A mesma sensação de vulnerabilidade que assombra milhões de brasileiros nas ruas, nos transportes e até dentro de casa foi sentida por líderes mundiais em Belém. A COP30, conferência climática da ONU, escancarou a incapacidade do governo brasileiro de garantir segurança — nem para sua população, nem para um evento internacional de alto nível. Após protestos indígenas e falhas graves na proteção do perímetro, o país foi duramente cobrado pela ONU, que exigiu reforço imediato. O episódio expôs ao mundo o que o brasileiro já conhece bem: um Estado que falha em proteger.
Carta da ONU escancara falhas e exige providências
O alerta partiu do secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, que enviou uma carta ao governo brasileiro e ao comitê organizador da COP30. O documento denuncia a “falha das autoridades de segurança em se posicionar nos pontos de entrada, saída e locais vulneráveis ao redor da Zona Azul”. Também aponta portões que não trancavam, portas frágeis e número insuficiente de agentes, em descumprimento aos acordos firmados com a ONU.
Reação tardia: reforço militar e evacuação
Diante da pressão internacional, o governo federal e o estado do Pará correram para montar um novo esquema de segurança. Na manhã de sexta-feira (14), o Parque da Cidade amanheceu cercado por gradis, com reforço do Exército, Polícia Militar, Força Nacional e agentes do GSI. A entrada principal foi bloqueada e o acesso ao hangar, onde ocorrem as negociações, foi reconfigurado.
O primeiro teste do novo esquema veio com uma manifestação pacífica de indígenas Munduruku. Com faixas como “A nossa floresta não está à venda” e “Território indígena é sagrado”, o grupo protestava contra a falta de diálogo. A líder Alessandra Munduruku desabafou: “Estamos aqui há cinco dias tentando ser ouvidos. As negociações acontecem de portas fechadas, no ar-condicionado, e nunca querem nos ouvir”.
Tolerância e tensão
A tentativa de ocupação da Zona Azul por manifestantes na terça-feira (11) já havia acendido o alerta vermelho e motivado a carta da ONU. Desde então, o Brasil tenta conter os danos com ações emergenciais. Mas o estrago está feito: o episódio deixou marcas profundas na reputação da COP30 e escancarou a fragilidade do país — não apenas para sediar eventos de grande porte, mas também para garantir sua própria segurança institucional. Que dirá a segurança da população.
