Cirurgia sem fumaça: o que você precisa saber sobre tabagismo, vape e o período perioperatório

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Parar de fumar antes e depois da cirurgia reduz complicações e melhora a cicatrização, mesmo que a suspensão seja por poucas semanas

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Estudos mostram que suspender o tabaco algumas semanas antes da cirurgia reduz complicações

Fumar cigarro ou vaporizar nicotina (vape) expõe o organismo a monóxido de carbono, nicotina e partículas finas que reduzem o transporte de oxigênio e prejudicam o epitélio respiratório. Na prática, isso se traduz em maior risco de complicações pulmonares durante e após a operação, como hipóxia, pneumonia, necessidade de reintubação, além de cicatrização mais lenta, deiscência (abertura dos pontos) e infecções. Estudos mostram que suspender o tabaco algumas semanas antes da cirurgia reduz significativamente essas complicações.

Quanto tempo antes é ideal parar de fumar

A recomendação é simples: quanto antes, melhor. Revisões clássicas da literatura indicam que 4 semanas sem fumar já diminuem complicações respiratórias e de ferida operatória, enquanto 8 semanas trazem benefícios ainda maiores. É importante desmistificar a ideia de que parar em cima da hora prejudica a cirurgia — as melhores evidências mostram que qualquer tempo sem fumar ajuda, inclusive poucos dias. Diretrizes internacionais, como o protocolo ERAS para cirurgia colorretal, recomendam iniciar a cessação com pelo menos 4 semanas de antecedência, acompanhada de suporte comportamental e reposição de nicotina.

Após a cirurgia, manter abstinência é fundamental

Seguir sem fumar no pós-operatório reduz o risco de infecção da ferida, deiscência e complicações respiratórias. As primeiras 4 a 12 semanas são especialmente críticas para a cicatrização e para evitar recaídas. Programas iniciados no hospital e mantidos após a alta hospitalar aumentam as chances de sucesso em um ano.

Intervenções estruturadas aumentam significativamente as taxas de sucesso. A combinação de aconselhamento motivacional com acompanhamento frequente (inclusive remoto) é eficaz tanto no pré quanto no pós-operatório. Entre os recursos disponíveis, destacam-se:

  • Terapia de reposição de nicotina (adesivo, goma, pastilha, inalador): reduz sintomas de abstinência e é segura em pacientes cirúrgicos.
  • Vareniclina: medicamento que atua nos receptores nicotínicos, reduz o prazer do cigarro e ajuda a controlar a fissura.
  • Bupropiona: antidepressivo que também atua na fissura tabágica, podendo ser combinado com outros recursos.

A escolha deve ser individualizada, considerando histórico clínico e preferências do paciente, com supervisão médica para garantir segurança no contexto cirúrgico.

Cirurgias urgentes e oncológicas exigem atenção redobrada

Se a cirurgia é urgente, ainda assim vale a pena parar imediatamente — mesmo poucas horas sem fumar já melhoram o transporte de oxigênio. A recomendação é não fumar no dia da cirurgia e utilizar nicotina de liberação rápida para controlar a fissura. Já em cirurgias oncológicas, o cuidado deve ser ainda maior: estudos indicam aumento de 31% nas complicações quando o paciente fumou nas 4 semanas anteriores ao procedimento, em comparação com quem suspendeu antes.

Parar faz diferença — e começa hoje

Parar de fumar protege a cirurgia, acelera a recuperação e melhora a qualidade de vida. Um plano bem estruturado com a equipe médica, incluindo TRN, vareniclina e/ou bupropiona, aumenta a segurança e o sucesso da abstinência. Mesmo em cirurgias de urgência, deixar de fumar no dia do procedimento já traz ganhos fisiológicos importantes. E, no pós-operatório, manter a abstinência é decisivo para o bom resultado.

Antonio Couceiro Lopes (CRM 100656 SP | RQE 26013)
Cirurgião do aparelho digestivo e membro da Brazil Health





Com informações da fonte
https://jovempan.com.br/saude/cirurgia-sem-fumaca-o-que-voce-precisa-saber-sobre-tabagismo-vape-e-o-periodo-perioperatorio.html

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