Cidades turísticas avançam na criação de taxas ambientais; propostas geram debate entre moradores, turistas e especialistas

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A criação de taxas ambientais e de turismo sustentável tem avançado em diferentes cidades brasileiras, reacendendo o debate sobre preservação, arrecadação e os impactos dessas cobranças no setor turístico. Nesta semana, Búzios (RJ), Angra dos Reis (RJ) e Campos do Jordão (SP) protagonizaram novos capítulos dessa discussão.


Búzios aprova Taxa de Turismo Sustentável em primeiro turno

A Câmara Municipal de Armação dos Búzios aprovou, em primeiro turno, o Projeto de Lei Complementar 02/2025, que institui a Taxa de Turismo Sustentável (TTS). A cobrança será aplicada entre 20 de dezembro e cinco dias após o Carnaval, período de maior fluxo de visitantes.

A proposta prevê a cobrança tanto pela permanência de hóspedes quanto pelo trânsito de veículos no município. Estarão isentos moradores, trabalhadores e prestadores de serviço previamente cadastrados.

Valores

  • Hóspedes: R$ 14,80 (diária ou taxa única)
  • Motocicletas: R$ 14,80
  • Veículos de dois a seis lugares: R$ 44,40
  • Vans e micro-ônibus (7 a 32 lugares): R$ 74,00
  • Ônibus (acima de 33 lugares): R$ 111,00

Os recursos serão destinados a ações ambientais e de manejo turístico, buscando compensar o impacto do aumento populacional na alta temporada. A proposta ainda precisa passar por segunda votação. Se aprovada, entra em vigor em janeiro, revogando a antiga Taxa de Preservação Ambiental (Lei 1.321/2017).


Angra dos Reis implementará TTS a partir de 2026

Angra dos Reis também avançou na criação da sua Taxa de Turismo Sustentável, prevista para entrar em vigor em 2026. O município, que recebe cerca de 1,8 milhão de visitantes por ano, afirma que o objetivo é equilibrar o crescimento turístico com a preservação ambiental.

A proposta unifica três cobranças já existentes:
Preservação Ambiental, Turismo e Embarque/Desembarque, simplificando o sistema.

Quem será isento

  • Moradores e familiares até segundo grau
  • Prestadores de serviço
  • Crianças até 12 anos
  • Pessoas acima de 60 anos
  • Veículos cadastrados no Cadastur atendendo estabelecimentos do SDT
  • Pacotes comprados até dezembro de 2025 (com embarque até julho de 2026)

Implantação

A taxa será aplicada de forma gradual:

  • 2026: 50% de desconto, válida em quatro cais
  • 2027: desconto cai para 25%
  • 2028: cobrança integral

Valores-base:

  • Visitantes do continente (até 7 dias): R$ 23,75
  • Ilha Grande (até 7 dias): R$ 47,50
  • Diária adicional: R$ 2,37

Os recursos serão usados em saneamento, preservação ambiental, segurança e infraestrutura turística. Entre as metas estão o Esgoto Zero e o Lixo Zero até 2028, além da revitalização de cais e criação de um Observatório do Turismo.

A medida, no entanto, enfrenta forte resistência do trade turístico, que considera o valor elevado e prejudicial à economia local.


Alerj debate TTS e setor turístico critica valor proposto em Angra

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro realizará, no dia 11, uma audiência pública para discutir o valor de R$ 95 por visitante aprovado pela Câmara de Angra dos Reis para entrada na Ilha Grande.

A Associação dos Meios de Hospedagem da Ilha Grande (AMHIG) afirma que a cobrança pode afastar famílias e comprometer a movimentação econômica:

“Um casal com dois filhos gastará quase R$ 1.180 apenas com barco e taxa. Isso é incentivo ao turismo?”, questiona a entidade.

Um estudo técnico da própria prefeitura recomendava valor muito inferior: R$ 2,70, destinado exclusivamente a um fundo de preservação — e não ao caixa geral, como foi aprovado.

Após intensa pressão de moradores, o Executivo reduziu os valores e ampliou as isenções, mas manteve a intenção de cobrar a taxa a partir de 2026.


Campos do Jordão aprova taxa ambiental para entrada de veículos

Em São Paulo, a Câmara de Campos do Jordão aprovou, em segunda votação, a criação de uma taxa ambiental para veículos de outros municípios. A cobrança será diária e baseada na UFJ (Unidade Fiscal Jordanense).

O projeto aguarda sanção do prefeito Caê (Republicanos) e deve começar a valer no segundo semestre de 2026.

Valores previstos

  • Motos e similares: R$ 6,67
  • Automóveis: R$ 13,34
  • Caminhonetes: R$ 20,01
  • Vans: R$ 50,02
  • Micro-ônibus: R$ 100,05
  • Ônibus: R$ 166,75
  • Caminhões: a partir de R$ 40,02

Cidades vizinhas, como Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Paraisópolis e outras, estarão isentas. Também não pagarão a taxa pessoas com deficiência, proprietários de imóveis na cidade e trabalhadores que venham de municípios vizinhos.


Repercussões: especialistas, moradores e turistas se manifestam

Especialista critica a tendência de taxação

O economista especializado em políticas públicas e turismo sustentável, Dr. Henrique Vasques, avalia que as cidades estão adotando um modelo “apressado e mal calibrado”:

“A taxa ambiental não pode virar uma fonte de arrecadação disfarçada. Quando valores são definidos sem estudos minuciosos de impacto socioeconômico, o resultado é afastar turistas, reduzir a atividade comercial local e criar barreiras artificiais ao acesso ao patrimônio natural. Preservação não se faz com cobranças altas, mas com planejamento, fiscalização e investimentos contínuos. Do jeito que está sendo implementado em algumas cidades, cria-se mais um obstáculo do que uma solução.”


Morador elogia iniciativa de Búzios

O morador de Búzios Rogério Almeida, comerciante no Centro, acredita que a medida é positiva:

“A cidade fica superlotada no verão e a infraestrutura não aguenta. Se a taxa ajudar a manter a limpeza das praias, reforçar o transporte e melhorar o ordenamento, eu sou totalmente a favor. Quem usa mais os serviços tem que contribuir para manter a cidade funcionando.”


Turista critica proposta e teme encarecimento

Já a turista mineira Patrícia Oliveira, que visita Búzios há mais de dez anos, faz duras críticas:

“Eu amo Búzios e venho todo ano, mas está ficando caro demais. Taxa no hotel, taxa para carro, e agora mais essa cobrança. A sensação é que estão espantando o turista. Muita gente não vai conseguir pagar tudo isso e vai buscar outros destinos.”

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Rodrigo Da Matta é formado em Jornalismo, Radialismo e Marketing, com especialização em Comunicação Governamental e Marketing Político pelo IDP. Atualmente, é graduando em Publicidade e Propaganda, Ciências Políticas e Gestão Pública.
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