As últimas publicações da gaúcha Eweline Passos Rodrigues no Facebook são de junho de 2022. O perfil era uma mescla entre a vida pessoal e a profissional, focada na venda de perfumes, maquiagens e até trufas de chocolate. Parentes e amigos interagiam com o conteúdo, como em uma foto dela de cadeira de rodas, resultado de um acidente: “Estamos torcendo por você”, escreveu uma moça. Eweline chegou a abrir uma vaquinha pedindo apoio financeiro para pagar por fisioterapia. De junho a setembro, no entanto, há uma lacuna de postagens. Talvez por consequência de uma tentativa de feminicídio sofrida por ela em 25 de agosto daquele ano. O autor era um ex-companheiro e pai de seus dois filhos, hoje com 4 e 7 anos. O crime, como disse ela, mudou sua vida por completo, a ponto dela vir foragida para o Rio e se tornar a traficante Diaba Loira, encontrada morta, em Cascadura, na última quinta-feira.
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Com o dinheiro da venda das trufas, Eweline pagava a mensalidade do curso de Direito numa universidade de Santa Catarina. Ela, inclusive, usava os estudos como slogan do negócio: “Adoce seu dia com essas delícias e me ajude na faculdade”.
Os doces eram vendidos em duas categorias de sabores: os tradicionais (R$ 3) e os premium (R$ 3,50). As opções de recheio eram de maracujá, brigadeiro com morango, leite em pó, creme de avelã e beijinho. Havia também cones trufados, a R$ 5 e R$ 6.
A venda dos cosméticos era variada entre perfumes, maquiagens, produtos para crescimento capilar, anti-acne e até de clareamento dentário. Em datas comemorativas, como Dia dos Namorados e das Mães, ela publicava anúncios promocionais.
Além de canal profissional, o perfil de Eweline mostra momentos em família, como uma foto dela junto à primogênita, em outubro de 2020. Na legenda, ela escreveu: “Você é a melhor versão de mim. Te amo como nunca amei ninguém, minha princesa”. Em outra, de setembro daquele ano, ela expôs a barriga da segunda gravidez:
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Tentativa de feminicídio
Eweline justificou a transformação na vida num vídeo publicado este ano no TikTok: “Foi culpa da polícia que não fez nada por mim lá em Santa Catarina. Antes de julgar, vem ver a nossa história”. A referência é a tentativa de feminicídio sofrida em Capivari de Baixo (SC), quando ela tinha 25 anos. A dinâmica do crime aparece resumida no recurso em habeas corpus em favor do ex-companheiro, negado no Superior Tribunal de Justiça no ano passado.
Nele, há a informação de que o homem a atacou pelas costas, dando-lhe uma facada que perfurou o pulmão, durante uma briga na casa onde moravam — e onde estavam seus dois filhos. Ela foi socorrida pela mãe, a sogra e conhecidos, e passou por uma cirurgia de emergência. Eweline tinha contra o agressor medidas protetivas, todas desrespeitadas. O processo do crime, que está sem segredo de Justiça, foi concluído com a absolvição do ex-companheiro dela.
A mudança de comportamento de Eweline pôde ser notada um ano depois do ocorrido. Em 27 de maio de 2023, ela foi presa em flagrante ao se envolver num acidente de carro em Tubarão, cidade vizinha a Capivari de Baixo. No veículo, policiais militares catarinenses encontraram sete gramas de cocaína e, ao entrarem em contato com a Polícia Civil, descobriram que ela era investigada por tele-entrega de drogas para traficantes locais. Como provas, havia uma denúncia anônima contra ela, prints de publicações nas quais ela anunciava a venda dos entorpecentes e a identificação do carro usado para as entregas.
Após pedido da defesa, ela conseguiu permissão na Justiça para responder ao processo em liberdade, mediante uso de tornozeleira eletrônica, mas burlou a ferramenta e se tornou foragida. Uma segunda prisão aconteceu em janeiro de 2024, quando ela foi flagrada, junto a um comparsa, com porte ilegal de arma de fogo. Eweline também conquistou o direito de responder ao caso usando a tornozeleira, mas conseguiu, novamente, romper o equipamento. Após a situação, mudou-se em definitivo para o Rio de Janeiro, onde se filiou a facções fluminenses, primeiro ao Comando Vermelho, depois, ao Terceiro Comando Puro. A Polícia Civil fluminense investiga se a primeira é responsável pelo homicídio.
2025-08-18 06:30:00