As novas estratégias para lavagem de dinheiro do crime pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) vão desde exploração de postos de combustíveis até lojas de brinquedo, passando por motéis, fintechs e lojas de rede de perfumaria. É o que revelam as mais recentes operações policiais que miram a operação financeira do crime organizado.
Nessa quarta-feira, o Ministério Público de São Paulo, a Polícia Civil e a Secretaria da Fazenda deflagraram a Operação Plush, que investiga a viúva e a cunhada de Cláudio Marcos de Almeida, o “Django”, ex-chefe da facção assassinado em 2022. As duas, Natália Stefani Vitória e Priscila Carolina Vitória Rodrigues, são suspeitas de abrir lojas de brinquedos em shoppings da capital, Guarulhos e Santo André para ocultar recursos provenientes do tráfico e de outras atividades ilícitas do grupo.
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De acordo com o MP, as irmãs investiram milhões de reais em quatro lojas da rede Criamigos Oficinas de Ursos, embora não tivessem ocupação lícita declarada. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 4,3 milhões em bens das investigadas. O nome da operação, Plush, que significa “pelúcia” em inglês, foi escolhido em alusão ao ramo de atividade usado para mascarar o dinheiro do crime.
Django, morto em circunstâncias violentas há três anos, era apontado como um dos principais articuladores do comércio de drogas e armas da facção. Ele já havia aparecido nas investigações da Operação Fim da Linha, que mirou a empresa de ônibus UPBus, suspeita de servir à lavagem de recursos do grupo criminoso.
A Operação Plush se soma a uma sequência de ações recentes que vêm revelando o raio de alcance do PCC dentro da economia formal, envolvendo motéis, franquias de beleza e fintechs da Faria Lima, além de redes de postos de combustíveis em dez estados.
Em agosto, a megaoperação Carbono Oculto desvendou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e fraudes tributárias no setor de combustíveis. Segundo o Ministério Público de São Paulo, a facção chegou a controlar cerca de 1.560 postos e 40 fundos de investimento, com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões. O grupo utilizava fintechs e instituições de pagamento, como a BK Bank e a Bankrow, para movimentar e ocultar valores de origem ilícita, usando o mecanismo das chamadas “contas-bolsão”, em que o dinheiro de vários clientes é misturado em uma única conta, dificultando o rastreamento.
As investigações apontam que, entre 2020 e 2024, os postos ligados ao PCC movimentaram R$ 52 bilhões. O dinheiro era reinvestido em fazendas, usinas, imóveis de luxo e frotas de caminhões. Entre os bens apreendidos estavam uma mansão de R$ 13 milhões em Trancoso (BA), 1.600 caminhões, quatro usinas de álcool e um terminal portuário.
O caso escancarou o uso de fintechs como “bancos paralelos”, que operavam à margem da regulação do Banco Central. Parte dessas instituições não era obrigada a reportar movimentações suspeitas ao Coaf, o que facilitava a ação do crime organizado.
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Um mês depois, em setembro, o Gaeco e a Receita Federal voltaram à carga com a Operação Spare, um desdobramento da Carbono Oculto. A investigação revelou que o PCC diversificou as frentes de lavagem: além dos combustíveis, usava franquias de beleza, motéis e empreendimentos imobiliários para dar aparência legal aos lucros ilícitos.
O principal alvo era Flávio Silvério Siqueira, o “Flavinho”, suspeito de chefiar uma rede de 400 postos e 60 motéis. Só entre 2020 e 2024, o grupo teria movimentado R$ 4,5 bilhões, pagando apenas 0,1% em impostos. Outra figura central era Maurício Soares de Oliveira, dono de quase 100 lojas da rede O Boticário, que não tem relação com o esquema. Suas franquias operavam com 100% dos depósitos em espécie, um clássico indício de lavagem.
As investigações também identificaram empresas de fachada e laranjas usados para movimentar os recursos, além da participação da fintech BK Bank, a mesma já citada na Carbono Oculto. Parte do dinheiro também era escoado por casas de jogos clandestinos no litoral paulista.
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Os promotores apontam conexões diretas entre empresários e lideranças do PCC. Nomes de alto escalão da facção, como Wagner Ferreira da Silva, o “Cabelo Duro”, José Carlos Gonçalves, “o Alemão” e Rafael Maeda Pires, “o Japonês”, assassinados em anos anteriores, eram frequentadores das residências de alvos da operação.
Poucos dias depois da Spare, a Polícia Civil da Bahia deflagrou uma operação que revelou outra ramificação do mesmo esquema, com lavagem de até R$ 6 bilhões por meio de 200 postos de combustíveis espalhados entre Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Sete pessoas foram presas, e R$ 6,5 bilhões em bens foram bloqueados.
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Essa estrutura varejista foi novamente alvo de uma nova fase da investigação, batizada de Operação Octanagem, deflagrada em São Paulo na terça-feira (21). A ação mirou postos ligados ao empresário Mohamad Hussein Mourad, suspeito de ser um dos operadores financeiros do grupo. Em um dos estabelecimentos, os policiais encontraram fraudes nas bombas e combustível adulterado.