Após 32 anos e dois julgamentos, júri não chega a veredito em caso de assassinato ocorrido em Nova York; entenda

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Montagem com Deborah Meindl e Richard Matt — Foto: Reprodução/Redes sociais


Trinta e dois anos depois de uma mulher ter sido brutalmente assassinada em um subúrbio de Buffalo, um júri informou, nesta segunda-feira (6), que não conseguiu chegar a um veredito no novo julgamento de um homem acusado pelo crime.

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O réu, Brian Scott Lorenz, havia sido condenado em 1994 pelo estrangulamento de Deborah Meindl, ocorrido em 1993, junto de um cúmplice, James Pugh. Ambos receberam pena de prisão perpétua, mesmo declarando inocência, e iniciaram uma longa batalha para provar a exoneração.

Esse esforço ganhou força em 2023, quando as condenações foram anuladas pelo juiz Paul B. Wojtaszek, da Suprema Corte do Estado de Nova York. O magistrado destacou que nenhum material genético da cena do crime correspondia aos dos réus e que a promotoria havia ocultado provas da defesa.

Após um novo julgamento e quase cinco dias de deliberação, o júri declarou que não conseguiu chegar a uma decisão.

“Após considerável discussão, não conseguimos chegar a uma decisão unânime”, escreveu o grupo, acrescentando que “nenhuma quantidade” de deliberação adicional ajudaria.

O juiz Wojtaszek afirmou que as partes decidirão ainda neste mês como o caso deve prosseguir. Lorenz, de 56 anos, manteve-se calmo e sereno durante o julgamento, sem prestar depoimento. Após o anúncio, cumprimentou seus advogados, deu de ombros e retornou à cela.

Promotoria quer novo julgamento

Na tarde de segunda-feira, o promotor distrital do Condado de Erie, Michael J. Keane, indicou que pretende buscar um terceiro julgamento para Lorenz.

“Meu gabinete está comprometido em obter justiça para Deborah Meindl”, disse em nota. “Apresentaremos as provas novamente no tribunal.”

Já o advogado de defesa, Ilann M. Maazel, afirmou que seu cliente “continuará lutando”.

“Ele é um homem inocente”, disse Maazel. “Está vivendo um pesadelo.”

O resultado também abalou a família da vítima, especialmente a filha sobrevivente, Lisa Payne, que acompanhou o julgamento na primeira fila. Em uma longa declaração, ela expressou frustração pela falta de respostas.

“Não há justiça, nem paz, nem encerramento, nem verdade”, escreveu Payne. “Quando finalmente poderei lamentar a morte da minha mãe? Será que um dia ela poderá realmente descansar em paz?”

Crime brutal e provas contestadas

A defesa ressaltou que nenhuma evidência física ligava Lorenz ou Pugh ao assassinato: nenhum DNA, impressão digital, cabelo ou fibra, e nenhuma testemunha ocular.

A promotoria sustentou que o crime foi um roubo malsucedido e que Lorenz teria contado o ocorrido a várias pessoas, “às vezes de forma quase alegre”.

O caso chamou atenção pela violência inesperada em um subúrbio da classe trabalhadora e pela tortuosa busca por um culpado — um caminho repleto de acusações e reviravoltas.

Na tarde de 17 de fevereiro de 1993, Deborah Meindl, mãe de duas meninas, foi espancada, esfaqueada e estrangulada com a gravata do marido em sua casa, em Tonawanda, ao norte de Buffalo. A cena do crime mostrava sinais de luta: cacos de vidro, móveis virados e uma tela de janela cortada de dentro para fora.

“Ela lutou por si mesma; lutou por suas filhas”, afirmou a promotora Rebecca L. Schnirel na argumentação final.

A defesa, porém, descreveu as testemunhas como inconsistentes e coagidas por um detetive, destacando a ausência de DNA do acusado na cena.

“Ele não estava lá”, afirmou o advogado Earl S. Ward. “O DNA não mente.”

Apesar da fragilidade das provas, Keane insistiu em levar o caso adiante, afirmando que Lorenz “havia confessado várias vezes”. Muitos depoimentos foram lidos a partir do julgamento original, já que várias testemunhas morreram desde então.

Novas investigações e incertezas

Os esforços pela exoneração começaram em 2018, quando advogados obtiveram autorização judicial para novos testes de DNA. O resultado foi surpreendente: nenhum vestígio genético dos réus estava nas provas. Em contrapartida, o DNA de uma pessoa desconhecida apareceu em objetos usados no crime — entre eles, uma faca, as roupas da vítima e a gravata usada no estrangulamento. (A promotoria alegou que os agressores usavam luvas.)

Em 2021, o então promotor John J. Flynn ordenou nova investigação, conduzida por dois promotores veteranos. Eles concluíram que a verdadeira autoria poderia ser de Richard Matt, um assassino da região que ganhou notoriedade após fugir da prisão em 2015 e morrer em confronto com a polícia.

O juiz Wojtaszek, porém, descartou a hipótese em 2023, chamando-a de “mera especulação”.

Mesmo com a anulação da sentença, Lorenz permaneceu preso — teve o pedido de fiança negado. Já James Pugh, de 63 anos, libertado em liberdade condicional, será julgado novamente em dezembro.

Durante o julgamento, Lisa Payne chegou a conversar com apoiadores de Lorenz, incluindo sua esposa, Joanne, que classificou o impasse do júri como “devastador”.

“Estamos tentando manter o ânimo dele”, disse Joanne. “Agora só resta esperar.”

A irmã de Lisa, Jessica, que encontrou o corpo da mãe em 1993, morreu em 2020, aos 37 anos, após lutar contra o vício em drogas.

“Recebemos ‘justiça’, ou assim disseram, em 1994”, escreveu Lisa. “Mas continuamos sem respostas. Mesmo 32 anos depois, ainda me pergunto: por quê?”



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2025/10/07/apos-32-anos-e-dois-julgamentos-juri-nao-chega-a-veredito-em-caso-de-assassinato-ocorrido-em-nova-york-entenda.ghtml

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