Antes de ser investigado como o mentor intelectual de um furto cinematográfico, praticado em fevereiro deste ano, o empresário Alexandre Ceotto André tentou reaver R$ 150 mil investidos em uma suposta pirâmide financeira envolvendo criptomoedas. O processo, distribuído em setembro de 2021 na 2ª Vara Cível da Região Oceânica, tem como rés três empresas ligadas ao empresário Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como o “Faraó dos Bitcoins”, preso durante a Operação Kriptos, deflagrada pela Polícia Federal.
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Segundo a petição inicial, Ceotto assinou em junho de 2021 um contrato de “terceirização de trader de criptoativos” com a GAS Consultoria e Tecnologia Ltda., que prometia rentabilidade de 10% ao mês sobre o capital investido. O documento previa que o valor só poderia ser resgatado após 24 meses e caracterizava o negócio como “irrevogável e irretratável”.
A intermediação da operação teria sido feita pelo chamado “Escritório Charitas”, nome fantasia da JVR Consultoria Eireli, com sede na Glória, no Rio. De acordo com o processo, foi por meio desta empresa que ocorreram as transações bancárias e as tratativas que precederam a assinatura do contrato.
No processo, Ceotto alega que, dois meses após o investimento, tomou conhecimento, através da imprensa, da deflagração da Operação Kriptos, em 25 de agosto de 2021. Na ocasião, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Receita Federal apreenderam mais de R$ 150 milhões por determinação da 3ª Vara Federal Criminal do Rio, investigando um suposto esquema de pirâmide financeira que se escondia por trás das operações com bitcoins. O processo encontra-se suspenso desde setembro de 2022, aguardando os desdobramentos da recuperação judicial das empresas.
Na ação, os advogados de Ceotto argumentam que o contrato deveria ser anulado por ilicitude do objeto e simulação, já que não há provas de que a empresa efetivamente investiu em criptoativos. Além da anulação do negócio jurídico e da devolução dos R$ 150 mil, o autor pede indenização por danos morais no valor de R$ 15 mil. O processo encontra-se suspenso desde setembro de 2022, aguardando os desdobramentos da recuperação judicial das empresas.
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Anos depois de sofrer este prejuízo, Ceotto, uma pessoa da classe média alta de Niterói, foi apontado por uma investigação da Polícia Civil como o mentor intelectual de um furto em um apart-hotel de luxo no bairro do Gragoatá. O crime ganhou repercussão pelas características, como o uso de uma máscara de silicone. Os itens foram usados pelo advogado Luís Maurício Gualda, que executou o plano, para enganar câmeras e vigilantes e que também perdeu dinheiro em investimentos em criptomoedas no final do ano passado.
Em seu depoimento, ao qual O GLOBO–Niterói teve acesso, o advogado contou que perdeu quantias expressivas em investimentos malsucedidos, o que o deixou com uma dívida milionária e sem alternativas para quitar suas obrigações. Foi nesse contexto, segundo a confissão, que Ceotto teria sugerido o crime. O advogado relatou que, durante uma festa, em dezembro do ano passado, desabafou sobre as dificuldades financeiras, e o amigo lhe apresentou a ideia de furtar o apartamento da vítima, Antonio Carlos Moreira, grão-mestre maçônico de Ceotto, afirmando que o empresário guardava US$ 1 milhão.
Após descobrir a participação de Ceotto no crime, a vítima relatou viver sob constante preocupação desde então. Em depoimento prestado em 8 de maio, o empresário afirmou que Ceotto estava insistindo em procurá-lo, inclusive aparecendo de surpresa em seu local de trabalho, no dia 6 de maio. Ele descreveu o réu como uma pessoa de temperamento agressivo, praticante de artes marciais e portador de arma de fogo, o que tem lhe causado medo e sensação de vulnerabilidade.
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“Tenho medo do que o Ceotto possa fazer. Ele vem me procurando insistentemente, apareceu de surpresa no meu trabalho, e sei que é uma pessoa de temperamento violento, que anda armada. Minha preocupação é também com a minha esposa, porque ele tem acesso livre ao condomínio onde moro e poderia entrar a qualquer momento”, disse a vítima em seu terceiro depoimento dado à polícia.
Logo que soube do arrombamento de seu apart-hotel, Antonio, em depoimento à Polícia Civil, no dia seguinte ao crime, relatou “que o furtador arrombou a porta da sala, a única porta de entrada do apartamento, e levou o cofre fechado” E disse que no interior do objeto havia passaporte com visto americano, diversos objetos de ouro, como terços, braceletes e alianças, R$ 45 mil em espécie, relógio da marca Rolex de aço e ouro.
Em segundo depoimento, afirmou que, ao verificar o local com mais calma, percebeu apenas a ausência de relógios de luxo das marcas Tissot, Tag Heuer, Citizen, Nike e Diesel, avaliados em R$ 88.400, fato negado por Gualda.
A primeira audiência sobre o caso acontece no dia primeiro de dezembro, as 13h30, na na 4ª Vara Criminal de Niterói.

