Em “Dona de mim”, Peter mostra que uma pessoa com deficiência é capaz de realizar tudo o que deseja, sem limites para sonhar. Intérprete do personagem, Pedro Fernandes também prova por “A mais B” que o lugar do PCD é onde ele quiser. O ator, de 33 anos, tem paralisia cerebral com cognitivo preservado, mas nunca deixou que sua condição o parasse. Cria de Petrópolis, ele mora há dois anos sozinho na Lapa, Centro do Rio. Entre uma folga e outra, frequenta bares do bairro e costuma ir à praia. Longe das telinhas, o ator também dá expediente como palhaço do Doutores da Alegria (grupo que faz visitas a hospitais públicos).
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Hoje, Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Física, Pedro dá voz a milhares que vivem em condições semelhantes. Embora a cidade não tenha boa infraestrutura para indivíduos que utilizam cadeira de rodas, com calçadas sem acessibilidade, o artista capricorniano afirma que sua maior luta é contra o preconceito.
Qual é a importância do Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Física?
É uma data em que fortalecemos a nossa luta e lembramos a existência dos nossos corpos. As pessoas sempre tratam a deficiência como algo a ser superado, mas é uma condição humana. A gente pode contar outras histórias que não sejam só sobre superação. O recado que dou para os PCDs é que não desistam da luta. Nossa batalha é diária e fundamental para que possamos ter uma sociedade mais igualitária e menos capacitista e preconceituosa.
Pedro Fernandes, o Peter de ‘Dona de mim’
Mandawa Estúdio/Divulgação
Como é a sua rotina?
Na hora do meu parto, faltou oxigênio no cérebro, e isso acabou afetando a parte motora. Mas consigo fazer tudo normalmente. Dá para ficar de pé com ajuda, ter outra possibilidade do movimento, com autonomia. Tenho uma estrutura privilegiada, porque posso pagar uma pessoa para me ajudar. Minha rede de apoio é muito grande e fundamental. A maioria dos lugares não é pensada para nossos corpos. As ruas não são preparadas para uma pessoa com cadeiras de rodas. A maioria dos ônibus não é adaptada: ou o equipamento está quebrado, ou o condutor não sabe usá-lo. Existe essa barreira, mas existem formas de vencê-la, como a educação.
O que o teatro mudou na sua vida? Seus pais o apoiam?
O teatro me deu autonomia sobre o meu corpo e um lugar no mundo. Em 2023, fiz uma peça chamada “Meu corpo está aqui”, a Rosane (Svartman, autora de “Dona de mim”) assistiu e me convidou para a novela. Meus pais sempre tiveram medo de não dar certo, mas me apoiaram. Quando eu estudava teatro no Rio, mas ainda morava em Petrópolis, meu pai ficava correndo na Lagoa, fazendo hora. Ele me esperava até eu voltar.
Como lida com o preconceito?
Tenho que brigar contra dois preconceitos, porque sou PCD e LGBT, mas fui criado sabendo que é possível avançar. Já passei por diversas situações que foram superadas. No início da minha carreira, um professor falou para eu escolher outra coisa, pois eu não servia para ser ator. Não guardo rancor nem mágoa. Acho que ele nunca havia convivido com corpos com deficiência.
Qual é a relevância para a sociedade de um personagem como Peter?
Durante um bom tempo, a gente tinha pessoas sem deficiência representando papéis de PCDs. É significativo agora abrir um novo momento dentro da dramaturgia. Significa naturalizar o corpo com deficiência, mostrando que podemos trabalhar, estudar, namorar… A gente vem lutando tanto para ter essa visibilidade! As pessoas com deficiência se sentem muito representadas pelo Peter. E o público está se educando. Quando um fã me encontra na rua para tirar foto, pergunta se pode me tocar e me abraçar. Antes, não perguntavam pra mim, mas para meu acompanhante. As pessoas agora direcionam suas falas aos PCDs, me enxergam como ser humano.
Nina (Flora Camolese) e Peter (Pedro Fernandes) em ‘Dona de mim’
Estevam Avellar/Rede Globo
Nas gravações de “Dona de mim”, há algum cuidado especial?
Sou tratado como qualquer ator. A equipe toda da novela é muito participativa e sensível. Eles sempre perguntam como vou me sentir em cena, deixam a gente criar junto também. Os diretores e os próprios autores têm uma escuta muito ativa, o que é superimportante. Geralmente, o que está escrito é adaptado, independentemente se o ator é PCD. Nunca acontece o que está descrito nas cenas a ferro e fogo.
Peter e Nina (Flora Camolese) vão se entregar ao amor?
Tem muita coisa para acontecer. A minha torcida é para que ele se encontre por completo. Ele está furando a bolha da superproteção do pai, está descobrindo o mundo. Peter se permite experimentar as dificuldades e os prazeres da vida. E está certo, tem que se empoderar!
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Com informações da fonte
https://extra.globo.com/entretenimento/tv/noticia/2025/10/ator-de-dona-de-mim-diz-que-teatro-o-ajudou-a-conviver-com-a-paralisia-cerebral-deu-autonomia-sobre-o-meu-corpo.ghtml
Ator de 'Dona de mim' diz que teatro o ajudou a conviver com a paralisia cerebral: 'Deu autonomia sobre o meu corpo'

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