Autoridades do governo Trump responderam nesta segunda-feira ao assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, morto a tiros em um evento na Universidade de Utah Valley. As lideranças ameaçaram usar todo o peso do governo federal contra o que alegaram ser uma “rede de esquerda que financia e incita a violência”. Elas se valem do ataque ao influenciador para fazer alegações amplas e sem fundamento sobre seus oponentes políticos.
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Enquanto os investigadores ainda trabalham para identificar o que motivou a ação do atirador, o governador republicano de Utah, Spencer Cox, disse que o suspeito tinha uma “ideologia esquerdista” e que agiu sozinho. A Casa Branca e os aliados do presidente Donald Trump sugeriram que ele fazia parte de um movimento coordenado que fomentava a violência contra conservadores — sem apresentar evidências da existência de tal rede. Os Estados Unidos têm visto uma onda de violência em todo o espectro político, visando democratas e republicanos.
Dois altos integrantes do governo, que falaram anonimamente ao New York Times para descrever o planejamento interno, afirmaram que secretários de gabinete e chefes de departamentos federais estavam trabalhando para identificar organizações que financiavam ou apoiavam a violência contra conservadores. O objetivo, disseram eles, era categorizar as atividades de esquerda que levavam à violência como terrorismo doméstico, uma escalada que, segundo os críticos, poderia preparar o terreno para esmagar a dissidência anticonservadora de forma mais ampla.
Alguns dos funcionários do mais alto escalão de Washington usaram o podcast de Kirk, The Charlie Kirk Show, para apresentar seus planos.
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De seu escritório oficial na Casa Branca, o vice-presidente JD Vance atuou como apresentador convidado do podcast, levando membros seniores do governo, incluindo Stephen Miller, o principal assessor político do presidente, para elogiar Kirk e, ao mesmo tempo, detalhar seus planos para reprimir o que chamavam de organizações não governamentais de esquerda. O programa foi transmitido na sala de imprensa da sede do governo e em vários escritórios da Ala Oeste.
Em seus comentários, Vance e Miller falaram em termos vagos e ameaçadores sobre grupos de extrema esquerda que, segundo eles, facilitavam a violência. O segundo disse que uma ação formal estaria por vir, com agências federais erradicando o que ele chamou de “movimento terrorista doméstico”, e que eles fariam isso em nome de Kirk.
— Com Deus como minha testemunha, vamos usar todos os recursos que temos no Departamento de Justiça, na Segurança Interna e em todo o governo para identificar, desmantelar, eliminar e destruir essa rede e tornar os Estados Unidos seguros novamente para o povo americano.
Eles elogiaram o compromisso de Kirk com a liberdade de expressão, ao mesmo tempo em que ameaçaram cobrar um preço da “extrema esquerda”, que acusaram de fomentar a violência política nos Estados Unidos.
Um funcionário do governo disse que as autoridades iriam investigar as pessoas por trás da recente queima de carros Tesla e dos ataques contra agentes de imigração, e procurariam estabelecer ligações entre esses episódios e grupos liberais organizados.
Trump culpa extrema esquerda
Após o assassinato de Kirk, Trump imediatamente culpou a “extrema esquerda” por grande parte da violência política no país e pareceu desculpar a violência da direita, dizendo que ela era motivada por pessoas que “não querem ver crimes”. Ele também prometeu investigar quem estava financiando e organizando a esquerda, sugerindo que a violência era de alguma forma coordenada.
— Vi, pelo canto do olho, um homem com macacão e botas de trabalho.
John Cohen, um oficial de inteligência que trabalhou nos governos Biden, Obama e Bush, disse que os Estados Unidos estavam “imersos em uma epidemia de ataques direcionados e tiroteios em massa”, mas também observou que as alegações do governo foram feitas antes da conclusão da investigação sobre o assassinato de Kirk.
— Os resultados da investigação sobre o assassinato de Charlie Kirk não foram divulgados e não está claro se as autoridades policiais têm uma visão completa e abrangente do que motivou esse indivíduo — pontuou Cohen. — Não é função das autoridades policiais ou agências governamentais policiar o pensamento. É função das autoridades policiais prevenir atos de violência e atividades criminosas.