldanha, de A Era do Gelo e Rio. “A Turma da Mônica já foi publicada em mais de quarenta países, em catorze idiomas. Ao mesmo tempo, eles foram saindo do papel e protagonizando outras mídias. Não é apenas uma adequação às gerações recentes, é também um diálogo intertextual com outras linguagens”, elucida Mônica Ferrari Nunes, docente e pesquisadora do programa de pós-graduação da ESPM. “Meu pai é humilde, nunca teve medo de aprender e jamais parou no tempo, mesmo com 90 anos”, reflete Mauro. Ao final da exposição, um teste de acuidade visual embala a origem de tudo, revelando a frase “Eu aprendi a ler com a Turma da Mônica”. “A grande medalha que meu pai carrega no peito é ser um dos principais alfabetizadores do país”, atesta Mauro. Um patrimônio e tanto.
CCBB RJ, 1º andar. Rua Primeiro de Março, 66, Centro. Qua. a seg., 9h/20h. Grátis, com retirada de ingressos na bilheteria e no site do CCBB. Até 13 de abril.
