Teatro, por Claudia Chaves: “Madame Blavatsky — Amores Ocultos”

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A mágica é um jogo  interessante. Vemos o que acontece, ficamos entusiasmados. Entendemos, ficamos emocionados, mas não sabemos. É o mistério. O teatro é semelhante: está lá uma pessoa de carne e osso, viva como nós, que realiza o que nos comove, mas não conseguimos entender como faz.

(gaTu Filmes/Divulgação)

Como o teatro é mágica, mistério, em “Madame Blavatsky – Amores Ocultos”, Mel Lisboa não apenas interpreta — ela incorpora. Em um feito raro, a atriz se transforma diante do público com precisão quase ritual. O espetáculo, com texto de Cláudia Barral e direção de Márcio Macena, revela-se como um processo de incorporação: Mel começa como ela mesma — corpo solto, voz presente — e lentamente se deixa montar por outra, como nos ritos de umbanda, em que o médium é chamado de “cavalo”.

Esse instante é pura mágica. A atriz se curva, altera o timbre da fala, domina o espaço com novos gestos. É Blavatsky quem a habita, e Lisboa quem cavalga, impõe o trote, salta os obstáculos emocionais e nos conduz pela jornada.

A metáfora do ator como médium, como alguém que se ausenta de si para dar passagem ao outro, estrutura toda a experiência da peça. A trajetória de Helena Petrovna Blavatsky — mulher mística, visionária, pioneira do pensamento teosófico — ganha vida não por uma exatidão histórica, mas pela força da presença.

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(Ale Catan/Divulgação)

O texto de Barral é direto e eficaz: conta com clareza os episódios essenciais, sem se perder em truques banais da biografia. Rejeitada, perseguida, insubmissa, Blavatsky é revelada como uma mulher em permanente conflito com o mundo e consigo. Mas é Mel quem a torna compreensível — ela nos faz acreditar.

A direção de Márcio Macena, que também assina o cenário, é precisa: sabe valorizar cada transição, cada silêncio e nuance, oferecendo à atriz um terreno fértil para a metamorfose. O figurino de João Pimenta veste não apenas o corpo, mas também o espírito da personagem, deslocando-a entre tempos e espaços. A luz desenhada por Ligia Chaim marca, com inteligência e beleza, os limiares entre Mel e Madame.

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Em cena, tudo é síntese e sugestão — como deve ser no teatro de grande presença; como é aquele homem de capa, cartola e varinha. Madame Blavatsky é, acima de tudo, um ritual cênico em que o teatro cumpre seu papel ancestral: o de ser passagem entre mundos.  E a magia que Mel realiza nos traz encantamento.

SERVIÇO:

Teatro Prio, no Jockey

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Quartas, às 20h

Claudia Chaves
(Arquivo/Arquivo pessoal)



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