A menos de um mês do início da COP30, o evento que deveria ser símbolo do compromisso global com o meio ambiente se transforma em um vexame internacional. Com apenas 87 países confirmados com hospedagem em Belém, a conferência não atinge o quórum mínimo exigido pela ONU para ocorrer — e está longe dos dois terços necessários para validar decisões oficiais.
Quórum em colapso
Apesar de o presidente da COP ter anunciado que 162 países estavam credenciados durante a pré-COP em Brasília, a realidade é bem menos otimista. A organização confirmou que apenas 87 delegações garantiram hospedagem, critério essencial para validar a presença. Sem isso, o evento corre o risco de se tornar apenas um encontro simbólico, sem poder deliberativo.
Hospedagem extorsiva e infraestrutura precária
A crise de hospedagem é o epicentro do colapso. Belém, escolhida para representar a Amazônia, não possui estrutura hoteleira suficiente e enfrenta denúncias de preços abusivos. Diárias chegam a US$ 700, valor considerado “extorsivo” pela própria presidência da COP. A situação gerou revolta entre países participantes, que chegaram a pedir à ONU a mudança da sede da conferência.
Para contornar o caos, o governo brasileiro lançou uma plataforma de hospedagem alternativa, baseada em casas de moradores locais. Mais de 60% dos 53 mil leitos disponíveis estão em imóveis particulares, incluindo residências via Airbnb e imobiliárias. A solução improvisada foi elogiada pelo presidente Lula, mas não convenceu parte das delegações, que apontam falta de condições mínimas de segurança e conforto.
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Escândalos e denúncias
Além do colapso logístico com hospedagens, a COP30 está mergulhada em uma série de denúncias que envolvem fraude em licitações, superfaturamento e suspeitas de corrupção nos contratos ligados à organização do evento. Diversos processos de contratação — desde serviços de infraestrutura até fornecimento de equipamentos — estão sob investigação por órgãos de controle, como o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União.
As suspeitas incluem dispensas de licitação sem justificativa adequada, contratos com empresas recém-criadas e sem histórico de atuação no setor, além de valores que ultrapassam em até 300% o preço de mercado. Há também relatos de favorecimento político na escolha de fornecedores e de irregularidades na execução de obras emergenciais em Belém, como reformas em vias públicas e instalações temporárias para delegações.
Má repercussão internacional
Esses escândalos, ainda em fase de apuração, já provocam repercussão internacional. Delegações estrangeiras têm manifestado preocupação com a transparência e a governança do evento, e diplomatas de ao menos cinco países solicitaram esclarecimentos formais ao governo brasileiro. A situação coloca em xeque a imagem do Brasil como anfitrião da maior conferência climática do planeta — justamente em um momento em que o país busca se reposicionar como liderança ambiental global.
A COP30, que deveria ser um marco de compromisso com a sustentabilidade, corre o risco de ser lembrada como um exemplo de desorganização, improviso e escândalos administrativos.
ONU em alerta
Mais de 20 países já reportaram à ONU suas dificuldades com a infraestrutura de Belém, incluindo falta de saneamento básico em áreas fora do chamado “Polígono COP30”. A organização internacional acompanha de perto a situação e pode intervir caso o quórum mínimo não seja atingido até o início da conferência.
A COP30, que deveria ser um marco histórico na luta contra as mudanças climáticas, corre o risco de entrar para a história como um desastre diplomático e logístico. Com o tempo se esgotando, o Brasil enfrenta o desafio de salvar sua imagem internacional — e a própria conferência.
