O jornalista Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, mais conhecido como Tim Lopes, chegou à Vila Cruzeiro, na noite de 2 de junho de 2002, disposto a fazer uma reportagem sobre prostituição infantil e vende de drogas em um baile funk local. O repórter de 51 anos foi deixado por um motorista da TV Globo na entrada da comunidade, no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, mas não voltou para encontrá-lo. Durante dias, o jornalista foi considerado desaparecido. Diversas incursões policiais na favela tentaram encontrá-lo, até que, em 9 de junho daquele ano, o então chefe da Polícia Ciivil, Zaqueu Teixeira, informou à imprensa que o premiado repórter estava morto.
- Facção criminosa: Comando Vermelho têm métodos de tortura, segundo MP
- Ex-secretário de Segurança: “Nenhum bandido importante no Brasil mora na favela”
De acordo com investigações, Tim foi capturado em um bar na Rua Oito, depois que alguém percebeu uma luz saindo da bolsa que o jornalista usava na cintura. Alertados, traficantes locais abordaram o visitante e descobriram a microcâmera que ele carregava na bolsa presa em sua cintura. O jornalista disse que trabalhava na Globo, mas, como não carregava documentos durante reportagens daquele tipo, não tinha como provar. Os bandidos, então, usaram um rádio Nextel pra se comunicar com Elias Maluco. Chefe do tráfico no Alemão, Elias mandou os comparsas levarem Tim para a Favela da Grota, onde ele e outros líderes do crime local decidiriam qual seria o destino do repórter.
- Comando Vermelho: Como decreto da ditadura levou à formação da facção
O caso serviu para revelar à sociedade da época a extensão do controle do Comando Vermelho no complexo. Depois da morte de Tim, houve uma série de operações com objetivo de desarticular o poder da facção no local, mas a situação apenas se agravou. Na última terça-feira, os complexos do Alemão e da Penha foram alvo de uma megaoperação policial para combater a facção criminosa. Cerca de 2500 agentes de segurança foram mobilizados para efetuar dezenas de mandados de prisão contra líderes do grupo. Segundo o governo estadual, 113 suspeitos foram presos e 121 morreram, entre elas, quatro policiais. Mais de 90 fuzis foram apreendidos.
Tim foi levado para a Favela da Grota com mãos amarradas e pés baleados. Já diante de Elias, ele foi “julgado” e “sentenciado”. Segundo relatos de bandidos que estavam presentes, e depois foram presos, o jornalista foi torturado. Elias usou uma espada samurai para decepar os membros de Tim e matar o repórter. O corpo dele foi colocado dentro de uma pilha de pneus, cruelmente chamada por criminosos de “micro-ôndas”, coberto com combustível e incendiado. Apenas em 5 de julho, um exame de DNA confirmou que os restos mortais encontrados num cemitério clandestino, no alto da Favela da Grota, eram mesmo do jornalista. O enterro dele aconteceu no dia 7 de julho.
- Japinha do CV: Quem era a jovem criminosa morta em operação no Rio
- Complexo do Alemão: Planilha revela gastos de R$ 5 milhões por mês com armas
Durante meses, centenas de policiais esquadrinharam o Complexo do Alemão em busca de Elias. O bandido foi preso no dia 19 de setembro de 2002, 109 dias depois do crime. Ele foi encontrado atrás de uma porta, descalço e sem camisa, dentro de uma casa em um beco da Favela da Grota. “Perdi, chefe, não esculacha”, disse o traficante ao se deparar com os policiais. Elias foi condenado, no dia 25 de maio de 2005, a 28 anos e seis meses de prisão. Seis comparsas dele também foram julgados e condenados. Quinze anos depois, em setembro de 2020, o chefe do tráfico no Alemão foi encontrado morto em sua cela na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, com sinais de enforcamento.
