OMS: castigo físico leva a ‘danos significativos’ à saúde das crianças

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório em que alerta que a punição física a crianças continua “alarmantemente disseminada” e destaca os “danos significativos” à saúde e ao desenvolvimento do público infantil. Globalmente, a organização estima que 1,2 bilhão de crianças de 0 a 18 anos sejam submetidas ao castigo corporal em suas casas todos os anos.
O relatório mostra ainda que, segundo dados provenientes de 58 países, cerca de 17% das crianças que sofreram castigo físico no último mês foram submetidas às formas mais severas, incluindo terem sido atingidas na cabeça, no rosto ou nas orelhas ou serem castigadas com força e repetidamente.
Segundo a OMS, as consequências para a saúde infantil são “profundas e de longo alcance”. Além das lesões imediatas, a prática “desencadeia respostas biológicas prejudiciais, incluindo aumento da reatividade aos hormônios do estresse e alterações na estrutura e função do cérebro, que podem comprometer o desenvolvimento saudável”, diz o órgão.
O relatório cita que estudos em 49 países de baixa e média renda mostraram que crianças expostas à punição corporal têm, em média, 24% menos probabilidade de estar no ritmo de desenvolvimento adequado em comparação com aquelas que não foram expostas à violência.
Além disso, elas enfrentam maiores riscos de ansiedade, depressão, baixa autoestima e instabilidade emocional. Os efeitos frequentemente persistem na vida adulta, manifestando-se como taxas mais elevadas de transtornos mentais, uso de substâncias e até pensamentos, tentativas ou suicídio consumado, afirma a OMS.
“Há agora evidências científicas esmagadoras de que a punição corporal acarreta múltiplos riscos à saúde das crianças. Ela não oferece nenhum benefício para o comportamento, desenvolvimento ou bem-estar das crianças, nem para os pais ou para a sociedade. É hora de acabar com essa prática nociva para garantir que as crianças prosperem em casa e na escola”, defende Etienne Krug, diretor do Departamento de Determinantes de Saúde, Promoção e Prevenção da organização, em nota.
O novo relatório também alerta que crianças que passam por punições físicas têm maior probabilidade de desenvolver comportamentos agressivos, ter dificuldades acadêmicas e, na vida adulta, se envolver em condutas violentas, antissociais ou criminosas. Para a OMS, a prática alimenta uma aceitação social mais ampla da violência, “reforçando ciclos prejudiciais entre gerações”.
Embora muitos países tenham proibido o castigo físico, a organização diz que seu uso contínuo e a ampla crença de que ele ainda é necessária mostram que a legislação sozinha não é suficiente. A OMS defende campanhas de conscientização pública e apoio direto a pais, cuidadores e professores para promover formas positivas e não violentas de disciplina.
Em relação à prevalência do castigo físico, o relatório aponta que ela varia amplamente entre os países. Entre crianças de 2 a 14 anos, as taxas autorrelatadas por pais e cuidadores no último mês variaram de 30% no Cazaquistão e 32% na Ucrânia, até 63% na Sérvia, 64% em Serra Leoa e 77% no Togo.
Nas escolas, a prática também é generalizada. Em toda a África e América Central, cerca de 70% das crianças sofrem punição corporal durante os anos escolares, em comparação com aproximadamente 25% na região do Pacífico Ocidental.
A OMS afirma ainda que crianças com deficiência; cujos pais sofreram punição corporal quando crianças e cujos pais enfrentam uso de substâncias, depressão ou outras condições de saúde mental estão mais vulneráveis ao castigo físico. Fatores sociais mais amplos, como pobreza, racismo e discriminação, também aumentam o risco de punição corporal.



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