Conceição Evaristo ainda está se arrumando quando sua assessora recebe a equipe de reportagem em sua casa em Maricá, de cara para uma lagoa linda, quase um “pé na areia” de tão próximo. Na frente da casa de paredes amarelas e portão marrom, insiste em crescer um pé de mulungu, que ela já contara antes ser motivo de uma conversa com suas antepassadas numa fazenda histórica em Valença. Mas isso é assunto para mais tarde, no decorrer deste texto, já que um outro assunto é mais importante para abrir os 60 minutos de entrevista. Prestes a completar 79 anos (29/11) e, antes que chegue aos 80, em 2026, ela pretende parar tudo para fazer o que mais lhe convém: escrever.
— Se eu pudesse fazer um acordo com quem rege a vida, eu ia negociar assim, me dá um tempo de vida para eu ler tudo que eu tenho. Aí ele ia dar um tempo quase eterno, né? Porque eu tenho uma biblioteca imensa. No ano que vem eu quero parar, eu tenho projetos de trabalho, inclusive com a UFF, vou fazer uma residência artística numa Universidade de São Paulo, que agora me falhou o nome, mas eu quero muito escrever, eu preciso muito escrever. O que eu mais quero é um tempo para escrever — diz Conceição.
Ela é a grande homenageada na 10ª Festa Literária Internacional de Maricá que termina neste domingo (14), com uma mesa de nome que lhe é bastante peculiar, “Escrevivências” (17h30), ao lado de Bárbara Carine, Eliana Alves Cruz, Jeferson Tenório, com mediação da jornalista Flávia Oliveira.
— Eu pretendo falar um pouco sobre a escrevivência, uma temática que nasce como um conceito na área da literatura. E hoje nós vemos várias áreas do conhecimento trabalhando com o conceito de escrevivência.
A escritora é reconhecida pela “escrevivência”, um conceito literário que descreve a escrita fundamentada nas vivências das mulheres negras brasileiras, abordando temas como desigualdade racial e maternidade.
O evento, armado na Orla do Parque Nanci, com entrada gratuita, começa às 10h com uma palestra sobre Inteligência Artificial e profissões do futuro e segue com um debate (11h) “Cultura em desfile”, com Helena Theodoro, Luiz Simas e Thiago Gomide, mediado por Rafael Haddock-Lobo. O prefeito Washington Quaquá media uma mesa (14h30) sobre tecnologia, território e planejamento urbano.
A relação da escritora com Maricá – onde já viveram outros nomes de prestígio como Beth Carvalho, Maysa e Darcy Ribeiro -, começa na Lagoa que enfeita a porta da sua casa— Essa lagoa aqui eu acho que foi mandada para vir para a frente da minha casa. Tem outro lugar aqui que foi um dos primeiros lugares que eu vi aqui em Maricá, que se chama Zacarias, que é onde tem uma colônia de pescadores. Inclusive tem uma espécie, não é bem sindicato não, uma espécie de associação de pescadores. E tem um restaurante bem simples, assim na beira da lagoa, com as mesinhas bem rústicas. O Ponta Negra é muito bonito, você chega no alto, no topo de uma montanha, então você vê Maricá, você vê Saquarema, um mar lá embaixo. E tem um restaurante que eu gosto de ir lá em particular porque tem chope preto.
Para ela, o céu de Maricá é diferente de todos os outros. — Se você andar a pé, não precisa olhar para cima. Você tem a impressão que o céu aqui te olha.
Há algum tempo atrás em Valença para ministrar um curso, Conceição Evaristo participou de um passeio por uma fazenda colonial, onde descobriu, bem próximo de onde era a senzala, o tal mulungu.
— Era uma árvore sem uma folha e só flores. Fui pesquisar, mulungu é comum até no Brasil, não é muito, mas ele dá em determinadas regiões e tem um efeito sedativo. A raiz, a casca do mulungu. Ele é bom para pressão alta. Ele provoca sono. Aí veio a ficção… (risos).
Com informações da fonte
https://extra.globo.com/rio/cidades/marica/noticia/2025/09/conceicao-evaristo-em-marica-onde-o-ceu-te-olha.ghtml
Conceição Evaristo, em Maricá: ‘Onde o céu te olha’

Nenhum comentário