Ex-top 35 em duplas, Marcelo Demoliner faz sucesso como influencer: 'Virei chacota. Mas me ajudou a criar casca e resiliência'

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Ao longo da carreira nas duplas, Marcelo Demoliner (88º do ranking e ex-top 35) decidiu pagar uma “dívida” com os amantes da bola amarela. Depois de vivenciar as particularidades do esporte, o atleta de 36 anos deixou a timidez de lado, superou preconceitos do meio e se encontrou de vez na versão “influencer”. Hoje com milhões de views, ele criou bordões com a inicial do seu próprio sobrenome — “DEMOnstrando” e “responDEMO” — contando, de forma criativa, os bastidores e a realidade financeira de um tenista em atividade que precisa equilibrar as premiações nos torneios com uma série de despesas (impostos, hospedagem, alimentação, transporte, encordoamento da raquete).
De onde surgiu a ideia de virar influenciador?
A palavra influenciador passou a estar muito presente na boca das pessoas. Em 2018, 2019, pensei: “Olha que legal o que o tênis tem me proporcionado, esse mundo tão diferente e único. O que eu poderia fazer para que as pessoas também pudessem participar disso?” São poucas as que têm essa sorte ou oportunidade de vivenciar os bastidores do tênis, que são de difícil acesso.
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Como foi, no início, “botar a cara” nas redes?
Cada vídeo ainda continua sendo um treinamento, porque nunca fiz curso ou qualquer coisa relacionada à comunicação. Nunca tive facilidade para falar em frente às câmeras. Sempre fui muito tímido desde criança, e lembro que, aos 14 ou 15 anos, fugia de qualquer entrevista. Aos poucos, fui perdendo o medo e aprendendo a me comunicar melhor na marra. Cresci como atleta e comunicador.
Em que momento você percebeu que tinha estourado a bolha do tênis?
Foi ali em 2020, durante a pandemia, quando as pessoas ficaram mais em casa. Quando comecei esse projeto, eu tinha cerca de 20 mil seguidores e, em dois ou três meses, se não me engano, esse número já havia triplicado. Sempre tive um engajamento muito bom, porque fui o primeiro a desbravar o mundo do tenista influenciador.
Como lida com duas profissões (tenista e influenciador)?
Eu não tenho muito tempo, porque o meu foco principal ainda é como jogador profissional de tênis, e isso consome grande parte do meu dia. Hoje, tenho três pessoas na minha equipe. Uma para edição, outras para ideias e roteirização. No começo, foi bem desafiador, porque criar os conteúdos tomava mais tempo. Hoje, é muito mais fácil.
Marcelo Demoliner precisou superar preconceito do meio tenístico quando virou influenciador
Divulgação/Marcelo Demoliner
Como foi a reação do meio do tênis quando você virou influenciador?
Virei chacota: “ah, influenciador, youtuber”, sempre com aquele tom meio debochado. Mas como era um projeto pessoal, algo que eu queria usar para mostrar um pouco da minha vida, nunca liguei. Isso me ajudou a criar casca e resiliência para continuar, mesmo com as adversidades do próprio circuito e de um ambiente que ainda carrega um certo “preconceito”, desdém.
Em que momento sentiu mais esse preconceito?
Isso vinha mais dos sul-americanos, só que mais ainda dos brasileiros, por conta da convivência mais próxima. E, claro, quando há mais intimidade, existe liberdade para fazer piadinhas. Eu sabia que era brincadeira, mas com um certo fundo de verdade. Sempre tive apoiadores e patrocinadores grandes nas redes sociais, e isso foi trazendo respeito também. Foi muito interessante passar pelo começo, ter sofrido esse “bullying”, aguentar firme e ver aonde cheguei hoje.
Seu engajamento cresceu após João Fonseca explodir?
É óbvio que qualquer coisa que o João fizer, falar ou deixar de fazer vai virar notícia e gerar engajamento. Eu não vou tirar vantagem disso, porque não acho certo e sempre procuro proteger meus colegas de trabalho. Mas é claro que vão existir pessoas que vão aproveitar a onda, tirar proveito disso, e tudo bem.
João Fonseca foi eliminado na segunda rodada do US Open
Elsa/Getty Images/AFP
Por que tem tanta convicção dessa postura?
Eu evito ao máximo falar sobre amigos próximos ou jogadores brasileiros. Quando surge algum assunto em pauta e sinto que realmente preciso emitir uma opinião, aí sim eu falo. Faço isso principalmente para proteger os tenistas, porque o tênis é um esporte muito difícil, solitário e exige muito da mente e do corpo. Você precisa estar praticamente 100% todos os dias.
Sente que falta essa proteção no início da carreira do João?
As pessoas que estão entrando no esporte por causa do João Fonseca precisam entender que não é tão fácil assim, que os resultados não serão sempre constantes. Ele tem apenas 19 anos e está passando, aos poucos, por um processo de amadurecimento e crescimento pessoal. O João está atraindo pessoas de fora do mundo do tênis, e isso é só o começo. Eu sempre digo que, nos próximos cinco anos, o esporte vai crescer muito no Brasil.
Por que conteúdos sobre orçamentos bombam tanto?
Ninguém nunca trouxe os números reais de como é ser tenista, porque temos muitos gastos, mesmo ganhando relativamente mais do que uma pessoa que não é atleta. Só que, quando a gente coloca na realidade com impostos, passagens aéreas, aquele dinheiro todo vira algo comum e, muitas vezes, eu, que jogo duplas, acabo no negativo.
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Qual é o motivo de a maioria dos tenistas não tocar no assunto?
Vejo que outros tenistas não costumam abrir essa questão interna do orçamento, porque, às vezes, é algo sensível que não querem expor. Eu nunca tive esse problema, porque os números são públicos. Eu ganhei quase 1,5 milhão de dólares em premiação na carreira. Só que, se esse valor estivesse no meu bolso, seria maravilhoso, mas há muitos gastos envolvidos.
Você pensa em investir mais tempo nas redes no pós-carreira?
Com certeza. As redes sociais vieram para ficar. Tenho grandes amigos, jogadores e atletas que se aposentaram, mas não se prepararam para o pós-carreira. Isso é um baque muito grande. Dizem que o atleta morre duas vezes, porque você está vivendo na adrenalina total e, de repente, aquilo acaba. É preciso ter algo planejado antes da aposentadoria. Eu não quero passar por essa surpresa.
Financeiramente, é possível viver apenas como influenciador?
Ajuda muito. Eu não diria que dá para viver só disso. Acho que vai ser preciso combinar outras fontes de renda junto com as redes sociais para conseguir viver da forma como eu gostaria. Ao mesmo tempo, é claro que ainda há muito espaço para o produto crescer, e espero ter cada vez mais oportunidades de fechar contratos publicitários.



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