Nonato completará 100 jogos pelo Fluminense diante do Bragantino: 'Meu desejo, com certeza, é permanecer'

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No CT Carlos Castilho, Nonato recebeu a reportagem ao seu estilo: sorridente e brincalhão. Mas, quando fala de assuntos sérios como neurociência e combate à homofobia, a descontração dá lugar a um jogador consciente e estudioso. Fora dos últimos três jogos do Fluminense por conta de uma inflamação no tendão flexor da coxa esquerda, o volante de 27 anos volta a ser relacionado hoje e pode ser titular contra o Bragantino, às 16h, pelo Brasileiro. Se entrar em campo, completará 100 jogos pelo tricolor. E espera ampliar bastante a marca, assinando em definitivo com o clube — o contrato de empréstimo feito pelo Santos se encerra no fim do ano.
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O que essa marca de 100 jogos pelo Flu representa para você?
O Fluminense é um lugar que, desde que pisei aqui, passei a respeitar e admirar muito. Tive oportunidade de vestir essa camisa em duas passagens. Conseguir completar 100 jogos em um clube da grandeza do Fluminense não é algo que acontece todo dia. Eu e minha família criamos um carinho muito grande pelo Fluminense. Acho que essa é a maior lição, o vínculo que consegui construir com o time, a torcida e todos os funcionários. É um lugar com o qual me identifico muito e espero conseguir alcançar outras marcas com essa camisa.
Já caiu a ficha de ter feito parte da história na Copa do Mundo de Clubes?
Uns dias atrás eu estava vendo uma retrospectiva que minha mãe me mandou no WhatsApp. Aí eu comecei a assistir, vendo todos os jogos, e parecia que tinham se passado uns dois anos, como se eu estivesse alucinado assistindo a um vídeo retrô, sabe? Parecia um sonho, e foi mesmo. “Pô, você entrou no MetLife, com cerca de 80 mil pessoas para jogar contra o Chelsea”.
O que você mais leva de recordação dos EUA?
Durante aquela tensão do que iria acontecer na estreia contra o Borussia Dortmund-ALE, eu me emocionei ouvindo a música no aquecimento. “Basta acreditar que o novo dia vai raiar” (Revelação – Tá Escrito). Olhei minha família toda na arquibancada e pensei: “O que eu estou fazendo aqui?” Deu uma sensação de dever cumprido na carreira.
Essa música marcou a Libertadores de 2023. Existe frustração por ter ficado fora (estava no Santos)?
São circunstâncias do futebol. Muito além de títulos e conquistas, eu acho que se trata de estar com pessoas que você admira e por quem você torce, poder fazer parte disso, de outras histórias, e escrever seu nome de outras maneiras.. Na hora, fica aquele gostinho: “Eu queria estar lá junto, vivendo isso”. Mas acho que consegui escrever meu nome de outras formas na história do Fluminense.
Por que a parceria com o Martinelli e o Hércules vem dando tão certo?
Somos jogadores voluntariosos e com bastante capacidade física tanto na fase defensiva quanto na ofensiva. Tenho uma boa troca com eles no dia a dia. Conversamos bastante sobre o jogo, posicionamento, como podemos aprimorar nossa função no meio de campo. Sempre que um está jogando e o outro não, passamos dicas no próprio campo, nos treinos, sobre o que fazer ou o que talvez evitar. Acho que essa troca, mesmo eu sendo o mais velho, é totalmente recíproca e isso só fortalece o Fluminense.
Martinelli, Hércules e Nonato marcaram quatro dos oito gols do Fluminense na Copa do Mundo de Clubes
1 – Megan Briggs / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP, 2 – Buda Mendes / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP e 3 – CHANDAN KHANNA / AFP
Como está sendo trabalhar pela primeira vez com o Renato Gaúcho?
Ele é um cara que abraça os jogadores. Quando eu estava no Inter, o enfrentei muitas vezes no Grenal. É um cara folclórico no futebol, que atrai muita atenção, assume a responsabilidade e dá mais leveza ao ambiente de trabalho. Como dizem, tem “as costas largas”, que aguenta a pressão e deixa os jogadores fluírem com criatividade e improviso.
Você tem uma grande amizade com o Jhon Arias. Tentou convencê-lo a ficar?
Por termos chegado praticamente juntos no clube, nossas famílias acabaram virando amigas. A gente se enfrentou quando o Inter eliminou o América de Cali na Libertadores, e eu ficava brincando com ele. Por coincidência, eu fui para a Colômbia nas férias e a gente acabou se encontrando lá, o que criou uma intimidade. É difícil falar (sobre a saída dele) porque cada um tem sua vida profissional e, geralmente, a gente não dá pitaco por ser o sonho de um amigo. Claro que eu jogaria no mesmo time que ele a minha vida inteira, porque é um desafogo para qualquer equipe. Espero que um dia ele volte ao Fluminense.
Seu empréstimo do Santos ao Fluminense acaba no fim desta temporada. O que você pensa sobre o seu futuro?
O meu desejo, com certeza, é permanecer. Ainda acho que posso entregar muito pelo Fluminense. Guardo essa vontade desde que voltei. Isso eu deixo nas mãos da diretoria e dos meus representantes. Tento não me envolver tanto e focar em campo. Estamos escrevendo uma história bonita em 2025, brigando por títulos. Minha permanência depende do que for consequência desse trabalho, que, na minha visão, vem sendo muito bem feito.
Você tem interesse em psicologia e neurociência. Como elas te ajudam dentro e fora de campo?
Futebol é bom por um lado e ruim por outro, dependendo do ponto de vista, porque te leva rápido aos extremos. Quando você começa a aprender a lidar melhor com isso, entende que é preciso ter um pouco mais de autocontrole e autoconhecimento. Passei a buscar isso durante minha carreira e percebi que fui desenvolvendo uma compreensão maior sobre como funciona a mente das pessoas. E falo isso não só na minha profissão, mas também em relação ao que vem de fora, como torcida, imprensa.
Em 2021, você fez um post contra a homofobia. Como é a sua relação com a causa LGBTQIA+?
Não pensei muito em como iria repercutir, me deu vontade de escrever na época. Eu tenho familiares que são gays, e um deles estava passando por um momento difícil, chegou a ficar internado. Fiquei realmente revoltado com algumas falas estranhas que estavam rolando na internet, porque parecia que ninguém estava pensando nas pessoas LGBTQIA+. Senti que precisava fazer aquilo. E nunca vou mudar minha opinião sobre isso.



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