A longa espera: saiba quem são os detentos mais famosos no corredor da morte pelo mundo

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Entre todas as punições previstas pela Justiça, a pena de morte talvez seja a mais angustiante. São longos e arrastados anos de espera e apelações até que a punição capital seja executada. O caso da idosa britânica que está no corredor da morte na Indonésia há 12 anos, após ser condenada por tráfico de drogas, e que disse desejar “morrer logo”, reacendeu a questão dos detentos que esperam longamente a aplicação execução, raramente revertida. A seguir, conheça alguns dos casos mais emblemáticos de quem enfrenta a contagem regressiva para o fim da vida decretado pela Justiça.
Supremacista branco assistiu 45 minutos ao culto antes de matar fiéis negros em igreja nos EUA
Dylann Roof, hoje com 31 anos, foi condenado à morte pelo massacre de nove cidadãos negros na Igreja Metodista Episcopal Africana Mother Emanuel, em Charleston (Carolina do SUl, EUA), em 2015.
Na época com 21 anos, Roof permaneceu cerca de 45 minutos sentado assistindo ao culto antes de abrir fogo. Preso no dia seguinte, ele admitiu o crime sem demonstrar arrependimento, segundo policiais envolvidos na captura.
A acusação federal contra Dylann Roof o acusa de nove assassinatos e três tentativas de homicídio
Reprodução da TV
Em abril deste ano, sua defesa apresentou nova moção alegando que o julgamento que resultou na pena de morte foi marcado por “erros, omissões e parcialidade” do juiz.
O caso ainda gerou polêmica quando veículos de imprensa divulgaram, à época, a informação de que a polícia teria levado o jovem para comer num restaurante fast-food após a prisão. Em entrevista a TV americana WBTV, em junho deste ano, os agentes afirmaram que compraram comida para ele antes de levá-lo à delegacia.
“Isso foi exagerado, não aconteceu. Mas acho que lhe ofereceram comida, não temos um café na nossa sede. Tivemos comida trazida de qualquer lugar, pode ter sido um hambúrguer, não tenho certeza, provavelmente era do Burger King, não sei o que ele comeu.”, disse o ex-chefe de polícia de Shelby, Jeff Ledford.
Mulher matou o próprio filho autista para receber seguro de R$ 947 mil
Mãe de dois filhos, Christie Michelle Scott, de 45 anos, foi condenada à morte em 2009 por provocar o incêndio que matou seu filho de 6 anos, em Russellville (EUA). O caso ocorreu em 2008, quando ela e o filho mais novo, de 4 anos, que estavam juntos no mesmo quarto, conseguiram escapar das chamas, enquanto Mason morreu sozinho no cômodo ao lado.
Christie Michelle Scott
Reprodução / CBS
A investigação concluiu que o fogo foi criminoso. Peritos apontaram que o detector de fumaça da casa havia sido quebrado por ela. Testemunhas relataram que Christie rejeitava o filho e agiu com indiferença ao pedir ajuda a uma vizinha durante o incêndio.
Uma das acusações sustentou que Christie matou o menino para receber o valor de uma apólice de seguro de vida de US$ 150 mil (cerca de R$ 947 mil). Embora o júri tenha recomendado prisão perpétua, o juiz optou pela pena de morte, que ela cumpre até hoje.
Condenado por matar mãe, irmã e sobrinhos de ex-astro da NFL
Tiequon Cox, hoje com 59 anos, aguarda no corredor da morte desde 1986 pelo assassinato da mãe, da irmã e de dois sobrinhos do ex-jogador de futebol americano Kermit Alexander, num crime que aconteceu em Los Angeles (Califórnia, EUA), no auge da carreira do astro do futebol americano, dois anos antes.
Tiequon Cox
Reprodução / Polícia de Los Angeles
Em agosto de 1984, membros da gangue Rollin’ 60 Crips invadiram a casa da família, quando executaram a mãe do ex-atleta Ebora Alexander na cozinha, enquanto tomava café, sua irmã Dietra, que tinha 23 anos, no quarto, e os sobrinhos Damon Bonner, de 8 anos, e Damani Garner, de 10, enquanto dormiam num dos quartos.
Alexander, que precisou identificar os corpos, disse que a tragédia mudou sua vida para sempre.
“Me transformou de uma pessoa amante da paz em um assassino em potencial. Um dos motivos pelos quais consegui deixar de lado minha vingança foi acreditar que o Estado de Direito deveria prevalecer”, revelou o ex-jogador a BBC, em 2020.
A polícia levou dois meses para prender o asssassino. Tiequon Cox foi condenado à morte em 1986, enquanto seus cúmplices receberam prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.
Condenado à morte há 23 anos, Richard Glossip já fez três ‘últimas refeições’ e se casou duas vezes sob custódia
Condenado à morte desde 1997, o americano Richard Glossip já teve três execuções agendadas suspensas, realizou três “últimas refeições”, e se casou duas vezes. Até hoje, o homem se declara inocente.
O acusação contra Richard remonta a 1997, quando as investigações apontaram que ele teria sido o mandante do assassinato cometido por Justin Sneed, contra seu então chefe, no estacionamento da loja em que trabalhavam, cometido com um taco de beisebol. Em 2001, o caso foi arquivado por falta de provas, mas foi reaberto em 2004, quando novas testemunhas foram ouvidas. Richard voltou a ser condenado e teve a pena de morte confirmada em 2007.
Richard Glossip, que está há décadas no corredor da morte por um plano de assassinato de aluguel em 1997
Reprodução / Centro de Detenção do Condado de Oklahoma
Desde então, três tentativas de execução foram adiadas. Em 2015, ele chegou a comer três vezes a “última refeição” oferecida aos condenados. Numa delas, a execução foi interrompida minutos antes por um erro na escolha da droga correta que o mataria. Nas outras ocasiões, houve adiamento por revisões jurídicas e administrativas.
Em novos depoimentos, ex-companheiros de cela de Justin, afirmaram que o verdadeiro assassino mentiu sobre a participação Richard para evitar sua própria execução. Mesmo assim, a Justiça de Oklahoma rejeitou as alegações.
Em 2022 e 2023, o governador e o procurador-geral do estado pediram novos adiamentos, alegando dúvidas sobre a condenação. A defesa recorreu à Suprema Corte com novas evidências e, atualmente, Glossip segue aguardando uma definição final enquanto sua condenação é alvo de debates sobre falhas no sistema judicial e a aplicação da pena de morte nos EUA.
Implora para ser executado
Scotty Gardner está no corredor da morte no Arkansas, EUA
Reprodução/Arkansas Department of Corrections
Scotty Ray Gardner, de 60 anos, está no corredor da morte no Arkansas (EUA) desde a sua rápida condenação em 2018 por estrangular sua namorada até a morte com um modelador de cachos e roubar seus pertences para jogar em um cassino próximo.
Atualmente, o condenado está implorando ao Estado que o execute, após uma ação judicial movida por outros 10 detentos paralisou as execuções por causa do método aplicado, que “provoca sofrimento desumano e prolongado”.
Em mensagem escrita ao jornal “USA Today”, o condenado disse que espera morrer logo para ser finalmente “libertado” da sua caverna, “uma cela infestada de mofo, encanamento precário e uma pia e um ralo no chão por onde insetos entram e saem constantemente”.
Médico que queria salvar vidas é condenado à morte no Irã
Autoridades iranianas executaram pelo menos 841 pessoas em 2025, segundo informou o escritório de direitos humanos da ONU no fim de agosto. Entre os que ainda aguardam no corredor da morte está o médico com dupla cidadania iraniana e sueca Ahmadreza Djalali, condenado por suposta espionagem a favor de Israel.
Ahmadreza Djalali
Reprodução / Anistia Internacional
Djalali foi convidado ao Irã em 2016 para ministrar seminários e aulas como especialista em medicina de emergência. Entretanto acabou preso pelo serviço de inteligência iraniano e acusado de fornecer informações secretas ao Mossad, a agência de inteligência israelense, que teriam sido usadas em atentados contra cientistas nucleares iranianos.
O médico nega as acusações. Seu advogado afirma que a confissão apresentada no processo foi obtida sob tortura. Segundo a ONG “Iran Human Rights”, Djalali permanece no corredor da morte sem data definida para a execução, que declaram poder ocorrer a “qualquer momento”.
‘Tenho pouco conhecimento’: Empresária está no corredor da morte por desviar 6% do PIB do Vietnã
Antes de outubro de 2022, Truong My Lan, de 68 anos, era um dos nomes proeminentes do setor imobiliário do Vietnã, motor da economia local, até estar envolvida no maior escândalo financeiro da História do país. Ela foi condenada à pena de morte ainda em primeira instância e, mesmo após apelação, o tribunal da cidade de Ho Chi Minh decidiu que não havia “nenhuma razão” para reverter a sentença.
Truong só enveredou pelo mercado de compra de terrenos e outras propriedades depois que o Partido Comunista promoveu uma reforma econômica, batizada de Doi Moi, em 1986. Poucos anos depois, na década de 1990, ela já era dona de um “grande portfólio de hotéis e restaurantes”, segundo a BBC. Troung fez parte de um grupo de vietnamitas que prosperou com a especulação imobiliária.
Truong My Lan chega a Corte vietnamita para julgamento de acusação de fraude
Reprodução / AFP
Ao longo dos anos, a magnata vietnamita passou a usar empresas de fachada e representantes para driblar a regulação local e construiu o seu império. Embora a lei do país vede que uma só pessoa detenha mais de 5% das ações de qualquer banco, Truong My Lan conseguiu somar mais de 90% de participação na Saigon Commercial Bank (SCB).
Famosa principalmente na cidade de Ho Chi Minh, ela liderou durante anos a imobiliária Van Thinh Phat e, em 2011, foi autorizada a promover uma fusão de três bancos menores no SCB. Truong foi presa em outubro de 2022, sob acusação de cometer um golpe contra mais de 40 mil pessoas, entre 2012 e 2022, por meio de um esquema de empréstimos do SC
Truong foi acusada de criar pedidos falsos de empréstimo para sacar dinheiro do banco num total correspondente a 93% de todo o crédito emitido pela instituição, diz a mídia estatal. Em abril deste ano, o júri rejeitou todos os argumentos da defesa de Truong My Lan, executiva da imobiliária Van Thinh Phat, acusada de cometer crimes e prejudicar o SCB ao longo de uma década.
Segundo a acusação, a partir de fevereiro de 2019, ela mandou que seu motorista retirasse o equivalente a US$ 4 bilhões em dinheiro do banco e guardasse no porão. Truong também teria subornado autoridades para encobrir a fraude.
Truong My Lan durante julgamento de acusação de fraude no Vietnã
Reprodução / AFP
“As ações dos acusados ​​(…) minaram a confiança do povo na liderança do Partido (Comunista) e do Estado”, afirmou a decisão do júri, noticiada pela imprensa estatal.
Na ocasião da condenação, a empresária negou as acusações e culpou os subordinados pelo ocorrido. Ela e os outros réus foram presos como parte de uma campanha nacional contra a corrupção.
Em sua declaração final ao tribunal, ela sugeriu que havia pensado em suicídio. “Em meu desespero, pensei na morte”, declarou Lan, segundo a mídia estatal. “Estou com tanta raiva por ter sido estúpida o suficiente para me envolver neste ambiente de negócios cruel, o setor bancário, sobre o qual tenho pouco conhecimento.”
Uma decisão de junho, entretanto, pode causar uma reviravolta no caso. O Vietnã aboliu a pena de morte para oito crimes, incluindo espionagem, corrupção e tentativa de derrubar o governo, segundo a mídia estatal. O advogado da incorporadora Truong My Lan, Giang Hong Thanh, disse à AFP que trabalhar para que a pena de morte seja convertida em prisão perpétua.
“Informei à Sra. Lan esta manhã, ela está muito feliz”, afirmou o advogado em junho.
Idosa britânica há 12 anos no corredor da morte na Indonésia: ‘Quero morrer logo’
Lindsay Sandiford, uma britânica de 69 anos, foi condenada à morte após ser presa em 2013 por tentar contrabandear cocaína no valor de 1,6 milhão de libras (cerca de RS 10 milhões) para a Indonésia na sua mala. Em conversa com outra detenta que cumpria dez anos de prisão, a idosa, após apelações e cansada da demora do desfecho do seu caso, disse desejar “morrer logo”.
Mãe de dois filhos, ela tinha se separado do marido, quando decidiu se mudar para a Índia, em 2012. Entretanto, ao chegar em Bali (Indonésia), após passar um período em Bangcoc (Tailândia), foi detida pela polícia, que encontrou uma “quantidade substancial” de cocaína na sua bagagem.
Lindsay Sandiford presa na Indonésia
AFP
Os advogados de Lindsay defenderam que a ré havia sido coagida a transportar o material pois estava enfrentando problemas de saúde mental. Os argumentos, entretanto, não convenceram os juízes, que a condenaram à pena de morte, em decisão contrária a recomendação da promotora responsável pelo caso, que indicava uma sentença de 15 anos.
À época, Lindsay recorreu da sentença sem contar com aconselhamento jurídico, pois havia esgotado seus recursos financeiros. Posteriormente, um financiamento coletivo arrecadou dinheiro suficiente para trazer uma advogada da Indonésia a Bali, mas, mesmo assim, não foi possível reverter a decisão.
Desde então, a avó de dois netos está detida na Prisão de Kerobokan, em Bali. A instalação, que deveria abrigar no máximo 300 prisioneiros, conta com mais de 1,4 mil detentos, em celas compartilhadas por homens e mulheres. De acordo com o jornal “Daly Star”, perturbações e brutalidades por parte dos guardas são ocorrências comuns no centro de detenção.
Atrás das grades, Lindsay criou laços com Heather Mack, conhecida como a “assassina da mala”. Em entrevista ao “Daily Star”, Heather, que cumpriu uma pena de dez anos pelo assassinato da própria mãe, observou que sua colega vinha nps últimos meses se isolando gradualmente das demais presas.
No corredor da morte, vovó britânica Lindsay Sandiford (ao centro), de 67 anos, brinca com neta
Divulgação/lindsaysandiford.org
“Ela gritava comigo sem motivo, mas mesmo assim eu fazia um esforço por ela”, relatou.
Numa conversa com Heather, Lindsay contou sobre o momento em que duas companheiras de cela foram executadas por crimes ligados ao tráfico de drogas.
“Não é exatamente uma morte que eu escolheria, mas também não escolheria morrer em agonia por causa de um câncer. Sinto que consigo lidar com isso. Mas quando acontecer, não quero que minha família venha. Não quero confusão nenhuma. A única coisa certa sobre a vida é que ninguém sai vivo”, teria dito a britânica, acrescentando que “deseja morrer logo”.
“Não será mais algo difícil para mim enfrentar”, disse ela, segundo a ex-presidiária.
A idosa teria confessado ainda que, embora tenha que enfrentar a execução, se sente “abençoada” por ter testemunhado seus dois filhos amadurecerem e por ter conhecido seus netos. “Meu pensamento é: ‘Se você quiser atirar em mim, atire. Vá em frente'”, teria dito Lindsay, enquanto aguarda no corredor da morte.
* estagiário sob supervisão de Fernando Moreira



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