Em um cenário de renda insuficiente, informalidade e descrença no emprego com carteira assinada, o empreendedorismo se consolida como opção de futuro para a maioria dos moradores das favelas e periferias. Sete em cade dez (73%) habitantes de periferias acreditam que ter um negócio próprio é mais efetivo para melhorar de vida do que seguir no trabalho formal. É o que aponta pesquisa feita pelo Instituto Data Favela com 16.521 com moradores de comunidades brasileiras, entre os dias 3 e 6 de julho
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Esse grupo também acredita que programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, ajudam a dar o primeiro passo para empreender. Marcus Vinicius Athayde, presidente da Central Única das Favelas (Cufa), o apoio financeiro é crucial para transformar necessidade em oportunidade.
— O Bolsa Família não é só comida no prato, é também ponto de partida para comprar material, montar uma barraquinha, começar um negócio — opina.
A pesquisa também mostra que mais de um terço (36%) dos moradores já possui algum tipo de negócio, formal ou informal, e 23% têm nele a principal fonte de renda. Apesar disso, a formalização de empreendedores ainda é baixa: somente 26% têm CNPJ.
O levantamento revela ainda que 79% dos empreendedores pretendem ampliar ou abrir um novo negócio nos próximos 12 meses, enquanto só 9% desejam conseguir emprego com carteira assinada.
Para o fundador do Data Favela, Renato Meirelles, empreender deixou de ser solução emergencial para se tornar projeto de futuro:
— O negócio próprio oferece flexibilidade para conciliar trabalho e vida familiar, evita longos deslocamentos e permite começar pequeno e sonhar grande, com autonomia e identidade afirma.
Distante do CLT
Na Vila São João, em São João de Meriti, a jornalista Beatriz Carvalho, de 33 anos, é exemplo dessa mudança. Sem conseguir estágio na época da faculdade, ela viu as portas do mercado formal se fecharem.
A falta de oportunidade não a fez esmorecer. com a experiência empreendedora que traz de casa — a mãe sempre trabalhou com comércio e o pai atuava como auxiliar contábil freelance — começou atendendo ONGs como social media.
Após ganhar experiência na área, Beatriz liderou o projeto social Mulheres de Frente, que leva educação empreendedora a moradoras de comunidades, e hoje comanda a BC Carvalho Produção e Comunicação, oferecendo serviços de imprensa, produção de eventos e cursos.
Atualmente, ela só aceitaria trabalhos com carteira assinada com condições especificas.
— Hoje, toparia uma oportunidade CLT só se realmente tivesse direitos trabalhistas melhores. Os básicos como INSS não me contemplam. Seria melhor ainda se eu pudesse concicliar com a minha empresa ter tempo para eu trabalhar com clientes. Enfim, ter melhores relações de confiança no ambiente de trabalho e empatia também são pontos que me fazem desisti de encontrar um trabalho mais formal. — conta.
Para ela, ser empreendedora, especialmente em periferia, exige planejamento diário, metas claras e disciplina.
— Ser empreendedor periférico é acordar cedo, falar com clientes, correr atrás de público, manter boa reputação. É luta, mas também flexibilidade e realização.
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Sete em cada dez moradores de favelas enxergam mais oportunidade em empreender do que na carteira assinada
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