A Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, se transformou neste sábado (25) em um grande palco da criatividade e do empreendedorismo que nasce nas favelas. A terceira edição da Expo Favela Innovation Rio 2025 reuniu artistas, empreendedores, intelectuais e moradores de diversas comunidades do estado em um evento marcado por trocas, oportunidades e muita potência cultural.
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O evento, realizado pela Favela Holding com produção da InFavela e parceria social da Central Única das Favelas (Cufa), é um encontro de identidades, ancestralidades e futuros possíveis. Ivanir dos Santos, pedagogo, ativista e professor prestigiou o evento expondo seu livro “História Social da Intolerância Religiosa no Brasil” no espaço Favela Literária. Para ele, a literatura periférica é fundamental para a transformação social:
— A favela também produz literatura, a periferia produz literatura, e uma literatura a partir das experiências, das vivências do cotidiano desse povo. Todos nós sabemos que uma das formas de ascensão na sociedade é pela educação. E a educação, na verdade, abre o horizonte, abre possibilidade — disse.
No Teatro de Câmara, nomes da mídia e da cultura debateram temas como representação, identidade e resistência. A mesa “As Representações Sociais no Jornalismo” reuniu as jornalistas Silvana Ramiro, Luana Alves e Anna Beatriz Lourenço, com mediação de Gisela Pereira, discutindo o papel da imprensa e a importância da empatia no olhar sobre as favelas.
— Quando a gente perde a empatia, deixa de cumprir o propósito da profissão. É preciso sentir o que o outro sente — afirmou Silvana Ramiro, emocionando o público.
Já Anna Beatriz Lourenço destacou a relevância da representatividade:
— O jornalismo precisa refletir o Brasil real. Quando alguém me diz que se reconhece em mim, eu vejo que estamos no caminho certo.
Outra mesa de destaque reuniu Alinne Prado como mediadora, Ariana Pimentel, Don Felipe e Giovanna Pitel para debater o tema “Quando a vivência vira resistência”. Pitel falou da importância de eventos como esse para a valorização das comunidades negligenciadas.
— Esse espaço é de extrema importância para conscientização e reflexão sobre cultura periférica, empreendedorismo e potência das favelas. Vimos já tantas comunidades negligenciadas. Para mim, estar presente nesses eventos é consciência, é resgate de quem eu sou, é o que foi a minha vida, uma extensão de mim e do que eu acredito e que a gente tenha cada vez mais espaço — disse a assistente social.
Cultura negra e literatura
O espaço Favela Literária foi um dos pontos mais movimentados do evento, reunindo autores negros e periféricos que expuseram e venderam suas obras, promovendo saraus e rodas de conversa. Júlio Célis, historiador e escritor, apresentou seus livros “Lembranças do Meu Cariri” e “História da Comunicação Social nas Políticas das Cidades”. Para ele, participar da feira literária é uma oportunidade de mostrar a capacidade intelectual das favelas:
— A importância de estar aqui é que nós estamos podendo mostrar a nossa capacidade de escrever, a nossa capacidade de criar obras. É maravilhoso esse momento e esse espaço porque a gente tá podendo sair de dentro de um espaço às vezes muito restrito e trazer à sociedade.
Nadia Regina, pedagoga de 70 anos e especialista em cultura afro-brasileira, estava no espaço escolhendo livros para um projeto com crianças em Nova Iguaçu e Caxias. Nadia explica o objetivo do projeto:
— Nós queremos fazer as crianças voltarem a ler. Eu acho super importante que a nossa cultura afro-brasileira seja mostrada, conhecida em sua profundidade pelas nossas crianças, para que elas possam ter esse repertório, essa essência, essa ancestralidade.
Nadia Regina adquire livros no espaço Favela Literária para projeto social
EXTRA
Larissa Cristina, 28 anos, sapateira e mãe de duas crianças, levou os filhos para o evento. Cria de Santa Cruz, na Baixada Fluminense, ela enfatiza a importância de apresentar a cultura afro-brasileira para as novas gerações:
— Eu acho muito importante ter um evento sobre cultura e leitura, principalmente para as crianças. Eu senti falta disso na infância. Eu queria inserir isso na vida deles. É riqueza, é cultura. Eu acho interessante eles conhecerem de onde eles vêm, o que eles são.
Negócios e projetos sociais que mudam realidades
O empreendedorismo das favelas ganhou destaque em diversos espaços do evento. Priscila Ferreira, manicure de Oswaldo Cruz, participava pela primeira vez da ExpoFavelas. Com 15 anos de profissão, ela vê no evento uma oportunidade de crescimento.
— A manicure não é simplesmente uma manicure. Eu sempre falo isso. A gente vira manicure e a gente vira amiga, a gente vira psicóloga. Muitas vezes elas sentam na nossa mesa simplesmente para desabafar. O fazer unhas para mim é o referencial na minha vida. Comecei há muito e continuo nesse ramo. É uma oportunidade estar aqui como mulher negra e empreendedora.
A manicure Priscila Ferreira expõe seu trabalho pela primeira vez no evento
EXTRA
O Espaço Cultural Fazendo Arte, do Turano, na Zona Norte do Rio, foi um dos projetos sociais expostos no evento. Fundado por Evandro Machado, o projeto atende crianças e jovens em situação de risco social com oficinas gratuitas de robótica, teatro, cinema, dança e capoeira. Além das atividades culturais, o projeto também distribui alimentos para famílias necessitadas. Evandro explica a missão do trabalho.
— O Espaço Cultural Fazendo Arte é um projeto social que fica na comunidade do Turano. A nossa finalidade é fazer com que as crianças tenham a questão de um futuro. A favela tem voz, a favela tem vez. A favela não é só margem. Tem muita gente boa, tem muita gente de qualidade, tem muita gente que quer uma transformação social de verdade.
Favela é potência, inovação e futuro
O Espaço Moda também exaltou a inventividade e o estilo das favelas com o tema “Moda, Sustentabilidade e Criatividade”. Já o Ritmo Favela levou ao palco shows de MCs, grupos de samba e escolas de samba, encerrando o dia com uma apresentação da Beija-Flor de Nilópolis.
No espaço de capoeira, a artista plástica e estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) MariLane Oliveira celebrou a importância do evento:
— A capoeira me ajudou a me reconhecer e me fortalecer. A Expo Favela é um espaço de visibilidade e troca, que precisa alcançar mais pessoas da Baixada e das periferias — declarou a capoeirista.
Com espaços de tecnologia, audiovisual, moda e literatura, a Expo Favela Innovation Rio 2025 reafirma que as comunidades são celeiros de ideias, negócios e expressões culturais. O evento continua neste domingo (26), na Cidade das Artes, com mais palestras, oficinas e apresentações.
Com informações da fonte
https://extra.globo.com/extra-favelas/noticia/2025/10/expofavelas-rio-innovation-cultura-empreendedorismo-e-resistencia-tomam-a-cidade-das-artes.ghtml
ExpoFavelas Rio Innovation: Cultura, empreendedorismo e resistência tomam a Cidade das Artes
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