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Em entrevista à AFP horas após o anúncio de Trump, o comandante das Forças Armadas da Colômbia, Francisco Cubides, disse que os dois países continuarão trabalhando juntos, apesar da crise política.
— O único que ganha se não trabalharmos juntos é o crime — disse ele, insistindo que a luta contra os cartéis continuaria “com ou sem o apoio dos Estados Unidos”. — A Colômbia e os Estados Unidos têm um relacionamento próximo em muitas áreas, particularmente no setor militar. Temos um apoio claro deles, mas a Colômbia também contribui. Nosso trabalho é complementar.
Na segunda-feira, os Estados Unidos retiraram a certificação da Colõmbia de aliado na luta contra as drogas do país. A certificação é uma avaliação que, desde 1986, Washington realiza todos os anos sobre os esforços antidrogas de cerca de 20 nações produtoras e distribuidoras, em troca de recursos. No caso da Colômbia, representa uma ajuda de aproximadamente US$ 380 milhões (mais de R$ 2 bilhões) anuais.
— Os Estados Unidos retiram nossa certificação depois de dezenas de mortos, de policiais, de soldados, de gente do povo tentando impedir que a cocaína chegue até eles — disse o mandatário colombiano, Gustavo Petro, em um conselho de ministros.
Pouco depois, chegava a Casa Branca o comunicado oficial, segundo o qual a Colômbia se une a Bolívia, Mianmar e Venezuela como países que “falharam de maneira demonstrável durante os últimos 12 meses tanto em cumprir suas obrigações sob os acordos internacionais de luta contra o narcotráfico como em tomar as medidas requeridas”, segundo a legislação americana.
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Para a Colômbia, é a primeira vez que Washington retira a certificação em sua luta antidrogas desde 1996, enquanto os demais países são apontados há anos pelos governos tanto democratas quanto republicanos.
“O cultivo de coca e a produção de cocaína alcançaram níveis recordes sob a presidência de Gustavo Petro, e suas tentativas fracassadas de buscar acordos com grupos narcoterroristas apenas exacerbaram a crise”, considera o documento assinado pelo presidente Donald Trump. “O descumprimento da Colômbia de suas obrigações de controle de drogas durante o último ano recai unicamente sobre sua liderança política. Considerarei mudar esta designação se o governo da Colômbia tomar medidas mais agressivas”.
A medida atinge a cooperação para que as forças de segurança da Colômbia combatam cartéis como o Clã do Golfo e guerrilhas dedicadas ao tráfico, como o ELN (Exército de Libertação Nacional) e as dissidências das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que se afastaram do acordo de paz de 2016.
Entre 2000 e 2018, os Estados Unidos entregaram à Colômbia mais de US$ 10 bilhões (R$ 53 bilhões), segundo o Congresso americano, para fins militares, sociais e de erradicação de cultivos de narcóticos. Os EUA são o principal sócio comercial e militar da Colômbia.
Desde que chegou ao poder em 2022, Petro promove uma mudança de enfoque na guerra contra as drogas, por considerá-la um fracasso, e suspendeu a erradicação forçada da folha de coca, principal componente da cocaína.
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Ano após ano, o país bate seu próprio recorde de área cultivada com essa planta e de produção do pó branco. Em seu território há cerca de 253 mil hectares de cultivos de narcóticos e são produzidas pelo menos 2.600 toneladas anuais de cocaína, de acordo com o último balanço de 2023 da ONU.
O aumento da capacidade dos cartéis de produzir cocaína na Colômbia coincide com a pior crise de segurança no país desde a desmobilização da maior parte das Farc. Guerrilheiros que também se financiam da mineração ilegal realizam constantes ataques e atentados com explosivos contra as forças de segurança e a população civil.
O governo assegura que se tratam de atos desesperados diante das operações contra esses cartéis para apreender a cocaína e tomar à força os territórios que eles dominam.
Para o presidente Petro, o deslocamento de navios americanos no Caribe, que até agora resultou na destruição de duas lanchas supostamente provenientes da Venezuela com droga a bordo, é uma afronta. Catorze supostos narcotraficantes morreram nesses ataques.
Bogotá considera que continua fazendo o suficiente. Neste ano, até agora, a Colômbia apreendeu 700 toneladas de cocaína e destruiu o número recorde de 4.570 laboratórios clandestinos, segundo dados divulgados pelo Ministério da Defesa local.