App do CV cobrava até o dobro de aplicativos legalizados em corridas e obrigava mototaxistas a pagarem taxa mensal

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Uma corrida de mototáxi no aplicativo criado pela facção Comando Vermelho, na Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio podia custar até o dobro do valor cobrado por plataformas regulares. Uma simulação feita pela Polícia Civil durante as investigações mostrou a diferença: o trajeto entre a Avenida Rio Branco e a Rua da Assembleia, no Centro, saiu por R$ 35,90 no chamado “app do crime”. Enquanto uma simulação do mesmo trajeto num aplicativo regularizado custaria R$ 15,96. A cada corrida, de 20% a 30% do valor pago pelo passageiro era repassado diretamente para a facção, além de uma taxa mensal obrigatória que era paga pelos mototaxistas da comunidade.
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O serviço, batizado de Rotax Mobili, operou por três meses e foi banido das lojas Google Play e Apple Store há um mês. No período em que esteve ativo, impedia que aplicativos regulares funcionassem nas áreas dominadas, obrigando moradores a recorrer à plataforma controlada pelo Comando Vermelho (CV) e pela facção rival Amigos dos Amigos (ADA). Os mototaxistas cadastrados podiam aceitar corrida da comunidade para qualquer destino da cidade. Todo trajeto feito pelos trabalhadores, bem com dados pessoais, eram monitorados pelos traficantes.
App do crime
Reprodução
Divulgado de forma informal, o app era apresentado pelos próprios traficantes como “o único que passa pela barricada e te deixa na porta de casa”. Por trás da promessa, havia um esquema milionário: a facção chegou a arrecadar R$ 1 milhão por mês, dinheiro que era repassado diretamente para a chamada “caixinha do tráfico”.
Segundo a investigação, cerca de 300 mototaxistas foram coagidos a se cadastrar e trabalhar exclusivamente para o sistema. Os criminosos também forçavam moradores a utilizar o serviço, que era protegido por ameaças. Em grupos de WhatsApp, o recado era claro: “Ó, vamos respeitar, hein? Se não estiver levando seu plantão à risca, já sabe, né? Não vai falar depois que somos carrascos…”.
App do crime
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O “Rotax Mobili” foi criado após uma reunião estratégica no início deste ano entre Edgar Alves de Andrade, o Doca, integrante da cúpula do CV, e Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, chefe da ADA. A autorização final partiu de Jorge Alexandre Cândido Maria, o Sombra, líder do CV na Vila Kennedy. Para dar aparência de legalidade, empresas de fachada foram utilizadas no desenvolvimento e operação do aplicativo.
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Segundo a polícia, a criação da plataforma fez parte de um acordo mais amplo entre as duas facções para expandir a atuação criminosa, incluindo o controle do transporte alternativo, principalmente em regiões da Zona Oeste e com planos de chegar à Rocinha, na Zona Sul.
— Num primeiro momento, recebemos informações de que um grupo criminoso estava implementando um aplicativo na região e impedindo que outros também atuassem. A partir de coações e ameaças, esses mototaxistas eram obrigados a instalar o aplicativo e, no momento em que a corrida era aceita, parte dos valores eram repassados diretamente a esse grupo criminoso — afirmou o delegado titular da 34ª DP (Bangu), Alexandre Netto, completando: — Não é só uma questão financeira, mas de controle da mobilidade urbana. É definir quem pode entrar, quem pode sair e para onde vai.



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