Como aconteceu o maior assalto a banco na História do Brasil

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Carro da polícia diante da casa usada no assalto do Banco Central, em 2005 — Foto: Arquivo/Luiz Carlos Moreira


A casa de número 1071 na Rua 25 de Março, em Fortaleza, nunca vira tanto movimento. Em maio de 2005, o imóvel tinha sido alugado por um homem alegando que iria abrir ali uma empresa de grama sintética. Um argumento sob medida para justificar o entra e sai de pessoas e materiais de construção que a vizinhança veria a partir de então. Mas era mentira, e o real motivo para o interesse na casa seria revelado na manhã de 8 de agosto, há 20 anos, quando funcionários do Banco Central na capital do Ceará abriram a sala da caixa-forte e encontraram um buraco de 1,1 metro de largura no chão.

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Não levou muito tempo até os policiais federais descobrirem que o buraco era o final de um túnel de 80 metros que começava na casa de número 1071. E que a empresa de fachada que parecia funcionar ali era parte do plano do maior assalto a banco da história do Brasil. Foram roubadas 3,5 toneladas de notas de R$ 50, totalizando a fortuna de R$ 164 milhões. Mas os criminosos não foram muito longe. Nos anos seguintes, a Polícia Federal indiciaria nada menos que 134 pessoas, das quais mais de 90 receberam condenações pelo envolvimento no roubo. Cerca de R$ 40 milhões foram recuperados.

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O crime embasou o filme “Assalto ao Banco Central”, que em 2011 levou 1,8 milhão de pessoas aos cinemas. Ingredientes para um roteiro não faltaram. Revestido de lona e escorado por vigas, o túnel de 70cm de largura chegava a quatro metros de profundidade, passando abaixo das galerias de esgoto, atravessando a movimentada Avenida Dom Manuel, no Centro de Fortaleza. A passagem tinha luz elétrica e ar-condicionado. Para perfurar o piso de concreto da caixa-forte, com espessura de mais de 1 metro e reforçado com aço, os bandidos usaram maquitas com disco de diamante e até britadeira.

Infográfico mostra etapas do crime — Foto: Editoria de Arte

Indícios deram conta de que o bando tivera ajuda de alguém que trabalhava no banco: nenhum alarme foi disparado, uma empilhadeira obstruía a câmera de segurança na sala do dinheiro e os criminosos sabiam onde perfurar o piso. O roubo começou na noite de sexta-feira, 5 de agosto, e terminou por volta de 12h do dia seguinte. Dentro da caixa-forte, os criminosos tomaram o cuidado de não levar cédulas novas, seriadas, para evitar rastreamento. Eles pegaram notas que já haviam circulado e que, danificadas, tinham sido recolhidas e passariam por análise. Boa parte seria incinerada.

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Para transportar o dinheiro por dentro do túnel, os bandidos usaram um sistema de roldanas, em que bacias cheias de notas eram puxadas por cordas. Depois, os ladrões tiveram 44 horas de vantagem na fuga, já que o crime só foi percebido às 8h de segunda-feira, quando começou o expediente no banco.

Os vizinhos da casa 1071 não haviam desconfiado de nada. Após alugar o imóvel, os criminosos reformaram e pintaram a fachada e divulgaram que estavam abrindo a empresa de paisagismo. “Até o carro usado, uma van branca de placa HOY 0734, tinha a logomarca da empresa Grama”, segundo informou a reportagem do GLOBO publicada em 9 de agosto de 2015. As pessoas viram grandes quantidades de terra sendo movimentadas, mas acharam tudo normal. No imóvel, policiais acharam parte do equipamento usado na escavação, como calças de moletom, joelheiras e luvas.

Os bandidos fugiram com o dinheiro para diferentes estados. Antes de deixar a casa, eles espalharam cal pelo imóvel, para impedir a coleta de impressões digitais. Nos meses e anos seguintes, muitos envolvidos foram presos. Entre eles, Antonio Jussivan dos Santos, o Alemão. Mentor do crime, ele foi condenado, em 2009, a 49 anos de prisão. Luis Fernando Ribeiro, também apontado como líder, foi sequestrado e morto em outubro de 2005, mesmo após sua família pagar R$ 2 milhões de resgate. Ex-vigia do BC, Deusimar Neves Queiroz foi condenado, em 2007, a 47 anos de prisão.

Em 2017, criminosos com armamento pesado tentaram resgatar Jussivan da Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo, em Pacatuba, na Grande Fortaleza. Houve confronto com policiais e agentes penitenciários. Baleado, Jussivan ficou hospitalizado e, meses mais tarde, foi transferido ao Presídio Federal de Catanduvas, onde permanece até hoje. Dos mais de 90 condenados em primeira instância, muitos recorreram e foram absolvidos ou tiveram sua pena reduzida.

Buraco feito pelos bandidos na sala do cofre — Foto: Divulgação
Buraco feito pelos bandidos na sala do cofre — Foto: Divulgação

Túnel construído entre a casa e o banco, em Fortaleza — Foto: Divulgação
Túnel construído entre a casa e o banco, em Fortaleza — Foto: Divulgação



Conteúdo Original

2025-08-08 14:10:00

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