Delegada casada com assassino confesso de gari é dispensada de Comitê de Ética da Polícia de Minas

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Empresário René da Silva Nogueira Júnior é casado com a delegada Ana Paula Balbino, da PCMG — Foto: Reprodução/Redes Sociais


A delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira foi dispensada do Comitê de Ética em Pesquisa da Academia da Polícia Civil de Minas Gerais. A servidora integrava o grupo desde a criação dele, em agosto do ano passado. Casada com o empresário René Nogueira Júnior, assassino confesso do gari Laudemir de Souza Fernandes, a investigadora foi substituída no cargo por uma professora. A troca foi oficializada em publicação no Diário Oficial do estado, nesta quinta-feira.

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A dispensa foi assinada por Yukari Miyata, delegada-geral e diretora da Academia de Polícia Civil, e vem depois da oficialização do afastamento de Ana Paula das funções na Polícia Civil, pelo prazo de 60 dias. A licença para a investigadora começou em 13 de agosto, mas só foi publicada no Diário Oficial do estado deste sábado.

O marido de Ana Paula, René Nogueira Júnior, foi preso duas semanas atrás por atirar e matar o gari Laudemir em Belo Horizonte, no último dia 11. O empresário disse à polícia ter pegado a arma particular da mulher sem ela saber e confessou o crime, mas atribuiu a morte a um suposto “acidente”.

Delegada é afastada das funções da polícia

No DO de sábado, a direção-geral do Hospital da Polícia Civil incluiu o nome de Ana Paula na listagem de servidores a quem seria concedida licença “para tratamento de saúde”. O afastamento da delegada foi publicado pelo jornal O Tempo e confirmado pelo GLOBO. Ana Paula não se pronunciou desde a morte de Laudemir e a prisão do marido.

“Conforme publicado no Diário Oficial, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que foi concedida à servidora licença médica de 60 dias para tratamento de saúde, nos termos da Lei”, disse a Polícia Civil de Minas Gerais, em nota.

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Corregedoria investiga delegada após uso de arma pelo marido

A Corregedoria da Polícia Civil abriu um procedimento disciplinar para apurar a conduta da delegada no caso. Uma perícia confirmou que a pistola calibre .380 utilizada do crime pertencia à servidora. Ela não foi afastada do cargo, na ocasião da abertura do procedimento, ante a ausência de indícios de participação no caso.

O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) pediu a “responsabilização solidária” de Ana Paula Balbino, apesar de René isentá-la de qualquer culpa no delito. O executivo disse ter aberto fogo “em razão de uma discussão de trânsito”, mas colegas da vítima negam ter havia qualquer briga.

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O parquet requereu o bloqueio de bens do casal no valor de R$ 3 milhões, em apoio a uma medida solicitada pelos advogados que representam a família da vítima, como forma de garantir uma eventual indenização. A medida foi negada.

O MP defende que a delegada responda “solidariamente” porque a arma utilizada no crime era dela. O carro que o acusado dirigia no momento da suposta “discussão de trânsito” também estava no nome de Ana Paula. O Ministério Público argumentou que o padrão de vida exibido pelo casal nas redes sociais e as trajetórias profissionais “fazem presumir a capacidade financeira para arcar com uma vultuosa quantia indenizatória”.

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O parquet requereu que bens de René e Ana Paula, “com preferência para dinheiro em espécie ou depositado em qualquer modalidade de instituição e aplicação financeira” sejam bloqueados “para assegurar eventual ressarcimento aos familiares da vítima”.

Na petição em que requereu o bloqueio de bens, o advogado da família de Laudemir, Tiago Lenoir, justificou que o acusado foi reconhecido pelos colegas do gari e apresentou, antes da confissão, uma narrativa “contraditória e incompatível” com as provas. Lenoir destacou que o delito demonstrou “extrema periculosidade do agente” e prejudicou também o sustento dos parentes da vítima.

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“A vítima era chefe de família e único provedor de uma menor, hoje órfã de pai; os danos materiais (perda de rendimento, despesas médicas e funeral) e morais são inegáveis”, disse o advogado. “Os investigados são pessoas de elevada condição socioeconômica: Renê é diretor de empresa e proprietário de veículo de alto valor; Ana Paula é delegada de polícia. Cientes da investigação, podem dilapidar ou ocultar patrimônio para frustrar a indenização. A indisponibilidade de bens é medida indispensável para garantir a efetividade da futura prestação jurisdicional, evitando a irreparabilidade do dano”.

Lenoir pediu que a Justiça decrete medida cautelar de indisponibilidade de “todos os bens móveis e imóveis, veículos, ativos financeiros, participações societárias e investimentos”, com ofícios a órgãos para evitar a venda de bens.

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Segundo as investigações, o suspeito disparou contra o gari depois de se deparar com o trabalho dos profissionais no bairro Vista Alegre e se irritar por não conseguir passar com o carro. Testemunhas disseram que ele ameaçou a motorista do caminhão de lixo antes de sacar a arma e abrir fogo. René Nogueira negava, até então, ter matado a vítima. O empresário pode responder pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, porte ilegal de arma e ameaça.

O caso aconteceu nesta segunda-feira da semana passada em Vista Alegre, no Oeste da capital mineira. O boletim de ocorrência aponta que René dirigia um carro da marca BYD quando, por volta das 9h, se aproximou de um caminhão de lixo, que vinha na direção contrária. O motorista do veículo teria ameaçado a condutora do caminhão e dito que iria “atirar na cara dela”, caso não desse passagem. Na sequência, ele teria disparado contra os garis e atingido Laudemir.

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Por meio de câmeras de segurança, os policiais conseguiram identificar a marca, o modelo e as iniciais da placa do veículo utilizado. A motorista do caminhão de lixo que trabalhava na hora do crime com Laudemir forneceu mais uma letra e os dois últimos números da placa, o que permitiu a identificação do carro.

“Em posse das características do autor e da placa do veículo, iniciou-se um intenso rastreamento. O veículo foi localizado trafegando na Avenida Raja Gabaglia, sendo o condutor, um homem claro, alto e forte, compatível com a descrição do autor do disparo. A abordagem ocorreu no estacionamento de uma academia na mesma avenida”, disse o juiz.

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A mulher do suspeito compareceu ao local da abordagem, se identificou como delegada e autorizou buscas no veículo. Nada de ilícito foi encontrado, na ocasião. As testemunhas disseram aos policiais que o autor do crime se irritou “com a retenção do trânsito” e passou a fazer ameaças. Ele deixou o carregador cair e o recolocou na arma, o que gerou a ejeção de uma munição intacta, antes de atirar no gari.

As testemunhas afirmaram que não houve discussão e que apenas tentavam auxiliar o autor a passar com seu veículo.

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“O crime foi cometido em plena luz do dia, por motivo fútil, uma aparente irritação decorrente de uma breve interrupção no trânsito causada por um caminhão de coleta de lixo. A desproporcionalidade e a frieza da ação, na qual o autuado, após uma breve discussão, deliberadamente sacou uma arma de fogo, a preparou para o disparo e atirou contra um trabalhador que exercia seu ofício, uma atividade pública essencial de limpeza da cidade, demonstram uma periculosidade acentuada e um total desrespeito pela vida humana. Tal conduta abala profundamente a tranquilidade social e gera um sentimento de insegurança na comunidade, indicando que a liberdade do autuado, neste momento, representa um risco real à ordem pública”, destacou o juiz, sobre a necessidade de manter a prisão.



Conteúdo Original

2025-08-28 07:23:00

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