Nova Iguaçu abriu, nesta terça-feira (18), a exposição “Arte & Devoção – A Escultura Religiosa no Brasil Colonial”, considerada uma das maiores mostras de arte sacra realizadas no país nas últimas décadas. Em cartaz no Complexo Cultural Mário Marques, a exposição apresenta mais de 350 peças brasileiras, portuguesas e espanholas produzidas entre os séculos XVI e XIX, além de seis obras inéditas de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, ícone máximo do barroco brasileiro. A data de inauguração coincidiu com os 211 anos da morte do artista, reforçando o simbolismo da ocasião.
Todas as peças pertencem a coleções particulares e abrangem produções eruditas e populares dos períodos colonial e imperial. A seleção revela a amplitude da devoção e da arte religiosa no país. Para o secretário municipal de Cultura, Marcus Monteiro, que assina a curadoria da mostra, a iniciativa insere Nova Iguaçu no circuito das grandes agendas culturais brasileiras.
“Esta é, sem dúvida, uma das maiores exposições já realizadas no país. A última mostra deste porte foi Brasil 500 anos, em 2000. É um marco para Nova Iguaçu e para o cenário cultural do Rio e do Brasil, reforçando a cidade como destino para grandes mostras internacionais. Pela qualidade e variedade do acervo, esta exposição poderia estar em qualquer lugar do mundo”, afirma Monteiro.
Entre os destaques, aparece a imagem de Nossa Senhora do Carmo, entalhada em madeira e atribuída a Aleijadinho. A peça data do século XVIII e pertenceu à família de Bárbara Heliodora, uma das mais respeitadas críticas de teatro do país. Após sua morte, em 2015, a escultura foi adquirida por um colecionador de Brasília. Outras obras atribuídas ao artista também estão expostas pela primeira vez, fato que amplia a relevância histórica do conjunto.
Erick Ferreira, conservador e restaurador de bens culturais e cocurador da mostra, reforça a dimensão inédita do acervo. Segundo ele, muitas peças jamais haviam sido exibidas em museus, exposições ou mesmo catálogos especializados, o que faz desta reunião um momento raro para a história da arte nacional.
A curadoria também conta com a participação de Rafael Azevedo, museólogo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Para ele, a mostra ultrapassa o universo religioso, convidando um público amplo a reconhecer a força cultural dessas obras. “Estas peças pertencem à memória de todos. Muitas foram produzidas por santeiros populares para igrejas igualmente populares. Quanto mais pessoas as conhecem, mais elas são preservadas e valorizadas”, diz Azevedo.
Outro ponto alto da exposição é a imagem de São Pedro, esculpida em pedra de ança e atribuída a Diogo Pires, o Moço. Considerada a mais antiga representação sacra do santo no Brasil, teria chegado ao país em 1551 com Dom Pedro Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil. Foi instalada na capela de São Pedro, em Salvador, em 1554, onde permaneceu até a demolição da igreja em 1723.
O percurso expositivo inclui ainda criações atribuídas a nomes como Francisco Vieira Servas, Mestre Valentim, Mestre de Angra, Simão da Cunha, Pedro da Cunha, Mestre de Sabará, Francisco Xavier de Brito, Mestre de Iguassú, Veiga Valle e Mestre Piranga.
Realizada pela Casa do Conhecimento, a mostra tem patrocínio da Prefeitura de Nova Iguaçu, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu. “Arte & Devoção” segue em cartaz até 31 de janeiro, na Casa de Cultura Ney Alberto, com visitação de terça a sábado, das 10h às 17h, e entrada gratuita. Nesta quinta-feira (20), o espaço ficará fechado ao público.
Ao percorrer as salas, o visitante encontra não apenas imagens esculpidas em madeira, pedra ou barro, mas fragmentos vivos de um país moldado pela fé. São obras que atravessaram séculos e continuam a reverberar silêncios, rituais e gestos de devoção. Em Nova Iguaçu, essas peças ganham novo fôlego e devolvem ao público a sensação rara de estar diante de algo que resiste ao tempo e ainda ilumina.

