Após novas imagens, MPRJ apresenta denúncias contra seis PMs por roubo, violação de domicílio e insubordinação durante megaoperação no Alemão e Penha

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Operação no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo/28/10/2025


O Ministério Público do Rio (MP-RJ) ofereceu novas denúncias contra seis policiais militares do Batalhão de Choque por crimes cometidos durante a megaoperação, realizada em 28 de outubro no Complexo do alemão e da Penha. As novas acusações, apresentadas na segunda-feira, reforçam o padrão de ilegalidades registrado pelas câmeras operacionais portáteis (COPs), que já haviam embasado outras duas denúncias reveladas ontem em casos de peculato e furto praticados nos locais. Desta vez, os agentes são acusados de peculato, violação de domicílio, constrangimento ilegal, roubo e recusa de obediência — crimes cometidos durante invasões de residências, ameaças a moradores, subtração de um celular e de um fuzil abandonado por criminosos em fuga, além de repetidas tentativas de ocultar o funcionamento das câmeras corporais.

Violação de domicílio e constrangimento ilegal

Segundo a investigação, os agentes arrombaram o portão e portas de duas residências com auxílio de alicate, ingressando nos imóveis sem autorização judicial ou consentimento dos moradores.

As câmeras operacionais portáteis (COPs) mostram que os policiais reviraram os cômodos e constrangeram um morador a permanecer sentado sob ameaça, impedido de se mover enquanto eles vasculhavam o ambiente.

Ainda conforme o MPRJ, o grupo roubou um aparelho celular e um fuzil abandonado por criminosos em fuga. As imagens mostram os policiais discutindo sobre desmontar e esconder o armamento, reforçando a intenção de desviar o material para fora do controle oficial da operação.

Insubordinação e tentativa de obstrução das câmeras corporais

As novas denúncias também incluem a recusa de obediência e insubordinação. O MPRJ aponta tentativas reiteradas dos PMs de ocultar ou obstruir as COPs, contrariando determinações expressas do comando da Polícia Militar. Os agentes teriam desligado, coberto ou desviado o campo de visão das câmeras para impedir o controle da atividade policial.

Em uma denúncia específica, um sargento do Grupamento Tático de Ações Rápidas também foi acusado de violação de domicílio e insubordinação ao ingressar irregularmente em uma residência. Ele descumpriu a determinação de manter a câmera corporal em funcionamento contínuo, tentando retirar a bateria e removendo o equipamento do corpo em pelo menos dez ocasiões. Com isso, aproximadamente cinco horas da operação não foram registradas.

Peculato — fuzil escondido no Alemão

As novas acusações se somam às denúncias anteriores que revelaram outros crimes cometidos durante a mesma operação. No Complexo do Alemão, os 3º sargentos Marcos Vinicius Pereira Silva Vieira e Charles William Gomes dos Santos foram denunciados por peculato após as câmeras corporais registrarem a subtração de um fuzil semelhante ao AK-47.

O armamento estava em uma residência onde cerca de 25 homens já haviam se rendido. As imagens mostram Silva Vieira pegando o fuzil e se afastando do grupo de policiais que registrava o material apreendido. Minutos depois, ele se encontra com Charles Santos, e ambos escondem a arma dentro de uma mochila, sem contabilizá-la entre os itens oficiais da operação.

As gravações revelam ainda o sargento dizendo:

“É o quê? É ruim de eu entregar esse daqui. Esse aqui vai ficar para a gente.”

E comentando que o modelo não constava entre os armamentos apreendidos:

“Ninguém tem esse AK aqui, não.”

A dupla chega a discutir maneiras de desmontar o fuzil antes de decidir mantê-lo inteiro na mochila.

Furto — desmanche de caminhonete na Vila Cruzeiro

Outra denúncia anterior aponta que o subtenente Marcelo Luiz do Amaral, o sargento Eduardo de Oliveira Coutinho e outros dois policiais praticaram furto qualificado ao desmontar partes de uma caminhonete Fiat Toro estacionada na Vila Cruzeiro.

Segundo o MPRJ, Coutinho retirou o tampão do motor, um farol e as capas dos retrovisores. Amaral e outro policial teriam garantido condições para o furto, inclusive tentando impedir que as COPs registrassem a ação. Um agente identificado como Machado estava presente, mas não tentou impedir o crime.

Nos casos anteriores e atuais, o MPRJ destaca condutas deliberadas de manipulação das câmeras corporais. Os denunciados teriam tentado desligar, encobrir ou desviar o campo de visão dos equipamentos, comprometendo o controle interno e externo da atividade policial e prejudicando a produção de provas.

Policial do Bope também aparece nas imagens

As denúncias também citam imagens reveladas pelo Fantástico, que mostram um policial do Bope, sem identificação na farda, pegando um radiotransmissor e a capa de um colete após conversar com o sargento Silva Vieira dentro da casa onde ocorreram rendições.

“Vê se tem uma coisinha para levar”, diz o agente.

“Pega, pô”, responde Silva Vieira.

O policial recolhe um rádio e afirma: “O radinho também vou levar!”

Dois policiais já foram denunciados por peculato nessas circunstâncias.

Balanço da Auditoria Militar

Com as novas denúncias, o MPRJ totaliza seis ações penais relacionadas a irregularidades cometidas durante a Operação Contenção. No total, nove policiais já foram denunciados pelas Promotorias de Justiça — entre eles os sargentos Diogo da Silva Souza, Eduardo de Oliveira Coutinho, Marcos Vinicius Pereira Silva Vieira e Charles William Gomes dos Santos, além do subtenente Marcelo Luiz do Amaral — que estão presos após ação da Corregedoria da PM na última sexta.

O MPRJ pediu a prisão preventiva dos demais denunciados e afirma que segue analisando as imagens da operação, considerada a mais letal da história do estado, com 122 mortos.



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/12/02/apos-novas-imagens-mprj-apresenta-novas-denuncias-contra-seis-pms-por-roubo-violacao-de-domicilio-e-insubordinacao.ghtml

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