Em um Brasil onde até ladrão de corrente ostenta Equipamento de Proteção Individual, a criminalidade parece ter adotado um novo padrão de profissionalismo. Na última quinta-feira (16), Igor Onorato, foi preso após realizar 14 assaltos em sequência em diferentes bairros da capital paulista e da Grande São Paulo — todos no mesmo dia. O detalhe que mais chocou: ele usava um colete à prova de balas, como se estivesse preparado para enfrentar qualquer reação, inclusive da polícia.
A escalada de violência urbana, impulsionada por uma sensação de impunidade e pela política de desencarceramento promovida pelo governo federal e uma legislação branda, ganha contornos cada vez mais alarmantes e estimula a reincidência. O caso de Igor expõe uma realidade em que o crime de rua se organiza, se equipa e age com ousadia crescente — e com pouca expectativa de punição severa.
Segundo a Polícia Civil, Igor iniciou sua jornada criminosa ainda pela manhã na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo, e seguiu até Osasco, onde foi baleado ao tentar assaltar um policial civil dentro de um restaurante. Disfarçado de entregador, ele entrou no local, sacou a arma e atirou. O policial reagiu, e o enteado dele acabou ferido na perna. Igor foi atingido por quatro disparos e permaneceu no local até ser socorrido.
As câmeras de segurança registraram o momento exato da tentativa de assalto. A frieza da ação e a mudança de roupas entre os crimes — para despistar a polícia — reforçam o grau de planejamento. Com ele, foram apreendidas 14 alianças, correntes, pulseiras, um relógio e dinheiro. Um comparsa conseguiu fugir em uma motocicleta e segue foragido.
O caso não é isolado. Dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo revelam que o roubo de alianças cresceu 73% entre janeiro e agosto deste ano, totalizando 2.847 ocorrências — o equivalente a um roubo a cada duas horas. A capital paulista vive uma explosão desse tipo de crime, que se tornou quase uma “especialidade” entre criminosos de rua.
A ausência de medidas mais firmes contra esse tipo de delito, somada à política de esvaziamento do sistema prisional e uma legislação branda e ultrapassada, tem alimentado a reincidência e a ousadia dos criminosos. O uso de colete à prova de balas por um ladrão de correntinhas é mais do que um detalhe: é um símbolo de um sistema que falha em dissuadir o crime e, pior, parece permitir que ele evolua.
