A maior crise sanitária envolvendo bebidas alcoólicas desde o caso da cervejaria em Belo Horizonte em 2020 reacendeu o alerta nacional: o que está no copo pode matar. Com mais de 110 casos suspeitos de intoxicação por metanol e ao menos 11 mortes em investigação, o Brasil vive uma onda de medo que mobilizou o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, governos estaduais e até levantou suspeitas de envolvimento do crime organizado — em especial, do Primeiro Comando da Capital (PCC).
- Afinal, beber ou não beber?
- O dilema do consumidor
Devido à gravidade da situação, a Câmara dos Deputados aprovou urgência para o projeto que classifica como crime hediondo a adição, em alimentos, de ingredientes que possam causar risco à vida ou grave ameaça à saúde dos cidadãos (PL 2307/07), do então deputdo Otavo Leite (PSDB-RJ). A urgência permite que o texto seja votado diretamente pelo Plenário, sem necessidade de passar pelas comissões da Câmara.
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) suspeita que o álcool tóxico encontrado em bebidas adulteradas pode ter sido desviado de estoques ilegais mantidos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo a entidade, o fechamento recente de distribuidoras de combustíveis ligadas à facção pode ter levado à revenda clandestina do metanol para destilarias falsificadoras.
Embora nada indique haver risco de proporções epidêmicas, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal anunciaram a abertura de um inquérito para investigar a escalada de casos e a possibilidade de a distribuição de bebidas contaminadas ter chegado a outros estados.
A crise começou com internações em São Paulo e rapidamente se espalhou por Pernambuco, Distrito Federal, Paraná e Bahia. A substância tóxica, usada indevidamente para adulterar bebidas destiladas, é inodora, incolor e pode causar cegueira ou morte com apenas 10 ml. Uma das hipóteses é que o metanol tenha sido usado na higienização de garrafas ou diretamente para “batizar” bebidas em destilarias clandestinas.
Diante do pânico, bares viram o faturamento despencar em até 50%. A população, antes habituada ao lazer com drinques, agora se pergunta: é seguro beber?
Especialistas são unânimes: evite o consumo de bebidas alcoólicas, especialmente destilados incolores. “Não existe hoje uma garrafa que possa ser considerada totalmente confiável”, alerta a infectologista Paula Tuma, do Hospital Albert Einstein. Luiz Fernando Penna, do Sírio-Libanês, reforça: “A recomendação forte é: não consuma bebida alcoólica. Não sabemos o que foi adulterado”.
Afinal, beber ou não beber?
– Evite destilados: vodca, gim e uísque são os mais vulneráveis à adulteração com metanol.
– Cerveja e vinho têm menor risco, especialmente em lata, por serem mais difíceis de adulterar.
– Verifique a procedência: rótulo, registro e origem são essenciais. Grandes marcas têm processos mais seguros.
– Nenhuma bebida é 100% segura neste momento, segundo consenso médico e oficial.
– Fermentados: risco menor, mas não inexistente
O dilema do consumidor
Com bares em queda de movimento e consumidores em alerta, a pergunta ecoa nos balcões e redes sociais: beber ou não beber? A resposta, por ora, é clara: se não há garantia da procedência, o melhor é não consumir.