Na edição de 2023 do Índice Global de Crime Organizado (GI-TOC), o Brasil estava na 22ª posição, e na pesquisa de 2025 caiu para a 14ª. A metodologia usa pontuações, de 0 a 10, em que avalia o impacto do crime organizado em um país, considerando fatores como a estrutura dos grupos criminosos e os mercados ilícitos que operam em cada local.
Os pesquisadores da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC), entidade que elabora o ranking, explicaram para O GLOBO os fatores que colaboraram para essa piora.
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O primeiro está relacionado a um problema global detectado pelo índice: a ascensão da cocaína no mercado de drogas. Maconha e heroína estão perdendo espaço, enquanto a cocaína, acompanhada das drogas sintéticas, ganham terreno. A América Latina e o Brasil estão diretamente relacionados a essa mudança de panorama no cenário internacional.
— O Brasil é o segundo maior mercado consumidor de cocaína no mundo, e também é corredor do tráfico transnacional, principalmente para a Europa. Nos últimos 10 anos, estamos vendo uma crescente do mercado Europeu. As rotas (de tráfico) pela Amazônia estão cada vez mais relevantes, o escoamento de cocaína para exportação pelo Pará, Amapá para a Europa é um dos grandes vetores da criminalidade do Brasil — diz Gabriel Funari, coordenador do observatório do GI-TOC na região amazônica.
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A lucratividade do mercado de cocaína se relaciona a outras atividades ilícitas, como o tráfico de armas. Segundo o relatório do GI-TOC, grupos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) importam armas de países como Croácia, Turquia, Eslovênia e Estados Unidos, usando empresas legítimas e levando os armamentos para o Paraguai, para depois entrarem no Brasil.
A prevalência de índices preocupantes na área de crimes ambientais, como o garimpo e extração ilegal de madeira, também aparece na lista.
— Dois dos mercados (ilegais) de meio ambiente, fauna e flora, o Brasil tem consistentemente, nos últimos cinco anos, liderando os rankings globais. A gente figura no segundo lugar do mundo para esses dois tipos de atividades — diz Gabriel Granjo, analista do GI-TOC.
— Outro fator é que temos um sistema penitenciário que virou incubador de facções criminosas, algo que não tem nenhuma perspectiva de melhora — completa Funari.
O mercado de produtos falsificados é mais um motivo para a piora do país no estudo. Os pesquisadores explicam que a força desse tipo de atividade ilícita costuma ser um indicador importante para entender o poder dos grupos criminosos.
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O segmento de falsificados está em expansão, segundo o Índice, em especial as bebidas alcoólicas, devido ao encarecimento de destilados importados e os altos impostos praticados no segmento. Outros produtos, como roupas, medicamentos, eletrônicos e pesticidas também são pirateados, originários de países como a China, Paraguai e Guiana, mas também com produção local em cidades como Ribeirão Preto, Franca e São José do Rio Preto, no interior paulista, e Goiânia, em Goiás.
No estudo, o Brasil aparece em uma categoria de 66 nações que contam com alta criminalidade e baixa “resiliência”, termo usado pelos pesquisadores para medir o nível de resposta das instituições governamentais aos grupos criminosos. Uma melhora no nível de infiltração do crime organizado na estrutura do Estado é um dos caminhos apontados pelos pesquisadores para mudar o quadro crítico apontado pela pesquisa. Apesar da piora no ranking de criminalidade, o país apresentou um pequeno avanço na resiliência, em comparação à edição anterior.
— Houve uma melhora nos índices de governança, sistema judicial. A Operação Carbono Oculto, por exemplo, é o tipo de intervenção que se encaixa em várias dessas categorias. É uma política pública inovadora, que envolveu agentes do sistema judicial — diz Funari.
A Carbono Oculto foi voltada ao desmantelamento de um esquema bilionário de sonegação fiscal, fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis, e os vínculos com o PCC. A ação cumpriu mais de 300 mandados contra alvos em oito estados, e revelou um sistema de importações de combustíveis avaliadas em mais de R$ 10 bilhões, créditos tributários de R$ 8,6 bilhões e movimentações financeiras de R$ 52 bilhões.
Veja a lista do ranking de prevalência do crime organizado:
Pontuação de criminalidade
- Mianmar (8.08)
- Colômbia (7.82)
- México (7.68)
- Paraguai (7.48)
- Equador (7.48)
- República Democrática do Congo (7.47)
- África do Sul (7.43)
- Nigéria (7.32)
- Líbano (7.30)
- Turquia (7.20)
- Quênia (7.18)
- Iraque (7.17)
- Honduras (7.10)
- Brasil (7.07)
- Líbia (7.05)
- República Centro-Africana (7.03)
- Afeganistão (7.02)
- Cambodja (7.02)
- Síria (6.98)
- Venezuela (6.97)

