Como o tarifaço afeta o dia a dia, com preços de frutas em queda, redução da inflação e férias coletivas

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Uma semana depois de o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros imposto pelos Estados Unidos entrar em vigor, o consumidor interno já sente efeitos no seu dia a dia. Da queda nos preços das frutas exportadas às férias coletivas em empresas exportadoras, as sobretaxas de Donald Trump impactam o bolso das pessoas e a economia do Brasil.
A inflação, que já vem desacelerando, deve ter alívio ainda maior com queda de preço dos alimentos influenciada pelas tarifas em agosto. O efeito sobre o Produto Interno Bruto (PIB), porém, deve ser menor que o esperado pois Trump isentou cerca de 700 produtos da taxa de 50%.
Alívio na inflação
A inflação oficial do país avançou 0,26% em julho, abaixo da projeção do mercado financeiro. A queda de alimentos foi um dos fatores que frearam a alta. Como o tarifaço começou em 6 de agosto e atingiu alimentos como café, cacau, frutas e carnes, a expectativa é que a pressão sobre o índice relaxe ainda mais.
O resultado já tem levado os agentes a refazerem as contas. Leonardo Costa, economista do ASA, revisou para baixo sua projeção de inflação para este ano, que agora deve encerrar 2025 em 4,7% (ante 4,9%), puxada pela desaceleração da alimentação no domicílio e de bens industrializados.
Frutas mais baratas
O mercado americano é um forte consumidor de frutas brasileiras. No total, o Brasil exporta pouco mais de US$ 1 bilhão por ano desses produtos, segundo dados compilados pela Abrafrutas.
Um dos efeitos do tarifaço que já vem sendo percebido é a queda no valor das frutas exportadas para os EUA, como manga e uva. Em alguns casos, já há queda de 50% nos preços, segundo feirantes.
— A manga palmer, que é a com pouca fibra, estava mais cara no começo do mês passado, mas o preço despencou na última semana. Uma caixa com 30 mangas, que eu comprava por R$ 100, nesta semana paguei R$ 50 — diz o feirante Jefferson Batista, de 39 anos.
Essas frutas estão deixando de ser exportadas para os EUA vêm senco colocadas à venda no mercado interno, levando à queda no preço. Além disso, há também efeito da supersafra, ressalta o coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, André Braz.
— Alguns itens que entraram no tarifaço já estavam ficando mais baratos. A uva, por exemplo, vinha registrando queda desde o início de julho, com variação negativa de 3,8%. No fim do mês, essa redução chegou a 5,5%.
O preço do açaí tambem deve ceder. Os EUA são o principal destino das vendas no exterior da fruta amazônica, cuja produção está concentrada no Pará.
Carnes e pescado
Os EUA também são destino de exportações de carne bovina e pescados, atingidas pelo tarifaço. Frigoríficos brasileiros dizem que podem redirecionar os envios para outros países. Muitos têm filiais no exterior.
JBS, a maior produtora de carne do mundo, por exemplo, tem fábricas na Austrália, de onde pode alcançar a China, e nos próprios Estados Unidos. A Minerva, a segunda maior, tem unidades em Argentina, Uruguai e Colômbia.
Ainda assim a expectativa é de queda de preços. De acordo com o economista da LCA 4Intelligence Fábio Romão, a arroba de boi gordo vem caindo desde o mês passado “nas praças pecuárias de São Paulo” que são referência para o mercado nacional:
— As incertezas causadas pela taxação, aliadas à maior oferta de gado, devido ao declínio das pastagens durante o inverno (os pecuaristas abatem o boi antes da estação mais fria do ano), seguem afetando as cotações. Com a dificuldade para exportar, aumenta a oferta doméstica, e o preço cai — disse Romão em entrevista ao GLOBO no fim do mês passado.
Ele prevê que o impacto chegue ao varejo entre agosto e setembro. Alguns frigoríficos suspenderam abates.
Empresas de pescados correram para embarcar o que puderam para os EUA antes do tarifaço entrar em vigor. Há uma expectativa que os preços também caiam por aqui, mas o impacto deve ser menor que no setor de carnes, já que algumas empresas estão mandando menos barcos ao mar para pescar e, assim, reduzir a produção.
Férias coletivas
O impacto provocado pelo tarifaço tem levado empresas a darem férias coletivas aos funcionários numa tentativa de ganhar tempo enquanto medidas de socorro não são implementadas.
Com a redução drástica nas encomendas e nos embarques de mercadorias aos EUA, alguns empresários praticamente paralisaram as operações.
No polo moveleiro de São Bento do Sul, em Santa Catarina — formado ainda pelos municípios de Campo Alegre e Rio Negrinho —, são cerca de 7 mil trabalhadores atuando em 398 indústrias do setor, 20 delas atuando com exportações.
Cerca de 600 deles, funcionários de quatro empresas, estão em férias coletivas pelos impactos do tarifaço, segundo cálculos do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário em São Bento do Sul e Campo Alegre (Siticom).
No ano passado, as exportações de móveis produzidos na região somaram US$ 123,4 milhões. Do total, US$ 77 milhões são encomendas dos EUA. Cerca de 14% de todos os móveis enviados pelo Brasil ao exterior saem da região.



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