Mais de 500 famílias foram prejudicadas após o abandono das obras do Jardim Imperial II, empreendimento da MP Construtora, localizado na Mangueira, em São Gonçalo. O que seria o sonho da casa própria se transformou em incerteza. O canteiro foi desativado e todo o material de construção retirado do local.
Os compradores afirmam não receber respostas da construtora — que promete soluções, mas não cumpre — nem da Caixa Econômica Federal, responsável pelo seguro habitacional.
Crise também em Niterói
A preocupação se estende a Niterói, onde a MP Construtora continua lançando novos projetos, mesmo enfrentando crise financeira, demissões em massa e dívidas milionárias.
No Exclusive Noronha, localizado na Rua Noronha Torrezão, em Santa Rosa, os futuros moradores denunciam atrasos sucessivos e a falta de informações concretas. Pelo contrato, a entrega estava prevista para 14 de março de 2025, com prazo adicional legal de até 180 dias. No entanto, os clientes foram surpreendidos com uma nova previsão: abril de 2026.
Denunciantes relataram ao Enfoco que a construtora pretende solicitar mais seis meses de prorrogação, o que deixaria os compradores sem qualquer perspectiva de mudança.
Depoimentos de compradores
Uma moradora, que pediu anonimato, diz que, apesar de ter quitado o imóvel, continua pagando aluguel em outro local, além da taxa de obra, cobrada mesmo com o atraso.
“O prazo já venceu, e tanto a construtora quanto a Caixa continuam cobrando. Reclamei na Ouvidoria, mas nada mudou”, contou.
Essa taxa é outro ponto de conflito. Segundo os compradores, os valores são calculados sobre o preço do imóvel, mas sem transparência sobre a aplicação dos recursos.
“Não temos acesso a relatórios ou extratos que mostrem para onde o dinheiro está indo”, disse outra cliente.
Um segundo comprador relatou ter pago mais da metade do valor do imóvel e que o restante seria financiado pela Caixa.
“O contrato prevê prorrogação apenas em casos de força maior. Aqui o problema é má gestão. Eles devem a funcionários, empreiteiros e fornecedores. Meu prejuízo é emocional, estou até em tratamento por depressão”, afirmou.
Reclamações ao Ministério Público
Os clientes já acionaram o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Caixa Econômica Federal, mas dizem que as respostas foram insuficientes. A primeira denúncia, feita em janeiro deste ano, foi arquivada sob o argumento de que o prazo contratual ainda não havia sido ultrapassado.
Agora, o grupo prepara um novo procedimento administrativo, com apoio de um advogado coletivo.
“Compramos o apartamento pensando na proximidade com a UFF, onde minha filha estuda. Hoje seguimos em São Gonçalo, sem previsão de mudança”, lamentou outro comprador.
Insegurança e medo
A incerteza cresce entre os clientes, que temem que o empreendimento não seja concluído.
“A Caixa tem seguro, mas isso pode demorar. A gente vive com medo do que pode acontecer”, afirmou uma moradora.
Segundo comunicado recente enviado pela construtora, a empresa vem reduzindo custos e demitindo funcionários, o que aumenta a apreensão dos compradores.
O QUE DIZ A MP CONSTRUTORA
Em nota, a MP Construtora e Incorporadora afirmou “reforçar seu compromisso com a transparência e o respeito aos clientes”. A empresa reconhece enfrentar um “cenário desafiador”, semelhante ao de outras construtoras, em razão do contexto econômico nacional.
Mesmo assim, garante que mantém o “compromisso com o cumprimento das cláusulas contratuais, atuando com responsabilidade em todas as etapas dos empreendimentos”.
A MP informa ainda que as dúvidas dos clientes são tratadas individualmente ou pela Comissão de Patrimônio de Afetação, com reuniões e visitas trimestrais.
Os registros dessas reuniões, segundo a empresa, ficam disponíveis no portal do cliente, e os canais oficiais seguem abertos para esclarecimentos.