Com informações do Diário do Rio. Barulho fora de hora segue sendo um dos principais motivos de ligação para o 190 no Rio de Janeiro. Um levantamento inédito do Instituto de Segurança Pública (ISP)mostra que, em 2024, o serviço da Secretaria de Estado de Polícia Militar recebeu 15.437 chamadas classificadas como “Perturbação do Trabalho ou Sossego Alheio”. Na prática, isso significa uma média de 42 denúncias por dia em todo o estado.
O estudo analisou o período de 2022 a 2024 e cravou um padrão: os fins de semanaconcentram o maior número de registros, com mais da metade das chamadas acontecendo entre 22h e 2h da manhã. É o horário em que festas, som alto e barulho de bares, carros de som e reuniões em casa acabam virando problema de convivência – e caso de polícia.
A pesquisa também indica que os meses de junho e julho tiveram os picos mais altos de ligações. Outro dado relevante é o tempo gasto em cada ocorrência: o atendimento médio leva cerca de 60 minutos, desde o acionamento até o encerramento. Metade desse tempo é consumida no deslocamento da viatura até o endereço; a outra metade corresponde à permanência da equipe no local, tentando resolver a situação.
Para a diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz, esses números ajudam a dimensionar o esforço empregado em cada queixa de barulho.
“Cada ligação para o 190 mobiliza uma estrutura que envolve um grande esforço, desde o recebimento da denúncia até o encerramento do atendimento. A duração média desses atendimentos evidencia a complexidade das ocorrências relacionadas ao direito ao sossego, as quais exigem soluções que impeçam o agravamento dos conflitos. A dedicação das equipes em situações de perturbação do sossego, muitas vezes invisibilizada, merece ser prestigiada”, destaca Marcela Ortiz.
Ela também reforça o papel do 190 como uma espécie de válvula de segurança para conflitos que podem sair do controle.
“Esse canal é extremamente necessário para evitar que a escalada dos conflitos evolua para situações mais graves, como agressões físicas e morais ou até mesmo casos extremos como homicídios. Embora o foco deste estudo seja o Serviço 190, é fundamental reconhecer que o enfrentamento da perturbação do sossego exige a atuação articulada de diferentes serviços públicos”, afirma a diretora-presidente do ISP.
O secretário de Estado de Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes, classifica a perturbação do sossego como um problema constante e difícil de resolver apenas com a presença da polícia.
“Esse tipo de ocorrência tem impactos negativos na saúde, na qualidade de vida e nas relações sociais. O grande volume de chamadas para esse tipo de atendimento mostra que o 190 é o principal canal buscado pelo cidadão em momentos de necessidade imediata e que a Polícia Militar vem fazendo sua parte, diante de um problema que é de convivência e, simultaneamente, de segurança pública”, avalia Marcelo de Menezes.
O estudo ainda detalha o desfecho das ligações. De todas as chamadas registradas como perturbação do sossego, um terço acabou reclassificado como “Providência dispensada” – casos em que, após a avaliação, não houve necessidade de ação adicional. Em 25,9% das ocorrências, nada foi constatado quando a equipe chegou ao endereço. Em 14,3%, a perturbação foi confirmada pela Polícia Militar, e em 12,1%das chamadas o solicitante não foi encontrado.
Os dados ajudam a mostrar um quadro que mistura problemas de convivência, saúde e segurança pública, com o 190 funcionando como porta de entrada para conflitos que começam com som alto e, sem intervenção, podem escalar para algo maior.

