Sexo depois dos 60: desejo não tem prazo de validade

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Corpos maduros também sentem, vivem e amam – e a sexualidade deve fazer parte do cuidado integral

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A sexualidade vai muito além do ato sexual

Recentemente, em meio aos atendimentos, um casal idoso me fez refletir profundamente sobre uma pergunta ainda comum: “Será que o sexo é só coisa de jovem?” A consulta seguiu com temas como convivência, empatia, respeito mútuo e escuta sensível. Mas a sexualidade na terceira idade continuou ecoando em mim como um assunto que ainda enfrenta muitos equívocos e silenciamentos.

A sexualidade vai muito além do ato sexual. Envolve afeto, toque, desejo, autoestima e reconhecimento da própria identidade. Por muito tempo, prazer e intimidade foram tratados como exclusividade da juventude, como se o envelhecimento apagasse o direito de sentir e se conectar afetivamente. Mas a verdade é simples e potente: o desejo não tem prazo de validade.

Sexualidade madura é mais livre e consciente

A sexualidade acompanha o ser humano ao longo da vida, ainda que se transforme com o tempo. Na maturidade, ela pode se tornar mais sensível, mais consciente e mais livre. Reconhecer, respeitar e valorizar essa dimensão é fundamental para um envelhecimento com qualidade de vida.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sexualidade é “um aspecto central do ser humano ao longo da vida, que abrange o sexo, as identidades e papéis de gênero, a orientação sexual, o erotismo, o prazer, a intimidade e a reprodução”. Ou seja, não se limita ao corpo jovem – e muito menos ao desempenho. O desejo, o afeto e o prazer continuam presentes, ainda que se expressem de formas diferentes.

Mudanças fisiológicas, hormonais e emocionais podem afetar como o corpo sente, responde e deseja. Mas isso não representa o fim da vida sexual – e, sim, uma nova forma de vivê-la. O vínculo afetivo, o toque, o carinho, os abraços e a intimidade ganham ainda mais valor. Muitos casais relatam melhora na qualidade da
relação, com mais cumplicidade e menos cobranças por desempenho.

O erotismo também envelhece – e se ressignifica

O foco deixa de estar exclusivamente no ato sexual e passa a incluir outras formas de prazer: beijos, massagens, contato pele a pele, conversas íntimas e troca de afeto. O erotismo permanece – apenas se expressa de maneira mais ampla e integrada ao contexto afetivo e à vivência da maturidade.

Diversos fatores influenciam a sexualidade na velhice. Entre os biológicos, destacam-se alterações hormonais (menopausa, andropausa), doenças crônicas (como diabetes e hipertensão), uso de medicamentos que afetam a libido e a resposta sexual, além de mudanças físicas, como ressecamento vaginal ou disfunção erétil. Questões reais, mas muitas vezes tratáveis, sobretudo com acolhimento profissional.

Há também fatores psicológicos (autoimagem, luto, depressão, solidão) e sociais ou culturais (tabus, normas de gênero, religiosidade, falta de privacidade em instituições ou casas com filhos e cuidadores). A sexualidade na velhice é, portanto, multidimensional – atravessada por corpo, mente e contexto social.

Falar sobre isso é promover dignidade

A formação médica ainda apresenta lacunas na abordagem da sexualidade do idoso, o que dificulta conversas abertas e acolhedoras. Mudar essa postura é urgente. Profissionais de saúde devem encorajar pacientes e famílias a tratar o tema como parte natural do cuidado integral. Afinal, a sexualidade, assim
como a dor ou a pressão arterial, deveria ser pauta nos consultórios.

Infelizmente, ainda é comum que médicos e cuidadores evitem o assunto – por despreparo ou por acreditarem que os mais velhos não se interessam mais por isso. Esse silêncio, no entanto, pode gerar sofrimento e até riscos à saúde, como infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), que vêm crescendo entre idosos, especialmente após viuvez, separações ou novos relacionamentos.

É fundamental incluir orientações sobre preservativos nas consultas, explicando que eles não servem apenas como método contraceptivo, mas também como proteção contra ISTs. Também vale indicar o uso de lubrificantes à base de água para prevenir desconfortos.

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Conclusão

Promover a saúde sexual na terceira idade é reconhecer que o desejo, o afeto e o prazer continuam vivos. Falar sobre sexualidade com naturalidade e respeito é cuidar do corpo, da autoestima, da identidade e dos vínculos afetivos. Profissionais de saúde têm papel fundamental ao acolher esse tema sem tabus, oferecendo escuta qualificada e orientações claras. Garantir esse espaço de diálogo é mais do que uma conduta clínica: é um compromisso com a dignidade, a segurança e a autonomia de quem continua vivendo – e redescobrindo o prazer – na longevidade.

Dra. Julianne Pessequillo
CRM 160.834 // RQE 71.895
Geriatria e Clínica Médica – Longevidade saudável





Com informações da fonte
https://jovempan.com.br/saude/sexo-depois-dos-60-desejo-nao-tem-prazo-de-validade.html

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