Centro do Rio perdeu lagoas que deram lugar a locais icônicos; descubra

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O avanço sobre o mar é apenas uma parte da história dos aterros que transformaram o Rio de Janeiro. Muito antes de o Flamengo ganhar sua faixa de terra de 1,2 milhão de metros quadrados à beira da Baía de Guanabara — sobre a qual foi concebido o Parque do Flamengo, que hoje completa 60 anos —, a cidade já conquistava espaço dentro do próprio continente, aterrando lagoas e alagadiços que cobriam boa parte da região central. Marcos icônicos do Centro — como o Theatro Municipal — foram erguidos em áreas onde, até meados do século 18, havia corpos d’água. O teatro ocupa o terreno da antiga Lagoa de Santo Antônio, próxima ao morro de mesmo nome, cuja demolição ao longo do século 20 forneceu parte do material utilizado justamente no aterro do Flamengo.
Outros pontos tradicionais do coração do Rio também repousam sobre antigas lagoas. A região conhecida como Saara, hoje símbolo do comércio popular, já foi uma área farta de água. O quadrilátero formado pela Avenida Passos e pelas ruas Senhor dos Passos, Luís de Camões e dos Andradas — com trechos de Buenos Aires e Conceição — corresponde à área onde existia uma lagoa registrada com três nomes diferentes: Pavuna, Polé ou Lampadosa.

Na Lapa, a paisagem atual também cobre vestígios aquáticos. O Circo Voador e parte da Fundição Progresso ocupam o espaço da antiga Lagoa do Desterro, um dos muitos espelhos d’água que desapareceram sob o solo urbano que viria a moldar a identidade da cidade.
A cidade que transformou a palavra aterro em sinônimo da imensa área — 1,2 milhão de metros quadrados — pavimentada em cima do espelho d’água da Baía de Guanabara onde no dia 17 de outubro de 1965, há exatos 60 anos, foi inaugurado o Parque do Flamengo, se acostumou desde muito cedo a ver boa parte da sua linha de costa ser aterrada e redesenhada. Dados do Instituto Pereira Passados (IPP) mostram que apenas no período de 82 anos compreendido entre 1942 e 2024 o Rio avançou 16,55 quilômetros quadrados mar adentro, o equivalente a 2.318 campos de futebol como os do estádio do Maracanã.

— O primeiro aterro do Rio é feito no pé do antigo Morro do Castelo. Ele se estende pela antiga praia de Dom Manuel, que dá origem à atual Rua Dom Manuel e vai até a Praça Quinze. A praia ia até a antiga Sé. Todo esse trecho é um aterro do século 18. O próprio Paço Imperial é inteiramente construído sobre aterro — explica Paulo Knauss professor do Departamento de História da UFF e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB).
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Na Zona Sul, a Lagoa Rodrigo de Freitas segue firme e forte, cartão-postal queridinho de turistas e cariocas. Mas encolheu bem, quase a metade. Comparando a área de espelho d’água registrada em 1809 com a do ano passado são 46% a menos. Saiu de 4,1 para 2,2 quilômetros quadrados. A intensificação dos aterros ali se deu já no século 20 como mostra estudo elaborado pelo IPP tendo como base dados de 1928, 1942, 1975, 1999 e 2024.
Olhando para o desenho original da Lagoa sobreposto ao mapa atual verifica-se que boa parte da pista e um pedaço da sede do Jóquei Club do Brasil e a Praça Santos Dumont, a sede do Flamengo e o Selva de Pedra, e a Sociedade Hípica Brasileira estão em terrenos conquistados por meio de aterros.
— Desde o início da ocupação, transformar o espaço é uma forma de adaptação e o aterro é uma dessas transformações. No caso do Rio, os estudos de monitoramento do uso do solo mostram várias funções diferentes para esses aterros ao longo do tempo — explica o geógrafo Leandro Souza, gerente de Cartografia do IPP — Se olharmos para a Zona Norte, no limite com a Baixada Fluminense, vemos uma série de aterros ao longo do século XX. Toda aquela área do Fundão, do Canal do Cunha, da Maré, parte do Mercado de São Sebastião, tudo isso foi aterrado em épocas diferentes, com finalidades também distintas.



Com informações da fonte
https://extra.globo.com/rio/noticia/2025/10/centro-do-rio-perdeu-lagoas-que-deram-lugar-a-locais-iconicos-descubra.ghtml

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