Teatro, por Claudia Chaves: “Charles Aznavour – Um Romance Inventado”

Tempo de leitura: 6 min


Em “Charles Aznavour – Um Romance Inventado”, Sylvia Bandeira parte de uma premissa universal: todo mundo já viveu uma paixão impossível — inventada, alimentada pela imaginação. O espetáculo transforma essa fantasia em dramaturgia, criando uma fábula emocional que dialoga com o público pela memória afetiva. O texto de Saulo Sisnando usa esse romance fictício como metáfora das pequenas revelações que moldam a intimidade humana. Ainda que assumidamente inventado, o enredo sugere uma reflexão leve sobre prazer, vulnerabilidade e a felicidade cotidiana.

A força da peça está na interpretação de Sylvia Bandeira. Ela domina o palco com precisão vocal, presença madura e gestos econômicos. Ao seu lado, Mauricio Baduh empresta elegância musical e sensibilidade ao jornalista que revisita seus próprios amores fracassados. A química entre os dois sustenta a pulsação emocional da montagem.

(Ariel Calvott/Divulgação)

A direção de Daniel Dias da Silva é limpa e fluida. Ele aposta num glamour discreto, com transições marcadas pelas canções de Aznavour. Figurinos bem escolhidos e uma cenografia reduzida reforçam o clima intimista, colocando a música e a atuação no centro. Já a direção musical de Liliane Secco transforma a montagem num híbrido delicado entre concerto e narrativa.

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(Ariel Calvott/Divulgação)

O espetáculo acerta ao articular memória e imaginação. O “romance inventado” não funciona como escapismo, mas como exercício de humanidade. A obra assume o sentimentalismo — e o trata com elegância. O ritmo alterna números musicais, confissões e diálogos com ironia fina, criando uma cadência que prende o espectador sem recorrer a artifícios.

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Num momento pós-pandemia, a peça encontra pertinência ao celebrar leveza, afeto e a possibilidade de reconstruir a alegria. Não reinventa o gênero, mas cumpre o que promete: um respiro poético, íntimo e bem interpretado.

Conversamos com Sylvia Bandeira sobre inspirações, projetos e sonhos.

1 – Como surgiu a ideia de criar uma história de amor com Charles Aznavour? Você chegou a conhecê-lo?

Sou filha de diplomata, morei em vários países e, quando era pré-adolescente, vivi em Paris. Meus pais amavam o Aznavour. Depois de adulta, percebi que todo mundo falava mais do Sinatra do que dele. Tive esse sonho de realizar algo com o Aznavour, muito conhecido dos franceses e de parte dos brasileiros, mas ainda desconhecido por muitos. Tenho fotos com ele. Fui convidada para uma festa, eu era bem jovem, falava francês fluentemente, e me colocaram à direita do Charles Aznavour. A dona da festa, Beki Klabin, ficou à esquerda. Conversei com ele a noite inteira. Depois, já casada, encontrei-o no avião — disse ‘bonjour’ e ele me respondeu ‘bonjour’.”

2 – Quais são os próximos projetos?

Estou com um curta-metragem muito bacana, mas ainda não posso dar detalhes. Também há uma peça sobre a vida da pintora Djanira, e outra produção que ainda não posso revelar. E quero seguir com o Charles Aznavour o máximo possível. Se pintar televisão, adoro — fiz teatro e TV juntos recentemente, em Bonitinha, mas ordinária, quando interpretei minha primeira vilã. É complicado conciliar, mas, quando amamos o que fazemos, conseguimos.

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3 – Um sonho ainda embalado?

Tenho muita vontade de fazer “Um bonde chamado desejo”, do Tennessee Williams. Adoro a Blanche Dubois — aquela mulher frágil que depende da bondade de estranhos. E, claro, cinema: gostaria de fazer um papel corajoso, sair da minha caixinha de conforto.

4 – Como foi interpretar Marlene Dietrich?

Fui indicada ao Prêmio Shell por Marlene Dietrich. Acho que foi meu maior desafio em todos os sentidos. Cantava em quatro idiomas, inclusive alemão, que eu não falo e nunca tinha cantado publicamente. Foi maravilhoso. A Bibi Ferreira pagou ingresso e disse que o espetáculo era irretocável e que eu estava soberba. Não existe elogio maior.

5 – Como concilia teatro com a novela “Dona de Mim” (das sete, da TV Globo, em que interpreta Isabela, mãe de Felipa, interpretada por Claudia Abreu)?

É muito difícil fazer as duas coisas. Teve um dia em que gravei 13 cenas e ainda tinha a estreia da peça. Consegui conciliar, mas prefiro me dedicar a um projeto por vez. Uso um aplicativo de meditação porque sou muito desfocada. Sou de Aquário: energia tenho de sobra, foco de menos. É algo que ainda estou aprendendo.

A peça musical está em cartaz no Teatro Vannucci, às quintas-feiras, às 17h.

Claudia Chaves
(Arquivo/Arquivo pessoal)



Com informações da fonte
https://vejario.abril.com.br/coluna/lu-lacerda/teatro-por-claudia-chaves-charles-aznavour-um-romance-inventado/

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